O diretor clínico do Hospital de Santa Maria, em Lisboa, apresentou esta quarta-feira a sua demissão do cargo, alegando motivos académicos, escassos meses depois de ter assumido aquela posição. No espaço de oito meses, é a quarta demissão nos hospitais públicos, o que vem acentuar o clima de tensão existente entre as unidades de saúde e o Ministério.

Miguel Oliveira da Silva era diretor clínico do Santa Maria desde setembro de 2014, sendo igualmente professor universitário de ética. Terá sido esse trabalho o motivo invocado pelo responsável para a saída, mas o ambiente entre Oliveira da Silva e o corpo clínico parecia não ser o melhor, como nota o Diário de Notícias. Já em dezembro, dois meses e meio depois de ter chegado ao cargo, o médico obstetra admitia ao jornal i que se tinha confrontado, “no bom e no mau sentido, com realidades que nunca [imaginara]”. E mandava o recado: “Tenho a maior dificuldade em compreender e aceitar descontrolo orçamental em obras ou que se assumam como prioritários projetos de maior dimensão, não digo faraónicos mas no meu entender desproporcionados face a outras necessidades”.

Para o lugar de Oliveira da Silva deverá ir agora Margarida Lucas, atual diretora do serviço de urgências daquele que é o maior hospital do país. Em pouco menos de um ano, é a terceira pessoa a ser diretora clínica do Santa Maria.

Esta demissão no Santa Maria vem somar-se a outras ocorridas em diversos hospitais desde meados do ano passado. O primeiro sinal de tensão nos hospitais públicos veio do São João, no Porto, em junho, quando 58 diretores de áreas clínicas se demitiram em bloco, alegando uma situação “insustentável” de falta de financiamento que punha em causa a qualidade de tratamento dos doentes. Retomaram os seus lugares pouco depois. Seguiram-se os diretores do Garcia de Orta, em Almada, e os do Amadora-Sintra, mais recentemente, sendo que também nestes casos os pedidos de demissão foram retirados depois de reuniões em que foram dadas garantias de que os problemas identificados seriam ultrapassados. Pelo meio, sucederam-se as notícias sobre casos de urgências sobrelotadas, o que sucedeu sobretudo no período do Natal e durante uma vaga de frio que coincidiu com um surto de gripe.

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