Um cartoonista palestiniano foi suspenso do jornal oficial da Autoridade Palestiniana depois de um desenho de Maomé publicado no início de fevereiro, conta o Independent. A intenção era boa, disse Mohammed Sabaaneh, que só queria suavizar a ideia negativa do Islão que resultou do atentado ao jornal satírico Charlie Hebdo, mas a bola saiu ao poste.

A polémica estará na forma como rotulou o cartoon — “Profeta Maomé” –, o que terá levado à quebra do tabu em redor da representação do fundador do islamismo. Sabaaneh, que trabalha no al-Hayat al-Jadida desde 2002, foi suspenso e está a ser alvo de uma investigação por uma equipa indicada por Mahmoud Abbas, o Presidente palestiniano. O jornal, no entanto, não esperaria pelo desfecho da investigação e deixaria cair a suspensão apenas dez dias depois.

“A minha ideia é: se queres defender o Islão contra cartoons, deves fazê-lo através de desenhos, e não matando os cartoonistas”, explicou Sabaaneh. “Se queres defender o Islão contra artigos, escreve artigos. Se queres defendê-lo contra ideias, então usa ideias.”

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

A imagem mostra um homem, com uma mala em forma de coração, a semear algo no planeta Terra. Sabaaneh explicou que não queria representar Maomé, mas sim um seguidor do Profeta, que espalha a sua mensagem. Ainda assim, pediu desculpas pelo mal-entendido. Mais: pediu ao Independent para que não publicar o seu cartoon.

Em 2013, conta o diário inglês, o palestiniano esteve preso durante cinco meses em Israel, depois de o Exército daquele país o deter alegadamente pela natureza dos seus cartoons. Sabaaneh viu também o seu jornal cortar-lhe as asas e travar a publicação de alguns desenhos, num ato que só pode ser confundido com censura.

O artigo lembra ainda que Mahmoud Abbas esteve presente na marcha nas ruas de Paris, com cerca de 50 líderes mundiais e mais de um milhão de pessoas. E tudo a favor da liberdade de expressão e de imprensa. Sabaaneh receia que o seu jornal se torne mais fechado, mais restritivo e que estrangule o seu trabalho. “Eu não quis desenhar o Profeta Maomé em si, mas deixar uma área vaga para as pessoas começarem a questionar. Esse é o nosso papel: levar as pessoas a pensar. Eu quero que elas pensem sobre este assunto”, rematou.