Depois de quase três semanas intensas, com viagens pela Europa, contradições e mais recentemente um extremar de posições dos dois lados da barricada, Yanis Varoufakis chega ao seu primeiro Eurogrupo. Na bagagem traz o plano da Grécia para mostrar aos parceiros europeus e a sua proposta para a dívida grega. Do outro lado, a expetativa é muita para perceber o que quer a Grécia.

Mas, na sala dos ministros das Finanças, há muito mais do que Varoufakis e Schäuble, responsável pelas Finanças germânicas. Presentes estão todos os ministros das Finanças da zona euro, mais o presidente do BCE, Mario Draghi, a diretora-geral do FMI, Christine Lagarde e o comissário europeu para os assuntos económicos, Pierre Moscovici.

Para se perceber um pouco o que pode estar a ouvir Varoufakis na sala de reuniões do Eurogrupo em Bruxelas, aqui ficam algumas das posições mais recentes de todos os países do euro em relação à crise grega:

Alemanha

Tem sido o mais duro de todos os ministros. Encontrou-se com Varoufakis em Berlim, e no final disse que apenas tinham acordado em discordar. Um dia antes do Eurogrupo dizia que sem programa “estava tudo acabado” para a Grécia e recusa uma extensão por seis meses, como se falou da Comissão Europeia, e todas as propostas da Grécia de trocar dívida aos países do euro por obrigações indexadas ao crescimento, a troca da divida ao BCE por obrigações perpétuas e um empréstimo de curto prazo.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Por sua vez, Angela Merkel já disse várias vezes que um perdão, ainda que parcial, da dívida grega está completamente fora de questão.

França

Michel Sapin tem sido mais comedido. Se por um lado diz que a União Europeia tem de respeita os resultados das eleições que deram a vitória ao Syriza e ao seu programa anti austeridade, também diz que a Grécia tem de cumprir as regras e os compromissos com a Europa.

Bélgica

Johan Van Overtveldt, ministro das Finanças, disse ao Parlamento belga que a Grécia tem de cumprir as regras e os compromissos com a União Europeia. A 25 de janeiro, já tinha dito que estava disposto a ouvir as propostas gregas e até que “uma reestruturação de dívida pode ser discutida”.

Irlanda

Para a Grécia ter um empréstimo transitório tem de ter um programa. Esta é a posição do ministro das Finanças Michael Noonan, que tem endurecido a sua posição em relação aos gregos. Esta terça-feira, citado pelo Irish Times, dizia que que muitas das propostas apresentadas são “tecnicamente impossíveis”, e que têm sido ditas coisas diferentes em cidades diferentes por Tsipras e Varoufakis.

O primeiro-ministro Enda Kenny disse que não apoia a ideia de uma conferência sobre a dívida e que prefere esperar para ver as propostas gregas. O ministro da Agricultura veio dizer que tudo o que a Grécia receber, a Irlanda também quer.

Espanha

Mariano Rajoy, o chefe de Governo, teve uma das posições mais duras, numa altura em que vê o partido Podemos na frente das sondagens. Rajoy diz que a Grécia tem de cumprir os seus compromissos, e o ministro adjunto para a União Europeia é ainda mais claro: “Se pensam que um novo Governo significava que a Grécia ia poder não pagar a sua dívida, isso simplesmente não vai acontecer”.

Itália

O primeiro-ministro Matteo Renzi chegou a reunir-se com Tsipras, no início périplo europeu do novo governante grego. Nessa altura, disse que era preciso mudar o debate sobre a austeridade para o crescimento e que a Europa devia abordar este debate com cuidado.

Pier Carlo Padoan, ministro das Finanças, já se manisfestou otimista em relação à questão grega, dizendo que considera possível chegar a um acordo. No entanto, quando Varoufakis disse que a Itália podia ir a seguir caso a Grécia saísse do euro, Padoan deu um puxão de orelhas ao grego, garantindo que a dívida italiana é sustentável e que os seus comentários foram inapropriados e que o grego tem de encontrar uma linguagem comum com os parceiros europeus.

Chipre

Tsipras já tinha dito que tinha o Chipre do seu lado, e há dois dias o ministro das Finanças Harris Georgiades disse isso mesmo: o Chipre vai apoiar a Grécia. Ainda assim, diz o governante, a Grécia é responsável pelas suas decisões.

Luxemburgo

Ministro das Finanças, Pierre Gramegna diz que “todas as opções estão em aberto”, na chegada à Eurogrupo.

