Marcelo Rebelo de Sousa pronunciou-se este domingo sobre as palavras de António Costa que marcaram agenda política da semana. Para o comentador, o discurso do secretário-geral do PS – que, perante uma plateia de investidores chineses, defendeu que o país estava melhor agora do que estava em 2011 – revela um Costa dividido entre quem se vê como futuro primeiro-ministro e quem tenta assumir o papel de líder da oposição.

“[António Costa tem de escolher um de dois estilos, que significam uma de duas estratégias: ou fala como [quem se vê] futuro primeiro-ministro ou fala como líder da oposição. [Isto é], ou não diz nada e é cuidadoso (…) ou a alternativa é bater forte e feio”, sublinhou o antigo líder do PSD.

Ora, para Marcelo Rebelo de Sousa o problema que se coloca para António Costa é complexo e tem aspetos negativos e positivos. “Se ele quer pensar já como primeiro-ministro, então reduz já ao mínimo as suas promessas políticas para não ter de as violar no dia seguinte”, que é como quem diz, “não pode dizer coisas sobre o défice”, “sobre a dívida”, “sobre os impostos” ou “sobre as prestações sociais”, que “que depois tem engolir”.

Se por um lado se protege na eventualidade de chegar a primeiro-ministro, por outro lado, o facto de não assumir uma posição mais incisiva para com o Governo de Passos Coelho, pode custar-lhe as “bases de apoio” do PS que lhe vão dizer: “oh homem, você é igual ao outro [António José Seguro]”, defendeu Marcelo Rebelo de Sousa no seu habitual espaço de comentário na TVI.

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Falha de Passos em pagar Segurança Social é uma coisa “desnecessária e negativa”

Em relação ao outro caso que marcou a agenda mediática e política da semana passada – Pedro Passos Coelho esteve cinco anos sem pagar à Segurança Social – Marcelo Rebelo de Sousa diz não perceber “como é possível em Portugal as pessoas irem para primeiro-ministro e não haver uma investigação cuidadosa daquilo que pagaram e não pagaram em termos de segurança social e impostos anteriormente. Lá fora faz-se. Cá não se faz. Era uma coisa desnecessária e negativa”.

O antigo líder do PSD mostrou-se ainda perplexo com o pagamento feito pelo primeiro-ministro. “Como é que se paga voluntariamente uma dívida prescrita?”, questionou. O comentador considera que também o ministro da Segurança Social deve explicações, depois de Pedro Mota Soares ter afirmado que Passos Coelho foi “vítima de erros” dos serviços e que “107 mil portugueses foram vítimas da própria administração”. Isto significa que “houve 117 mil pessoas que durante aqueles cinco anos não pagaram?”, perguntou Marcelo.

“Este caso para mim é chinês. Depois da ‘chinesice’ de António Costa com os chineses, este para mim é chinês“.

Em relação às sondagens SIC/Expresso, divulgadas esta semana e que parecem indicar que PSD e CDS, caso decidam ir coligados a eleições, podem roubar a vitória ao PS, que surge na frente das intenções de voto com uma margem (curta) de 2,5%, o antigo líder do PSD acredita que é uma “boa notícia” para o PSD/CDS e uma “má notícia” para António Costa.

Ora, face aos últimos resultados, fazem “todo o sentido” as declarações de Passos Coelho, que, em entrevista ao Expresso, afirmou que ia lutar pela maioria absoluta, defendeu Marcelo. O que não faz sentido, continuou, foi a admissão de um segundo cenário – um cenário em que o PSD, não conseguindo a maioria absoluta, admitiria uma reedição do Bloco Central com o PS.

“Não há segundos cenários ponto final. Ao dizer ele isso ele cria dois problemas: primeiro, torna a posição com o CDS um pouco incómoda que é ‘olha nós vamos com vocês para termos maioria absoluta, mas se não der vocês são chutados fora; segundo, pôs-se um bocadinho nas mãos do PS, que foi logo dizer que não, que não aceitava governar com o PSD”.

Por isso, Marcelo Rebelo de Sousa acaba por encontrar semelhanças entre os líderes dos dois maiores partidos políticos em Portugal: “Em Passos Coelho há sempre dois Passos Coelho – o primeiro-ministro e o analista político. Assim como em António Costa” – o futuro primeiro-ministro e o líder da oposição.