Portugal está no top 4 dos principais destinos do investimento chinês na Europa na última década. Os números de um estudo elaborado pela consultora Rhodium analisam os fluxos de investimento made in China associados a transações realizadas entre 2004 e 2014. Portugal surge à frente de grandes economias europeias como Espanha ou Itália.

Segundo este estudo, preparado para o escritório de advogados Baker & Mckenzie, e divulgado pelo site Macau Hub, Portugal atraiu investimento no valor de 6,7 mil milhões de dólares (5,9 mil milhões de euros), o que corresponde a um montante equivalente ao de França. À frente surgem apenas o Reino Unido, que é, de longe, o destino mais atrativo para os chineses, com 16 mil milhões de euros, e a Alemanha, com 8,4 mil milhões de dólares.

Apesar de estes dados recuarem até ao início da década passada, a força do investimento chinês em Portugal é mais recente, começa no período de assistência internacional aproveitando a vaga de privatizações a partir de 2011/12. A compra de participações relevantes na EDP e na REN (Redes Energéticas Nacionais), são as operações que dão visibilidade ao capital chinês.

Apesar de terem dirigido a maior fatia de investimento para as economias menos afetadas pela crise do euro, os chineses manifestaram um interesse muito significativo nas oportunidades que surgiram nas privatizações em países como Portugal, Espanha e Itália. “Os investidores chineses estão claramente a aproveitar as oportunidades quando elas aparecem em mercados que atravessam dificuldades, mas também veem grandes benefícios em apostar em países mais estáveis com laços económicos fortes com a China através do turismo e comércio”, sublinha Danian Zhang, do escritório de Xangai da Baker & Mckenzie. É uma “aposta de longo prazo” na Europa, acrescenta em declarações à France Press.

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Em 2014, a China destinou 18 mil milhões de dólares (15,8 mil milhões de euros) ao mercado europeu, o valor mais alto em uma década. Portugal volta surgir nos quatro principais destinos com operações avaliadas em 2,3 mil milhões de dólares, um valor equivalente ao que se verificou na Holanda. O Reino Unido continua a ser o principal alvo, seguido da Itália. A Alemanha ficou atrás de Portugal.

O investimento no mercado português no ano passado ficou marcado por duas transações: a compra da seguradora Fidelidade pela Fosun, por mais de mil milhões de euros, e a oferta lançada sobre a Espírito Santo Saúde. A seguradora controlada por capitais chineses adquiriu ainda uma participação de 5% na REN. Anunciada no ano passado, mas ainda por concretizar, está a compra do BESI (Banco Espírito Santo Investimento) pela sociedade financeira Haitong.

O investimento global chinês em ativos portugueses é superior aos montantes referidos no estudo da Rhodium, que será divulgado em março, aproximando-se dos dez mil milhões de euros. Isto porque os chineses compraram também participações em operações internacionais de empresas portuguesas, como foi o caso da Petrogal Brasil onde a petrolífera estatal Sinopec tem 30% e da EDP Renováveis que tem vindo a abrir o capital das suas participadas à China Three Gorges.

Na conta do capital chinês entra, ainda, o imobiliário, em que os chineses são os maiores investidores. Considerando o montante investido em função da dimensão da economia ou do mercado de capitais, Portugal será ainda o país europeu onde o investimento chinês tem maior peso.

Os quatro setores que mais atraíram os capitalistas chineses no ano passado foram a alimentação e a agricultura, com 4,1 mil milhões de euros, energia, imobiliário, setor automóvel e serviços financeiros. O perfil do investimento chinês em Portugal concentra-se sobretudo na energia, imobiliário e serviços financeiros, onde foram realizadas as maiores transações:

  • Compra de 21,35% da EDP por 2.700 milhões de euros
  • Aquisição de 85% da seguradora Fidelidade por 1.264 milhões de euros
  • Oferta pública de aquisição sobre a Espírito Santo Saúde por 460 milhões de euros
  • Aquisição de 25% da Redes Energéticas Nacionais (REN) por 387 milhões de euros
  • Compra do BESI (Banco Espírito Santo Investimentos) por 379 milhões de euros

Negócios na mira de investidores chineses em 2015

  • Novo Banco
  • Terminal de contentores do Barreiro

O investimento chinês na Europa deverá continuar a ganhar força este ano, com uma crescente diversificação por setores. Foram já anunciadas várias aquisições relevantes em 2015. Entre elas está a aquisição da marca de turismo francesa Club Med pela Fosun, uma operação avaliada em 4,3 mil milhões de dólares em que participou a Fidelidade.