“Que as paredes desta instituição não se revolvam de vergonha” perante este “facto singular”, disse José Quitério, ao receber o prémio das mãos do reitor João Gabriel Silva, que hoje tomou posse para um segundo mandato de quatro anos. Ao agradecer a distinção, o galardoado definiu-se como “um pobre rapaz” oriundo de Tomar que não chegou a licenciar-se, apesar de ter frequentado a universidade, tendo enveredado pela carreira de jornalista e optado depois pela especialização em gastronomia portuguesa, especialmente enquanto cronista do semanário Expresso. “Uma coisa tão comezinha como discretear por temas como cozinha, vinhos e correlativos”, ironizou.

O homenageado agradeceu o empenho das pessoas envolvidas na candidatura da sua obra (jornalismo, gastronomia e literatura) ao Prémio Universidade de Coimbra, com destaque para o jornalista Fortunato da Câmara, que fez questão de mencionar como camarada, e o embaixador Francisco Seixas da Costa. “Dedico este prémio à memória do meu pai, António Quitério, que quase há um século andou por esta sua querida Coimbra”, onde concluiu as licenciaturas de Direito e Matemáticas, afirmou.

Sem formalidades, falando de pé, encostado à mesa da presidência da sessão, José Quitério simulou um diálogo com o seu pai, como se ele estivesse a censurá-lo – e simultaneamente a saudá-lo – por não ter terminado o curso superior, mas ainda assim ter obtido décadas mais tarde o prémio da UC, patrocinado pelo banco Santander Totta, no valor de 25 mil euros. “Aguenta-te, Zé!”, terá exigido de longe António Quitério, ao que o filho respondeu com firmeza “Tentarei aguentar-me, pai”, suscitando uma ovação do público.

Na cerimónia, no auditório da Reitoria da Universidade, o presidente do conselho geral da UC, Emílio Rui Vilar, defendeu que a proposta da instituição de assumir-se como “Universidade Global”, assente em “novos critérios” de qualidade, “implica maior aprofundamento no respetivo conteúdo e modo de realização, tal como tem de ganhar uma gradual adesão no interior da instituição, sem o que dificilmente logrará êxito”.

José Quitério foi apresentado pelo engenheiro José Bento dos Santos. “A grande lição do José Quitério foi ensinar-nos a discutir o gosto”, disse. Para José Bento dos Santos, o homenageado, com “o conhecimento que lhe permite ser uma autoridade” na matéria, “ajudou a criar entre nós uma consciência e um orgulho por essa mesma arte” gastronómica. Quitério tem “a sabedoria e a erudição para saber distinguir o bom do melhor”, tendo alcançado uma autoridade “que lhe advém da sua coerência”. A sua obra “deu um contributo e inestimável à nossa cultura gastronómica” e à cultura em geral, acrescentou.

Fundada em 1290, pelo rei D. Dinis, como Estudo Geral, a Universidade de Coimbra celebrou hoje o seu dia oficial, tendo o reitor tomado posse de manhã, na Sala dos Capelos.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR