Em comunicado, a editora afirma que esta obra é o “resultado de um importante trabalho de organização e atualização do fundador da revista ‘O Tempo e o Modo’” e “constitui um importante contributo para o conhecimento da história diplomática portuguesa”.

A mesma fonte sublinha que este volume reúne as biografias de Armindo Monteiro, Pedro Theotónio Pereira, Alberto Franco Nogueira, José Gonçalo Correia de Oliveira e Adriano Moreira, “personalidades marcantes do Estado Novo”, que foram ministros e embaixadores do antigo regime, todos, em diferentes momentos, “destacadas figuras próximas de Oliveira Salazar”, que, de 1932 a 1968, liderou o Governo.

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Esta obra póstuma “vem conferir uma perspetiva única do regime salazarista, a partir do seu interior, numa abordagem actualizada por um dos maiores pensadores portugueses, e fazer uma última homenagem ao grande pensador e académico português, Manuel Lucena”, afirma a Alêtheia.

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Eis um pequeno excerto da obra, divulgado no site da editora:

«Adriano Moreira é senhor de um currículo que, fértil na sua trajectória exterior em desenvolvimentos imprevistos ou paradoxais, também releva de fortes tensões interiores, constitutivas de uma personalidade aberta a desencontrados sinais do tempo e habitada por coincidências de contrários sem dúvida intelectualmente enriquecedoras e sedutoras (…) mas que, politicamente falando, nem sempre o terão beneficiado.»
Manuel de Lucena, in Os lugar-tenentes de Salazar

O historiador Manuel Lucena morreu no passado dia 07, em Lisboa, aos 77 anos, vítima de doença súbita. Um dos mais marcantes intelectuais da sua geração, até pela sua heterodoxia e amor pela liberdade, foi um dos fundadores da revista “O Tempo e o Modo” e era investigador principal do Instituto de Ciências Sociais. Entre as suas diferentes obras contam-se “A evolução do sistema corporativo português”, “O Estado da Revolução”, “Revolução e Instituições – a extinção dos grémios da lavoura alentejanos” e “Contradanças: política e arredores”.

O historiador viveu a infância e parte da adolescência em Angola, quando veio para Lisboa, aderiu ao movimento monárquico e, mais tarde, na universidade, à Juventude Universitária Católica. Participou a crise académica de 1962 ao lado de Jorge Sampaio, Vítor Wengorovious e Nuno Brederode dos Santos, sendo um dos autores dos comunicados da Reunião-Inter-Associações (RIA).

Democrata, antifascista, por oposição à ditadura do Estado Novo, de Oliveira Salazar, Lucena exilou-se em Roma, Paris e Argel, chegando a militar no Movimento de Ação Revolucionária (MAR), do qual foi um dos dirigentes. Também fez parte da Frente Patriótica de Libertação Nacional, que dirigiu, até 1968. Nos anos 1970, fundou a revista “Polémica”, com Medeiros Ferreira, Eurico de Figueiredo, António Barreto e Carlos Almeida, tendo regressado a Portugal no verão de 1974.

Próximo de Melo Antunes, figura cimeira na coordenação do movimento militar que deu origem à queda da ditadura, em Abril de 1974, Manuel Lucena foi um dos apoiantes do chamado “Documento dos Nove”, em 1975, a favor da democracia pluralista, das liberdades e direitos fundamentais, subscrito pela ala moderada do Conselho da Revolução, que agregava nomes como os de Vítor Alves, Vasco Lourenço e do próprio Melo Antunes Foi nessa altura que se tornou investigador do Instituto de Ciências Sociais, então chamado Gabinete de Investigações Sociais (fundado na década de 1960, por Adérito Sedas Nunes).

Regressou à política ativa, no final da década de 1980, por um breve período, para participar na campanha eleitoral da Aliança Democrática (PPD/PSD/CDS/PPM), liderada por Francisco de Sá Carneiro, tendo feito parte da comissão política da candidatura do general Soares Carneito. Em 1995/1996, apoiou a candidatura de Jorge Sampaio à Presidência da República.

Foi porém a investigação histórica que dominou o percurso de Manuel Lucena, em particular sobre a evolução e a natureza do regime corporativo, a presença portuguesa em África, a instauração da democracia e a descolonização.