A política de austeridade terminou e a União Europeia (UE) está em vias de alterar a sua abordagem para recuperar a confiança dos cidadãos, disse em Lisboa o ministro de Estado para os Assuntos Europeus do Governo alemão.

“Esta alteração política [na Europa] já existe e começou nas eleições para o Parlamento europeu, a eleição da nova Comissão europeia [CE], e o regresso a vários governos dos partidos socialistas e sociais-democratas. A política de austeridade está liquidada, acabou”, referiu Michael Roth na sua intervenção.

Desta forma, o responsável alemão e dirigente do Partido Social-democrata (SPD) rejeitava que a “alteração política” na Europa se tenha iniciado com os resultados das eleições de 25 de janeiro na Grécia, com a vitória do partido da esquerda radical Syriza.

O ministro-adjunto do Governo liderado por Angela Merkel discursava numa conferência internacional promovida pela Fundação Friedrich Ebert, organizada em cooperação com o IPRI-UNL (Instituto Português de Relações Internacionais) e o Goethe-Institut sobre o tema “O Nosso Futuro na Europa”, em que também foram oradores a investigadora do IPRI Patrícia Daehnhardt e o deputado do PS Vitalino Canas.

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Já no período de debate, precisou que uma das preocupações a nível comunitário consiste em evitar que os países europeus “permaneçam nas mãos” dos especuladores.

“Os Estados europeus devem emancipar-se da especulação, dos mercados financeiros, que apenas pretendem lucro”, adiantou o responsável germânico, 44 anos, que ocupa o cargo desde dezembro de 2013 no governo da “grande coligação” entre os cristãos-democratas conservadores (CDU/CSU) e o SPD.

As eleições da Grécia e a ascensão dos extremismos e dos nacionalismos no espaço da União serviram de mote à alocução do responsável alemão, fenómenos políticos que alastram no continente e parecem ter impelido à anunciada alteração das políticas provenientes de Bruxelas.

Assim, o ministro alemão recordou um “tríptico político” a cumprir, e que pode fazer renascer a “esperança” e a “confiança”, duas expressões que utilizou com frequência: a consolidação dos orçamentos dos países sobreendividados, reformas estruturais e investimento no crescimento e no emprego.

“A UE está em vias de alterar a sua política para recuperar confiança dos cidadãos. E fornecer esperança”, insistiu.

Nesta perspetiva, recordou ainda a “agência estratégica” anunciada pelo presidente da CE, Jean-Claude Juncker, e “apoiada pelos chefes de Estado e governo” dos 28 Estados-membros.

O plano de investimento de 315 mil milhões de euros, o reforço da coesão social, a concretização da união energética e uma política de imigração comum e uma política externa e de segurança “a uma só voz” foram as receitas avançadas.

“Todos os Estados-membros têm de demonstrar disponibilidade para acolher refugiados. Dos quatro milhões de refugiados sírios, apenas 200 mil foram acolhidos na Europa, e pela Alemanha e Suécia”, recordou, antes de comparar a Europa a um “anão” em termos de “concorrência global”.

Uma UE que se reja pelo primado da disponibilidade, capacidade de entendimento, do compromisso, foi outra ideia lançada pelo conferencista.

“Sem isso não temos Europa. Os cidadãos pagaram um preço elevado devido às reformas. Após um tempo de imposições, é importante que exista uma luz ao fundo do túnel. Que exista esperança”, assinalou.

Mas Roth também frisou que esta “nossa Europa” permanece “um mundo único num mundo globalizado”. E precisou: “Um mundo onde o Estado de direito tem de coexistir com a democracia e a prosperidade. Se não funcionar, perdemos a esperança na Europa. É preciso redescobrir a confiança na Europa com a aprovação dos cidadãos”.

O ministro de Estado recordou que não existe uma única decisão na União que não seja aprovada pelos governos e parlamentos nacionais de todos os Estados-membros.

“A UE não pode ser apontada como o ‘bicho-papão’, temos de ter cuidados com os extremistas, os ultranacionalistas, a extrema-direita, que reforçam a sua votação. Temos de demonstrar que ouvimos o clamor dos cidadãos, e neste aspeto 2015 e 2016 vão ser anos decisivos”, sustentou.

A necessidade de “acordos vinculativos no mercado de trabalho ou na saúde, de normas mínimas e orientadoras”, foram outros aspetos focados por Roth, que também se referiu às complexas relações da Rússia com a Europa e a situação na Ucrânia, também abordados pelos dois outros oradores.

“Decerto que [o Presidente russo Vladimir] Putin não pretende atacar os países da UE, que também pertencem à NATO. “Nas negociações que mantemos esperemos que a Rússia saia deste seu isolamento. A Rússia é importante para solucionar outros problemas, o Irão, a Síria…”.