Malta

“Primeiro vamos ver, depois vamos ouvir”. Esta foi a posição transmitida pelo ministro das Finanças à entrada da reunião do Eurogrupo. O governante não se quis comprometer, dizendo que iriam avaliar que concessões podiam ser feitas, e que linhas não podiam ser ultrapassadas.

Holanda

A Holanda é tradicionalmente um dos principais apoiantes da Alemanha no Eurogrupo e Jeroen Dijsselbloem, o seu ministro das Finanças, preside também ao Eurogrupo. Como governante holandês já disse que “não vê apoio para um perdão da dívida”. Como presidente do Eurogrupo teve uma primeira reunião em Atenas que ficou marcada por um final tenso. Já disse que a zona euro não faz empréstimos ponte e que não espera decisões na reunião de hoje.

Finlândia

Mais um dos países tipicamente apontados como próximos da Alemanha no Eurogrupo. O primeiro-ministro Alexander Stubb já garantiu que a Finlândia “não perdoará empréstimos”. A Finlândia emprestou 5,39 mil milhões de euros à Grécia.

Áustria

O ministro das Finanças, Hans Jörg Schelling, acredita que é possível chegar a um acordo com a Grécia, mas deixou palavras duras aos governantes gregos. Instou a Grécia a colocar um “fim nas provocações” e para que apresente propostas concretas. No entanto, está contra a reestruturação da dívida grega.

Portugal

Pedro Passos Coelho tem sido o mais feroz crítico da posição grega. Começou por dizer que o programa do Syriza era um “conto de crianças”, e levou uma resposta de Yanis Varoufakis a dizer que esses contos de fadas dão esperança. Mais recentemente disse que é “um abuso” usar a situação da Grécia para repensar toda a Europa.

Hoje foi a vez de Cavaco Silva, que fez questão de dizer que a solidariedade portuguesa para com a Grécia, que já representou a saída de muitos milhões de euros da “bolsa dos contribuintes portugueses”. “Portugal tem vindo a demonstrar solidariedade em relação à Grécia para que ela permaneça na zona do Euro, para além do empréstimo que fizemos à Grécia de cerca de mil e 100 milhões de euros, Portugal tem vindo a transferir para a Grécia o produto do juros das obrigações na posse do Banco de Portugal, o que significa muitos milhões de euros que saem da bolsa dos contribuintes portugueses”, disse, citado pela Lusa.

Maria Luís Albuquerque, que está na reunião do Eurogrupo, tem sido mais comedida nos comentários, mas já comparou Portugal à formiga e a Grécia à cigarra, em alusão ao conto que dá conta de uma formiga poupada e de uma cigarra despesista.

Eslovénia

Primeiro-ministro, Miros Cerar, pede uma solução flexível para a Grécia e o seu ministro das Finanças, Uros Cufer, que a “única solução estável para a Grécia é o país cumprir os seus compromissos

Eslováquia

Peter Kazimir, ministro das Finanças, é perentório: não há perdão da dívida à Grécia. “Acredito que temos de insistir, com confiança, no que chamamos das linhas vermelhas que não podem ser ultrapassadas. Para nós, claro, é manter o nível da dívida registada”, disse no início do mês.

Hoje, o primeiro-ministro Robert Fico disse no Parlamento eslovaco que pode haver alguma boa vontade no que diz respeito à extensão da maturidade dos empréstimos, mas perdoar dívida, isso, não apoiará.

Estónia

A ministra das Finanças, Maris Lauri, já disse que o seu país não apoia uma reestruturação da dívida grega, até porque nesta altura “as condições são muito favoráveis à Grécia”. A Estónia espera que a Grécia continue a avançar com as reformas da sua economia e no caminho da sustentabilidade das suas finanças públicas.

Letónia

Laimdota Straujuma, a primeira-ministra, espera que a Grécia cumpra as suas obrigações. Do lado da Letónia, não houve muito mais palavras sobre o tema.

Lituânia

É o mais recente membro do clube do euro, mas a posição está bastante em linha com os seus parceiros. Rimantas Sadzius diz que a Grécia sair do euro não está em discussão, mas que Atenas tem de cumprir o acordado com a troika.

“Acredito em dois princípios que nós devemos seguir de forma estrita. Primeiro, nós na Europa estamos unidos na nossa própria diversidade e cada país pode e deve escolher o seu destino elegendo democraticamente o seu Governo. Segundo, os compromissos que assumimos anteriormente são para serem cumpridos”, disse.