O secretário-geral do PCP acusou nesta terça-feira o chefe do Governo português de “arrogância” e “desdém” pela opção dos gregos nas recentes eleições legislativas, mostrou-se confiante de que Portugal fará “diferente” e excluiu quaisquer compromissos com partidos à direita.

“Fica mal essa arrogância e desdém pela opção de um povo. O que o primeiro-ministro poderia e deveria fazer era respeitar essa vontade, essa mudança, independentemente de estar em acordo ou desacordo. Agora, tratar assim, não se faz porque, um dia, a graça pode cair-lhe em cima”, afirmou Jerónimo de Sousa, à margem de um encontro com bombeiros, no Seixal.

Na véspera, Passos Coelho considerou que o programa do vencedor do sufrágio helénico de domingo, a coligação de Esquerda (Syriza), é dificilmente conciliável com as regras europeias, desejando que o novo governo liderado por Alexis Tsipras possa manter-se na zona euro e na União Europeia.

O presidente do PSD apelidou mesmo de “conto de crianças” a ideia de que “é possível que um país, por exemplo, não queira assumir os seus compromissos, não pagar as suas dívidas, querer aumentar os salários, baixar os impostos e ainda ter a obrigação de, nos seus parceiros, garantir o financiamento sem contrapartidas”.

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“Isto não é mimético. Cada povo é um povo, cada país um país, com a sua cultura e a sua história. Em Portugal, faremos com certeza diferente da Grécia”, previu o líder comunista sobre o futuro político nacional. Questionado sobre uma hipotética necessidade de o PCP se aliar a outro partido no espetro ideológico oposto, como sucedeu na Grécia entre o Syriza e os Gregos Independentes, Jerónimo de Sousa, recusou tal cenário.

“Nós temos uma proposta para o povo português, que é uma política patriótica e de esquerda para a qual possam convergir organizações, movimentos de massas, muitos democratas e patriotas preocupados com o país, forças políticas que se identificam com a procura de uma rutura e uma mudança. Nesse sentido, creio que o CDS não está nem numa de esquerda, nem de rutura e mudança necessárias ao país”, referiu.

Para o secretário-geral do PCP, “o relevante do processo da Grécia foi a vontade de um povo de rejeitar e derrotar a política de austeridade e de sacrifícios a que foi submetido e de penalização dos executores dessa política e também dos mandantes da União Europeia”.

“Entendimentos e acordos não são um problema em si. A sua natureza e conteúdos é que determinam e ainda não são conhecidos”, acrescentou, desvalorizando as “caraterizações” de ‘extrema esquerda’ e de ‘extrema direita’ que têm sido adotadas para descrever as duas forças políticas agora no poder na Grécia.