Milhares de pessoas juntaram-se à “Marcha da Mudança”, organizada pelo partido Podemos, em Madrid, com frases como “Rajoy escuta, Espanha está em luta”. A emblemática praça Puertas del Sol, onde terminou a caminhada, ficou cheia. E, perante os manifestantes, o líder do Podemos, Pablo Iglésias, declarou que “hoje é o primeiro dia de um ano de mudança” na política de Espanha.

Num discurso na Porta do Sol, um local emblemático do movimento de cidadãos 15 de maio (que esteve na origem da criação do Podemos), Pablo Iglesias insistiu várias vezes na frase “Sonhamos, mas levamos muito a sério os nossos sonhos” para dizer qual é a visão do seu partido para Espanha.

“Sim, podemos. Democracia é mudar o que não funciona. Não estamos aqui para protestar. […] Sonhamos com um país ao qual possam voltar os que saíram, um país sem salários de miséria”, disse Iglesias, recordando que “são muitos os espanhóis que têm de viver com um salário abaixo de mil euros”.

Perante dezenas de milhares de apoiantes, Iglesias afirmou que sonha com uma Espanha que aposte na Indústria, na economia verde, que incentive as renováveis, que acabe com os monopólios e que opere uma mudança nas leis laborais para impedir os salários baixos e as facilidades no despedimento.

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“Sonhamos, mas levamos os nossos sonhos muito a sério. Sonho com mudança na forma como fazemos as contas públicas, com uma reestruturação da dívida”, afirmou, enquanto quem ouvia gritava o seu nome, Pablo, ou as palavras de ordem “Sim, Podemos”.

Pablo Iglesias também elogiou o novo governo grego, de Alexis Tsipras, que “fez mais em seis dias do que outros em seis anos”.

“Suspendeu as privatizações dos portos e dos aeroportos, voltou a integrar os despedidos, elogiou os heróis da resistência na luta contra os alemães. […] Quem é que dizia que não se pode? Quem dizia que um governo não pode mudar as coisas?”, perguntou o secretário-geral do Podemos, acrescentando que e Atenas “agora está um governo sério e trabalhador”.

Ainda assim, Iglesias reiterou que a vitória do Syriza na Grécia não significa por si só uma vitória do Podemos em Espanha.

“Ninguém fez o trabalho de casa do Syriza por eles e ninguém o fará por nós. Os espanhóis é que têm de ser os protagonistas do nosso sonho”, salientou.

E deixou um aviso ao presidente do Governo, Mariano Rajoy, a quem acusou de “não criar emprego, mas sim repartir a miséria”.

“2015 é o ano da mudança e vamos ganhar as eleições” gerais que se disputarão no Outono, realçou Iglesias.

Antes do discurso final, o número dois do Podemos, Iñigo Errejón, recordou que a “Marcha da Mudança” começou na Praça de Cibeles, mas vai acabar na Moncloa (sede do Governo).

“Somos muitos, mas falta aqui muita gente. Não interessa de onde vens, se eras do PP, do PSOE ou se estavas resignado em casa. O que importa é que estás aqui […]. Juntos vamos correr com a Mafia das nossas instituições e colocar à frente delas pessoas de bem, o povo”, disse o responsável do Podemos.

A “Marcha da Mudança” foi convocada pelo partido Podemos, que no domingo, depois da vitória do Syriza na Grécia, garantiu que neste dia, 31 de janeiro, começaria a contagem decrescente para que o atual Governo de Espanha, formado pelo PP, saísse do poder.

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As pessoas concentraram-se na praça Cibeles e desceram até às Puertas del Sol. Nos cartazes que ostentam, uma das frases mais comuns que se podem ler é “Crer é Poder, Podemos”. Segundo o jornal espanhol El Confidencial, há também membros do PSOE no grupo.

Angel, um cidadão de Alicante, de 37 anos, juntou-se à manifestação do Podemos com a família, porque acredita que Espanha precisa de mudar, que as políticas do Governo de Mariano Rajoy estão comprovadamente erradas.

Quanto às ideias de Pablo Iglesias e do Podemos, sabe pouco: “Principalmente acredito que é preciso uma limpeza da classe política em Espanha. É isso que o Iglesias diz e eu acredito nisso.”

Presente na manifestação esteve também a deputada do Bloco de Esquerda Catarina Martins, que disse aos jornalistas que as eleições gregas abriram uma nova página na Europa.

“Nada ficará na mesma depois da Grécia. Pela primeira vez a Europa elegeu um Governo contra a austeridade”, afirmou a deputada.

O aparato policial na manifestação não é muito intenso, mas há polícias em frente aos principais edifícios ligados ao poder local, como a Câmara Municipal de Madrid, bem como um helicóptero a sobrevoar em permanência o espaço da manifestação, que decorre com tranquilidade.

Juntaram-se à marcha pessoas vindas de todos os lados de Espanha. O Podemos conseguiu reunir 260 autocarros, com 40 lugares cada um.