Mais de 300 migrantes que estavam a tentar fazer a travessia da Líbia para Itália morreram esta semana na sequência de naufrágios no Mediterrâneo, ao largo da costa da Líbia, de acordo com os relatos de nove sobreviventes socorridos pela guarda costeira italiana, disseram esta quarta-feira várias organizações internacionais.
“Nove estão sãos e salvos, após quatro dias no mar. Os restantes 203 foram engolidos pelo mar”, afirmou na sua conta na rede social “Twitter” a porta-voz em Itália do Alto Comissariado da ONU para os Refugiados (ACNUR) Carlotta Sami, à chegada dos sobreviventes esta quarta-feira à ilha italiana de Lampedusa. “É uma enorme e horrível tragédia”, acrescentou.
Porém, horas mais tarde, Carlotta Sami viria a anunciar, pela mesma via, que afinal seriam quatro e não duas as embarcações que partiram da Líbia, no sábado passado e que uma delas continuava desaparecida. “Pelo menos 300 morreram”, atualizou, com base nos relatos dos sobreviventes.
New details about tragedy in the #Mediterranean: 4 rubber dinghies. Tagged from 1 to 4. One is missing. At least 300 hundred have died.
— Carlotta Sami (@CarlottaSami) February 11, 2015
Na mesma zona, a guarda costeira italiana já tinha socorrido na segunda-feira uma outra embarcação, também proveniente da Líbia, que transportava pouco mais de 100 migrantes. Quando os socorros chegaram, sete já tinham morrido de frio e 22 – entre os 18 e os 25 anos – morreram no longo trajeto de 18 horas até Lampedusa.
“O que está a acontecer é pior do que uma tragédia – é um crime”, comentou o diretor-geral da Organização Internacional para as Migrações (OIM), William Lacy Swing. “O mundo deve agir”, defendeu. De acordo com outro representante da OIM, Flavio di Giacomo, “de um total de 420 pessoas que deixaram a Líbia no último sábado, estima-se que haja cerca de 330 vítimas, incluindo as 29 encontradas” na segunda-feira.
O forte aumento do número de migrantes que morrem a tentar cruzar o Mediterrâneo reacendeu críticas à decisão do governo italiano de pôr fim, no ano passado, a uma missão de busca e salvamento de grande escala, conhecida como Mare Nostrum, com o objetivo de reduzir custos. A Mare Nostrum foi substituída por um patrulhamento feito pela União Europeia chamado Triton, com menos navios e numa área muito mais pequena.
Ainda antes destes naufrágios, o ministro do Interior italiano, Angelino Alfano, confrontado com as críticas aos meios limitados que Itália agora tem no Mediterrâneo para responder a pedidos de socorro, afirmou que mesmo durante a Mare Nostrum centenas de pessoas perderam a vida no mar.
Mais de 3400 pessoas morreram em naufrágios no Mediterrâneo durante 2014, ano em que chegaram às costas italianas 170 mil pessoas