A MIT Technology Review (revista do Instituto de Tecnologia de Massachusetts) reuniu um painel de especialistas para elaborar uma lista das revelações tecnológicas que, num futuro próximo, serão determinantes para a humanidade. Umas já estão em fase avançada de estudo e implementação, outras têm um potencial teórico decisivo. Destacamos quatro.

Nano-arquitetura

A nanotecnologia é uma forte aposta de milhares de cientistas em todo o mundo. Consiste na construção e manipulação de materiais extraordinariamente pequenos (à escala celular — um nanómetro é a milionésima parte do milímetro). A esta escala as leis da física parecem ser desafiadas, como demonstra a investigadora Julia Greer neste vídeo.

Estas nano estruturas são criadas com recurso a uma espécie de impressora 3D que utiliza raios laser para esculpir polímeros a uma escala microscópica. A variedade de materiais fabricáveis por esta tecnologia continua a aumentar e consequentemente, as futuras aplicações. São leves, versáteis e apresentam uma melhor eficiência energética. A totalidade das aplicações práticas ainda estão por ser conhecidas, mas passam pela medicina, informática, energias renováveis e vestuário.

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Testes rápidos de análise de ADN

O cancro continua a ser uma das principais causas de morte no mundo moderno. A prevenção é a primeira linha mas a detenção precoce continua ser fundamental para aumentar os casos de sucesso no tratamento. Os métodos atuais ainda não permitem a detenção atempada de formas agressivas de células cancerígenas, pelo que a identificação destas células mutantes é um passo determinante para acelerar o diagnóstico.

Dennis Lo é um médico de Hong Kong que trabalha há 20 anos numa técnica chamada “biopsia líquida”, capaz de detetar alguns cancros antes dos primeiros sintomas. A técnica de sequenciação genética utiliza apenas algumas gotas de sangue, que podem ser obtidas com uma simples picada no dedo (à semelhança dos testes rápidos de glicemia ou colesterol).

O objetivo é encontrar sequências de ADN que as células cancerígenas libertam para a circulação sanguínea quando são destruídas pelo sistema imunitário (o que acontece em quantidades ínfimas). A tecnologia já existe mas os cientistas pretendem que ela se torne suficientemente rápida e barata para permitir incluir esta análise nas rotinas laboratoriais.

Dessalinização em larga escala

Há 700 milhões as pessoas que não têm acesso a água potável e em 2025 estima-se que sejam 1.8 mil milhões. Muitos especialistas creem ser um dos maiores desafios da humanidade para o futuro próximo. O desperdício e a poluição estão entre as principais causas de escassez de água, mas junte-se à equação o crescimento demográfico e a necessidade de produzir alimentos para milhares de milhões de pessoas, para dar razão à expressão “a água é o ouro do futuro”.

Uma empresa em Israel já implementou aquele que é, atualmente, o maior sistema de osmose reversa do mundo, uma tecnologia que utiliza filtros de membrana para separar o sal da água do mar. Depois, segue-se o processo de tratamento e purificação da água, mas a totalidade do processo requer grandes quantidades de energia. Construída pela IDE Technologies a mando do governo israelita, o sistema de já abastece 20% do consumo doméstico.

Especialistas apostam no Sol como a fonte de energia capaz de fazer baixar o preço do metro cúbico de água potável produzida a partir da água do mar (dessalinização térmica). Considerando que é precisamente em países com muita luz solar que há grande escassez de água, o desenvolvimento desta tecnologia pode ser determinante.

Rede global do genoma

As doenças de base genética são um desafio importante para médicos e cientistas. Muitas ainda não têm tratamento e isso acontece, acreditam alguns especialistas, porque existe falta de informação disponível sobre cada caso. Por outras palavras, o cruzamento da informação clínica e científica é determinante para estabelecer comparações que permitam identificar diferenças e semelhanças entre cada caso.

No Canadá, uma equipa de programadores começou a testar um sistema informático que permite o cruzamento de perfis genéticos de doentes entre hospitais. Toronto (Canadá), Miami, Baltimore (EUA) e Cambridge (Inglaterra) estão na rede de centros que partilham informação sobre doenças genéticas que afetam, principalmente, as crianças.

David Haussler é um especialista em bioinformática na Universidade da Califórnia, que se debate com o facto de a sequenciação genética continuar muito afastada da principal plataforma de partilha de informação: a internet. Calcula que nos próximos anos milhões de pessoas vão ver sequenciado o seu perfil genético e defende por isso que a medicina do futuro depende das comparações em larga escala dos genomas — big data.

Por um lado, o desafio passa por sensibilizar os técnicos de saúde e investigadores, que de acordo com David Haussler, ainda estão muito reticentes em partilhar dados genéticos pela internet. Por outro, há questões legais relacionadas com a privacidade, que o bioinformático questiona de forma pertinente: “posso usar o meu cartão de crédito em todo o mundo, mas os meus dados biomédicos não”.

Adam Berry, o responsável da Curoverse (uma startup de Boston, EUA) está a tentar desenvolver uma nova abordagem para tentar contornar este problema. Ao invés de um sistema de transferência de informação (que dentro de pouco tempo se calcula que seja da ordem dos exabytes – 1 exabyte equivale a 1 milhão de terabytes), Adam Berry acredita que é mais proveitoso criar um sistema de permuta de perguntas. Deste modo, os dados genéticos continuam salvaguardados nas instituições, mas o acesso e interpretação dos dados permitirá aos investigadores de todo o mundo estabelecer comparações entre casos, um passo determinante e “com potencial para transformar a vida humana”.