A deputada socialista Isabel Moreira não gostou de ver Ana Gomes usar os erros na transcrição das escutas a Paulo Portas para pedir a reabertura do processo dos submarinos. “É um horror o estado a que chegam alguns. Derrotem as pessoas pelas políticas desastrosas que praticam. Por favor, não entrem no justicialismo barato e vingativo”, escreveu Isabel Moreira no Facebook, numa publicação intitulada “E agora, Ana Gomes?”.

Em causa está a notícia revelada no sábado pelo Expresso relativa aos erros na transcrição das escutas da conversa entre Portas e Abel Pinheiro. Os mesmos que serviram de fundamento para Ana Gomes pedir a reabertura do processo Portucale.

Ora, no pedido de reabertura do processo, a eurodeputada sugeria que as expressões “aquilo” e “Canalis”, transcritas pelos investigadores depois de ouvirem uma conversa telefónica onde o então ministro da Defesa contava os detalhes de uma viagem que tinha feito a Alemanha ao dirigente do CDS, podiam “muito bem tratar-se de má transcrição e significar uma visita a Michel Canals, um dos sócios fundadores da Akoya Investments, especialista em organizar a fuga ao fisco e o branqueamento de capitais”.

Mas a leitura de Ana Gomes poderá não ter sido a mais correta, como provou o Expresso depois de ouvir as escutas de Portas. Afinal, “Canalis” não se referia a “Canals”, como sugeria Ana Gomes, mas sim a “canal”. E “aquilo” era, na verdade, “Kiel” – “Canal de Kiel”. O puzzle fica assim completo: é que a 6 de abril, Paulo Portas visitou os estaleiros da HDW, em Kiel, norte da Alemanha, onde estava a ser construído o primeiro dos dois submarinos comprados aos alemães.

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As últimas revelações levaram Isabel Moreira a repudiar o uso de escutas telefónicas e a criticar a posição assumida por Ana Gomes.

Isto das escutas é nojo, sabe? Imagine um dia ser confrontado com anos e anos de escutas. E Portas é um de vários. Nada é destruído. Esta coisa bela do 25 de abril de falarmos de política à vontade morreu. Falamos ao telefone, fazemos as nossas estratégias, e de repente descobrimos que é como na PIDE. Anos de escutas num caixote. Já nem falo da vida privada ali pelo meio como se fosse normal. Falo de política. No fascismo era perigoso falar de política. E agora?”, questionou Isabel Moreira.

Na página de Facebook foram alguns os utilizadores que levantaram dúvidas sobre a posição adotada pela socialista. Seria pró-Portas e anti-Gomes? Isabel Moreira negou que se tratasse de um ataque pessoal à eurodeputada ou uma defesa de Paulo Portas. Era antes uma crítica ao uso da justiça como arma de arremesso político. “Eu quero derrotar Passos e Portas. Mas politicamente. Nas urnas. Não assim”, escreveu.

“É-me indiferente ser Paulo Portas, Passos, Costa, Catarina Martins, Jerónimo de Sousa… É o princípio insuportável de tentar deitar abaixo um adversário à conta do sentimento geral de que todos os políticos são uns malandros. É o princípio insuportável de carregar ódios pessoais para a justiça, usando-a, desta forma, como se vê, com escutas patéticas que por mim, além de mal transcritas já deviam estar destruídas”, justificou a deputada.

Houve mesmo quem acusasse Isabel Moreira de estar a fazer “bullying à Ana Gomes”, o que fez subir o tom das críticas de Isabel Moreira à eurodeputada. “Bullying à Ana Gomes? A uma mulher que fala sempre dentro do perímetro do parlamento europeu onde tem imunidade parlamentar e pode caluniar sem consequências? A uma mulher com o maior domínio da imprensa que já conheci? A uma mulher que por mais arquivamentos que se veja expressa o seu ódio pessoal e faz-se valer de tudo, como o expresso hoje revela… Por favor…”.

Do outro lado da barricada, o silêncio. Pelo menos em relação às críticas de Isabel Moreira. Sobre a notícia revelada pelo Expresso e depois pela SIC Notícias, de que afinal os erros de transcrição das escutas não teriam a interpretação que a eurodeputada lhes deu, Ana Gomes preferiu desvalorizar: “Enternecedores Expresso e SIC Noticias prestam-se a reduzir razões por que pedi abertura da instrução [ao caso dos] submarinos, ao que constará de escutas!”.