A administração do Fundo Europeu de Estabilidade Financeira (FEEF) aprovou esta sexta-feira a extensão do acordo com a Grécia, confirmando assim as decisões dos parlamentos europeus de dar mais quatro meses à Grécia para terminar o atual programa. O contrato celebrado com a Grécia, o Master Financial Assistance Facility Agreement (MFFA), é agora válido até ao dia 30 de junho deste ano.

Caso a Grécia termine a próxima avaliação com sucesso, ao abrigo do acordo de empréstimo com os credores europeus, Atenas ainda pode receber mais 1,8 mil milhões de euros. Esta é apenas a parte do empréstimo que diz respeito à parte dos países da zona euro no resgate. Só no segundo resgate, a Europa contribuiu com 141,8 mil milhões de euros.

Para além da tranche europeia, a Grécia poderá ainda receber mais 1,9 mil milhões de euros dos lucros do BCE relativos a 2014 com a compra de dívida grega que os países do euro decidiram abdicar em favor da Grécia. Com a tranche do FMI relativa à revisão que ainda está por realizar, a Grécia pode receber mais de 7 mil milhões de euros se terminar a revisão com sucesso.

O programa do Fundo Monetário Internacional está em funcionamento em paralelo, mas só termina em abril de 2016.

O acordo conseguido no Eurogrupo permite ainda que os 10,9 mil milhões de euros que estavam no fundo para a recapitalização dos bancos possam ser usados até 30 de junho, mas estes quase 11 mil milhões deixam de estar nas mãos das autoridades gregas e passam para o FEEF. O dinheiro continua a poder ser utilizado apenas para a recapitalização dos bancos, ou para pagar os custos de eventuais resoluções, mas agora tem de ser pedida autorização ao Banco Central Europeu.

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Em Atenas, o Governo está preocupado

A falta de liquidez do Estado grego tem deixado o Governo preocupado e terá mesmo levado à reunião de emergência de hoje de Alexis Tsipras com a sua equipa económica. Já foram vários os ministros que demonstraram preocupação publicamente com a reduzida almofada na tesouraria do Estado grego. A queda das receitas fiscais está a ser muito pronunciada. O jornal inglês The Guardian diz que as receitas com impostos terão caído 22,5% no início do ano.

Mas há outra preocupação do lado do Governo. Em Atenas, ainda não está decidido se a extensão do programa vai ser votada no Parlamento. O porta-voz do Governo assume que a votação até pode ser feita artigo a artigo, sem uma votação global. O jornal inglês dá conta do dilema do Governo com a votação. Por um lado, enfrenta a oposição do próprio partido e deve ter os votos de apoio da oposição, por outro, não colocar a votação pode colocar uma questão de legitimidade democrática, que tanto tem sido invocada pelo atual Executivo para implementar as suas decisões.

Na quarta-feira há leilão de dívida

A Grécia precisa de financiar dívida pública que está prestes a vencer e já anunciou um leilão de dívida a seis meses para a próxima quarta-feira. Atenas quer arrecadar 875 milhões de euros no mercado, depois de um mês de grande instabilidade e crescimento acentuado dos juros da dívida no mercado secundário.

Os investidores estrangeiros têm-se afastado da dívida grega, mas os bancos gregos têm usado esta dívida para se financiar junto do seu banco central, no lote de liquidez de emergência que o BCE permite, que depois usam para comprar ainda mais dívida pública grega de curto prazo, de forma a ajudar a manter o Governo à tona.

Anterior Governo já ataca o Syriza

Depois de um período mais comedido, após a muito expressiva derrota nas eleições legislativas de 25 de janeiro, o líder do PASOK e ex-vice-primeiro-ministro do Governo de coligação com a Nova Democracia, Evangelos Venizelos, veio a público criticar a postura do novo Governo. Em comunicado, Venizelos acusa o Governo grego de andar numa “guerra de impressões” em vez de realizar negociações reais.

“O país está num vacum de estratégia. Apenas um mês depois das eleições está tudo no ar. Receitas, necessidades de tesouraria, metas do défice. Como vai ser coberto o buraco orçamental que existe? Qual é o caminho em termos de dívida? Infelizmente, a vastidão de erros de negociação que cometemos deixaram-nos bem longe do ponto em que estávamos quando o Parlamento foi dissolvido”, disse.

“Tem sido tudo entusiasticamente vendido como um triunfo, mas assim que se arranha a superfície, percebemos que não há plano, ou resultado, ou segurança ou perspetiva. O país tem de encontrar os seus objetivos”, acrescentou.

Manifestações contra o Governo estão de volta

Hoje é dia de manifestação em Atenas, mas desta vez, e ao contrário do que aconteceu nas últimas semanas, não será de apoio ao Governo. Organizada pelo Partido Comunista da Grécia, a manifestação deverá acontecer à porta do Parlamento. Os comunistas estão contra o pedido de extensão do atual programa.

Na noite de quinta-feira já houve protestos. Depois de uma manifestação da extrema-esquerda contra o Governo, com menos de 500 pessoas, alguns elementos, perto de 50, entraram em confrontos com a polícia e incendiaram dois carros e algumas paragens de autocarro.

Debate no Parlamento alemão aqueceu

No Parlamento alemão, a extensão do programa foi aprovada por uma larga maioria, a maior entre as votações do Bundestag de resgates a países da Europa. Ainda assim, do partido de Merkel houve ainda alguma insurreição. Vinte e dois deputados da CDU de Merkel votaram contra. Um total de 32 votos contra no Parlamento.

Wolfgang Schäuble pediu a extensão e defendeu que a Europa tem de ser solidária e que os gregos precisam mais tempo que os restantes países para resolver a crise, mas também fez questão de lembrar que nenhum cheque será passado sem aprovação alemã e que a extensão não prevê mais dinheiro, mas apenas dar mais tempo para acabar o atual programa.

O debate ainda aqueceu no Parlamento com alguns deputados do partido de Merkel a fazerem referências muito pouco elogiosas à Grécia. Klaus-Peter Willsh, da CDU, pediu mesmo que a Grécia abandone o euro, dizendo que prefere um “mais vale um final com horror, do que um horror sem fim”. O deputado da CDU foi ainda mais longe e atacou diretamente Tsipras e Varoufakis: “olhem para Tsipras, olhem para Varoufakis. Vocês compravam-lhe um carro usado?”, disse.

Más notícias também no PIB

O valor não é expressivo, mas o sinal não é o melhor. Nos últimos três meses do ano passado a economia grega terá contraído mais que o esperado, 0,4% em vez dos 0,3% da primeira estimativa do PIB feita pelo instituto de estatística da Grécia.

Carta é propositadamente vaga

Entretanto, o ministro das Finanças da Grécia, Yanis Varoufakis, continua a desdobrar-se em entrevistas, fazendo declarações que não estão a cair muito bem entre alguns parceiros da zona euro.

Varoufakis respondeu às críticas sobre o pouco detalhe da carta enviada ao Eurogrupo dizendo que ela não tem números nem metas de propósito.

“Eu uso o termo indefinição criativa. Quero ser o primeiro ministro das Finanças a não se referir a qualquer número se não tiver a certeza que o pode atingir”, disse em entrevista à televisão grega.