A isto se chama uma vitória improvável, mas em que os pontos não mentem. Sara Padrão e João Vieira tiraram o curso de Escultura nas Belas Artes de Lisboa mas foram os tecidos que ganharam à pedra, ao ferro, à argila e ao bronze. “Mesmo na faculdade, as nossas peças sempre foram muito de encontro às costuras”, diz João, 30 anos, que pode não ter encontrado uma vocação de Rodin na escola mas encontrou Sara, de 28, com quem fundou a Poise, em 2010.

A história da marca é uma história de costuras mas também um sinal de que alguma coisa do curso de escultura ficou, porque em vez de pegarem em agulhas ou máquinas de alinhavar pontos, os designers resolveram agarrar em tesouras, x-actos, alicates e martelos, tudo para se dedicarem às malas de pele artesanais.

Quem vê as carteiras pousadas na loja da Rua da Rosa, em Lisboa, imaculadas, femininas e perfeitamente acabadas, não adivinha que elas foram cortadas, cosidas e marteladas no sótão-atelier mesmo por cima, em mesas compridas que chegam a parecer as de uma oficina. “Quando percebemos que queríamos fazer malas e acessórios em pele, começámos a pesquisar mais sobre o assunto e a fazer experiências, tudo de forma auto-didata”, diz João. “Estivemos um ano a experimentar e a investir em máquinas próprias, até que conhecemos o nosso fornecedor de ferragens e a partir dele fomos tendo contacto com pessoas que nos ensinaram o ofício e as técnicas.”

Das ferragens — todas as peças em metal nas carteiras — havia de nascer também o símbolo da Poise, uma carpa dourada que desovou primeiro numa pulseira e depois numa clutch feita em parceria com a blogger Carmo, até ser adotada como mascote.

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Poise clutch

“A carpa quase que veio ao nosso encontro, porque nós gostamos de batizar os diferentes modelos com nomes de conchas, moluscos ou peixes como o caramujo ou a vieira”, conta João. “Mas depois há a história deste animal, que segundo a lenda sobe o rio [Amarelo] e quando atinge a nascente se transforma num dragão. Aparentemente frágil, é um símbolo de força e resistência. Nós temos lutado tanto contra a maré que pensámos de imediato: esta rapariga é das nossas.”

Estando a falar de um projeto artesanal — ao qual se juntaram entretanto duas costureiras — não há produções massificadas na Poise, há mini-coleções, novos modelos que vão sendo lançados de forma espaçada, como o Baby Valentine criado para o Dia dos Namorados, há poucas semanas, e ainda colaborações especiais como a que juntou a marca à Gato Cycles e permite personalizar selins e guiadores de bicicletas.

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“Tentamos comprar as peles em fornecedores locais e depois todo o processo é feito ou acompanhado por nós, das cores ao tipo de pele — lisa ou gravada, a imitar avestruz ou crocodilo”, diz Sara. “Gostamos de linhas simples e todas as malas são forradas a pele também por dentro.” Duas escolhas que tornam as carteiras intemporais e com tanto tempo de vida como os moluscos que se enterram na areia ou se agarram às rochas durante décadas.

Nome: Poise
Data: 2010
Pontos de venda: Rua da Rosa, 197 (Bairro Alto, Lisboa) e loja online, atualmente em saldos.
Preço: 55€-300€

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