destaque

Parecia ser um homem de compensações, como uma balança cuja profissão é manter sempre o equilíbrio — por cada coisa boa que fazia, inventava também outras, bem más, para compensar. Por cada finta ou simulação rápida que inventava para deixar um adversário com raízes profundas na relva, Cristian Tello optava por cruzar a bola sem antes olhar para onde a lançava. Até era comum rematá-la quando antes a devia passar a alguém. Coisas que se desculpavam por nele se ver um potencial dos grandes e porque, com 23 anos, ainda estaria na idade de aprender.

E também por nas pernas ter uma velocidade que parecia não se esgotar. A mesma que fez explodir durante o clássico, por três vezes, para se desmarcar, fugir aos adversários e, a meio caminho, encontrar-se com a bola. As três arrancadas valeram-lhe um trio de remates, que bem colocou para marcar um hat-trick e ser ele, o miúdo que acertava tanto quanto errava, a decidir o 81.º clássico e tornar-se no 15.º jogador a conseguir três golos numa partidas destas.

Tello, sobretudo, mostrou esperteza. Algo que, com a rapidez que tenta sempre colocar em tudo o que faz, também nem sempre o costuma acompanhar. Mas o espanhol foi inteligente quando lançou as três corridas que deram golo para o espaço entre Tobias Figueiredo e Jonathan Silva, os defesas mais “verdinhos” que estavam do lado do Sporting e que não conseguiram acompanhar um sprint do extremo que o Barça emprestou, durante dois anos, ao FC Porto. Nunca.

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Os dragões podiam ter marcado mais e o mérito reconhece-se pelo maior peso que colocaram no acelerador, após cada golo que marcaram. Eles, melhor do que ninguém, sentiram a falta de intensidade no adversário e, por isso, abusaram dos passes rápidos, das jogadas a começarem em Jackson, que não perdeu uma bola, e no aproveitamento dos extremos, que quase sempre estavam apenas com o lateral adversário à frente, órfão de ajudas.

A equipa ganhou, aumentou para oito a vantagem para o rival, ficou mais confortável no sofá do segundo lugar o que, aliado à vitória do Sporting de Braga (1-0) em Vila do Conde, deixa o Sporting só com um ponto a separá-lo dos minhotos. Ou seja, além de quase ter acabado com a luta pelo posto de perseguição ao Benfica, os dragões conseguiram criar uma batalha pelo terceiro — e na sexta-feira há já um Braga-FC Porto para apimentar a corrida. Que haja alguma, pois o Benfica, a jogar assim, como o fez contra o Estoril (6-0) e com um Jonas cada vez mais enamorado com os golos (marcou mais dois e já vai com 18), mostrou quão difícil será roubar-lhe pontos nas 11 jornadas que restam por jogar. Ainda por cima quando já não tem jogos a meio da semana para dividirem as atenções do esforço físico.

desilusão

Já se sabia que era pouco tempo. Dizem que 72 são as horas que o corpo e as pernas precisam para, finda hora e meia a correrem atrás de uma bola, conseguirem descansar e repor energias. Os leões tiveram à volta de 69 e, com maior ou menor peso, a verdade é que, em tudo o que precisaram que o corpo lhes desse, foram piores que o adversário: na rapidez de reação, na dureza a disputar ressaltos, na velocidade a fazer as coisas ou nas corridas para chegarem à bola. Intensidade foi coisa que, no Sporting, só durou uns 15/20 minutos. De resto, a equipa não teve ritmo.

Nem cabeça, como se viu nos três golos sofridos, que não foram iguais, mas parecidos. Em dois, Jackson Martínez fugiu de perto dos centrais, pediu a bola, recebeu-a e, depois, mandou-a encontrar-se com a corrida que o velocista Cristian Tello já começara. Em ambos a linha de quatro defesas do Sporting ficou parada, sem subir para chatear Jackson, e sem descer para cortar metros ao espaço que tinham nas costas. Sofreu dois golos. O terceiro foi parecido, mas passou-se num contra ataque no qual, uma vez mais, os defesas não previram a corrida do espanhol, continuaram voltados para a frente e, quando se viraram, já Tello estava com a bola dominada e à frente de Rui Patrício.

Talvez o cansaço, a tal falta de frescura, lhes tenha afetado o discernimento. Mas não a Salvador Agra, o pequeno e rápido extremo do Braga, nascido na Póvoa de Varzim, perto de Vila do Conde, que só foi a jogo a partir dos 80’. Marcou já nos descontos e decidiu levar a mão a uma das orelhas, enquanto se virava para a bancada e se aproximava do banco de suplentes do Rio Ave — clube que partilha uma rivalidade com o Varzim, clube no qual se formou. O jogador provocou, um dos adversários não gostou, empurrou-o e armou confusão. Assim não vale a pena.

O mesmo terá passado pela cabeça de Leonel Pontes, o madeirense que, segundo o presidente do Marítimo, apresentou a demissão após a derrota dos verde rubros em Guimarães (1-0) e, deste modo, se tornou no quinto treinador a abandonar uma equipa esta temporada — após Ricardo Shéu (Penafiel), João de Deus (Gil Vicente), Domingos Paciência (Vitória de Setúbal) e Paulo Sérgio (Académica).

frase

Excusatio non petita, culpabilita manifesta.” A frase está em latim, foi dita por um espanhol e significa “quem pede desculpa sem ser acusado manifesta culpa”. As palavras vieram da boca de Julen Lopetegui, na sequência do que o treinador do FC Porto já dissera após vencer o Boavista e da resposta que Jorge Jesus, técnico do Benfica, decidira dar-lhe.

E até deu mais uma, após o atropelamento dado ao Estoril (vitória por 6-0). Com a partida já feita, questionaram Jesus sobre a expulsão de Anderson Esiti, que aconteceu quando os encarnados já venciam por 5-0. “Podemos falar no jogador expulso, mais um, mas já havia 5-0. O Estoril ainda podia empatar. Vamos ver se os nossos adversários vão agarrar-se a mais uma expulsão”, disse o treinador. Ou seja, será de esperar agora uma resposta de Lopetegui, que raro é o encontro após o qual não comenta as arbitragens.

resultados

Vitória de Guimarães 1-0 Marítimo
Gil Vicente 1-1 Boavista
Benfica 6-0 Estoril Praia
Rio Ave 0-2 Sporting de Braga
Académica 1-1 Arouca
Penafiel 1-2 Moreirense
Nacional da Madeira 3-0 Vitória de Setúbal
FC Porto 3-0 Sporting
* o Belenenses-Paços de Ferreira joga-se esta segunda-feira a partir das 20h

Quatro meses depois, o Moreirense de Miguel Leal voltou a ganhar um jogo longe de casa. E há quem continue a não conseguir marcar mais golos que o adversário cada vez que recebe uma visita — a Académica mudou de treinador e rodou os jogadores (Marinho, o capitão, por exemplo, já é titular e até fez um golo), mas não foi desta que ganhou em Coimbra e a série sem vitórias já vai em 14. Quem está a fabricar uma série engraçada é Lucas João, avançado cabo-verdiano, que mora no Nacional da Madeira, e que marcou seis golos nas últimas oito partidas para ao campeonato.