As ações do BPI estão a cair de forma acentuada pela terceira sessão consecutiva e negociaram esta quinta-feira a 80 cêntimos por ação, o valor mais baixo desde 3 de julho de 2013, uma “sessão negra” na bolsa de Lisboa gerada pela crise política de julho de 2013. A forte pressão sobre as ações do banco surge no dia em que o banco apresenta resultados anuais – que, segundo o CaixaBI, serão um prejuízo de 83 milhões de euros –. O que estará a tirar o sono a Fernando Ulrich, o presidente do banco, continua a ser a decisão do BCE sobre a exposição a Angola, penalizadora para o BCP mas sobretudo para o BPI. Desde meados de dezembro, quando a decisão foi conhecida, o BPI perdeu mais de um terço do valor bolsista.

Novas regras de regulação na zona euro tornaram, a partir de 2015, mais penalizadora para o BPI a exposição ao Estado angolano através da dívida pública que está no Banco Fomento Angola (BFA), onde o BPI é acionista maioritário com 50,1%. Na prática, o Banco Central Europeu (BCE) deixou de atribuir equivalência na regulação e supervisão ao banco central angolano, o Banco Nacional de Angola (BNA), o que impossibilita que o BPI continue a contabilizar essa exposição como tem feito a fazer, no que diz respeito aos rácios de capital.

Os rácios de capital eram de 12,5% (rácio core Tier 1) em setembro mas podem cair para 10,7%, quando considerados os rácios que já incorporam parcialmente as novas exigências da Basileia III, que só entram em vigor na íntegra em 2019. Simulando já o impacto pleno dessas novas regras, o rácio desce de 9,8% para 8,9% devido a esta dor de cabeça relacionada com Angola. São rácios de capital bem acima dos mínimos europeus mas que, ainda assim, podem levar a que o BPI tome medidas para reforçar a solidez do capital face aos ativos e ao risco assumido pelo banco. A descida das ações nas últimas semanas pode ser um sinal de que os investidores receiam que o BPI tenha de fazer um aumento de capital ou, em alternativa, que tenha de reduzir drasticamente a exposição a Angola, que tem sido uma fonte importante de rentabilidade para o BPI.

Este foi um grande revés para o BPI, que meras semanas depois de um bom resultado nos testes de stress à banca europeia, ficou a saber que além de esta decisão penalizar os rácios de capital do banco, as regras colocam, também, o banco com uma exposição aos chamados “grandes riscos” que excede em mais de três mil milhões de euros o limite máximo imposto pelas novas regras. Fala-se, aqui, também, da exposição à dívida pública de Angola e não se sabe, ainda, como o BPI, a quem foi dado um prazo por Frankfurt, irá resolver este problema. O BCP também é, em menor medida, afetado por esta questão, mas não está obrigado a reduzir ou diluir a exposição.

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Será, certamente, uma das questões colocadas a Fernando Ulrich na conferência de imprensa de apresentação dos resultados anuais, que o Observador acompanhará em direto. “A incerteza relacionada com o potencial impacto da não equivalência em termos de regulamentação e supervisão entre a UE e Angola, deverá continuar a condicionar a performance das ações do BPI”, escreve o analista André Rodrigues, do CaixaBI, em nota de antecipação dos resultados. Para já, esta questão estará a contribuir decisivamente para que as ações do banco estejam a perder mais de um terço do seu valor desde meados de dezembro.

Decisão europeia sobre Angola pressiona cotação do BPI

BPI PL Equity (Banco BPI SA)  Da 2015-01-29 09-44-14

As ações do BPI perdem 34,6% desde 15 de dezembro, altura em que foi conhecida a alteração das regras europeias, penalizadora para o banco. Fonte: Bloomberg

O mesmo analista prevê que o BPI tenha fechado o exercício de 2014 com um prejuízo de 83,1 milhões de euros, o que compara com o lucro de 66,8 milhões registado no anterior. “Não esperamos mudanças substanciais nas principais tendências dos resultados do banco face ao trimestre anterior (o qual ficou marcado pelo custo de 26,1 milhões de euros relativo a reformas antecipadas), salientando-se a dinâmica positiva que a margem financeira deverá continuar a apresentar em Portugal”, escreveu André Rodrigues, analista que aponta para um lucro de 31,2 milhões de euros no último trimestre do ano.

A incerteza em torno de Angola foi um dos fatores que levou o BBVA a cortar para quase metade o preço-alvo das ações do BPI, para 0,75 euros, abaixo da cotação atual. Além da questão angolana, o BBVA salientou também os desafios operacionais enfrentadas pelo BPI e por todos os bancos nacionais e também a incerteza em torno do Novo Banco, com o BPI entre as instituições que manifestou interesse numa possível aquisição do banco que resultou da resolução do Banco Espírito Santo (BES).