A missão de escolher uma canção decente nos últimos Festivais da Canção tem sido tortuosa, mas houve alturas em que cada edição lançava vários temas para as rádios e para os tops de discos. No tempo do vinil, era até comum que todas as canções concorrentes fossem editadas em single. Com mais uma final do Festival RTP da Canção à porta, confira connosco alguns sucessos que não chegaram à Eurovisão, mas ficaram na nossa memória.

 

1971. “Cavalo à Solta”, Fernando Tordo (3.º lugar)

“Minha laranja amarga e doce”, assim começa a letra de José Carlos Ary dos Santos para a terceira participação consecutiva de Fernando Tordo no Festival. A melodia nasceu primeiro, quando Tordo ia na Avenida de Roma, e foi de tal maneira forte a inspiração que teve de parar em casa de João Maria Tudela e pedir-lhe para usar um gravador. A canção não foi além do terceiro lugar, no ano em que Tonicha venceu com “Menina”, mas continua a ser uma das mais conhecidas do reportório de Fernando Tordo, que viria a vencer o festival em 1973, com “Tourada”, e em 1977, como membro do grupo Os Amigos, com “Portugal no Coração”.

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1974. “No Dia Em Que o Rei Fez Anos”, Green Windows (2.º lugar)

O grupo Green Windows começou por ser formado pelos membros do Quarteto 1111 e respetivas companheiras, mas teve várias entradas e saídas na sua curta história. O nome foi dado pelo produtor inglês Dick Rowe, inspirado no nome popular do Museu de Arte Antiga (Janelas Verdes). O seu maior êxito foi “Vinte Anos” (vem viver a vida, amor…). No ano em que Paulo de Carvalho venceu o Festival com aquela que viria a ser a senha da Revolução (“E Depois do Adeus”), os Green Windows concorreram com 2 canções: “No Dia Em que o Rei Fez Anos” e “Imagens”. A primeira continua a fazer parte do alinhamento dos concertos de José Cid. Nesse mesmo ano, esteve ainda a concurso “A Rosa Que Te Dei”, de José Cid.

 

1976. “Estrela da Tarde”, Carlos do Carmo (6.º lugar)

No ano em que Carlos do Carmo interpretou as oito canções em competição, a vencedora foi “Flor de Verde Pinho”, escrita por Manuel Alegre. No entanto, a “Estrela da Tarde”, com música de Fernando Tordo e uma letra fantástica de José Carlos Ary dos Santos, é decerto a mais recordada e continua a ser revisitada por outros artistas. Só nos últimos anos, foi cantada por Mafalda Arnauth, António Zambujo, Ana Bacalhau e Amor Electro.

 

1981. “Ali Babá”, Doce (4.º lugar)

Depois de um segundo lugar no ano anterior, com o tema “Doce”, as Doce foram desta vez vencidas pelo “Playback” de Carlos Paião. As roupas e poses ousadas do quarteto formado por Fátima Padinha, Teresa Miguel, Lena Coelho e Laura Diogo foram alvo de críticas nos jornais, mas o single de “Ali Babá” foi um dos discos mais vendidos do ano. O grupo venceria finalmente o Festival no ano seguinte, com “Bem Bom”, tentando ainda uma quarta participação em 1983, com “O Barquinho da Esperança” (letra de Miguel Esteves Cardoso e música de Pedro Ayres Magalhães).

 

1983. “A Cor do Teu Batom”, Herman José (2.º lugar)

Depois do êxito musical de “Saca o Saca-Rolhas” e “A Canção do Beijinho”, e a poucos meses de estrear “O Tal Canal”, o verdadeiro artista subiu ao palco do Coliseu do Porto a 5 de março de 1983. Com letra de António Pinho, música de Tozé Brito e orquestração de Pedro Osório, o “doce tom” da canção estava um pouco acima do tom de Herman, que mais tarde confessou ter tido dificuldade em levá-la até ao fim. Ainda assim, ficou a escassos 23 pontos da vencedora “Esta Balada Que Te Dou”, de Armando Gama, que viria a casar com a apresentadora desta edição, Valentina Torres.

 

1983. “Vinho do Porto, Vinho de Portugal”, Cândida Branca Flor e Carlos Paião (4.º lugar)

No mesmo ano, dois jovens cantores em ascensão juntaram-se em dueto patriótico numa cantiga que elogia o vinho do Porto. Carlos Paião não desanimou com o penúltimo lugar de “Playback” na Eurovisão em 1981 e voltou a tentar a sorte. Cândida Branca Flor alcançara um segundo lugar no ano anterior, com o igualmente famoso “Trocas e Baldrocas“, com letra e música de Carlos Paião. Vale a pena ver o vídeo desta canção, não só para recordar dois artistas que viriam a ter um fim trágico, como também para apreciar a sua cândida coreografia.

 

1985. “Umbadá”, Jorge Fernando (4.º lugar)

Não podia faltar nesta lista! O próprio Jorge Fernando admitiu no “5 para a Meia-Noite” não saber o que quer dizer “umbadá”. A inspiração para escrever esta música surgiu-lhe quando ia a caminho da casa de fado onde era guitarrista. O certo é que o refrão simples pegou e, 30 anos depois, a música continua no nosso ouvido, como ficou comprovado pela viralidade desta crónica de Ricardo Araújo Pereira nas Manhãs da Comercial.