Pensar ou falar sobre rivalidades e não pensar em Brasil e Argentina, adversários, a lutarem pela vitória num qualquer desporto, é difícil. Tudo fervilha quando atletas destes países se encontram, seja no futebol, andebol, futsal ou basquetebol. Ou no ténis, quando seguram uma raquete, num campo com uma rede no meio e uma bola a saltar, onde, no domingo, protagonizaram o jogo que mais tempo durou na Taça Davis. A proeza foi protagonizada por Leonardo Mayer, o argentino, e João Souza, o brasileiro, em Buenos Aires.

O encontro, realizado com a companhia do sol e sobre terra batida, durou seis horas e 42 minutos. Sim, dava tempo para, por exemplo, ver quatro partidas de futebol seguidas. Neste caso, o jogo contava para o Grupo Mundial do torneio de seleções do ténis e servia para decidir qual a equipa que seguiria para os quartos-de-final — onde a Sérvia, de Novak Djkokovic, líder do ranking ATP (Association of Tennis Professionals), já estava à espera.

Uma vitória de João Souza, número 72.º do ranking mundial, garantia logo a qualificação ao Brasil, enquanto uma derrota mantinha a Argentina viva e arrastava a série para mais um jogo. Foi isso que Leonardo Mayer, 29.º classificado, conseguiu, mas com muito custo, mesmo. O jogo teve cinco sets e todos se prolongaram até um tie break (7-6 (4), 7-6 (5), 5-7, 5-7 e 15-13.). No último, as paragens para os tenistas descansarem ou serem assistidos por médicos e fisioterapeutas já eram frequentes.

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Assim que o último ponto entrou e confirmou a vitória argentina, Leonardo deixou-se cair sobre a terra batida do court. Depois, quiçá resgatando as últimas gotas de energia que sobrava na reserva do depósito, o tenista ainda saltou, sorridente, para celebrar a vitória. Talvez fossem mesmo as últimas forças, já que a conferência de imprensa do argentino, após o jogo, foi cancelada, e Mayer abandonou o complexo desportivo no interior de uma ambulância, já ligado a soro.

O recorde para o encontro jogo mais longo de sempre na Taça Davis pertencia a John McEnroe e Mats Wilander, quando os EUA e a Suécia se defrontaram nos quartos-de-final da competição, em 1982: aí, os tenistas jogaram durante seis horas e 22 minutos.

Antes de ir embora, contudo, e com lágrimas a escorrerem-lhe pela cara, Leonardo ainda soltou umas palavras a um jornalista da TyC Sports: “O que queres que te diga? Faço o que posso. Estas são as coisas que te desmancham e depois a ATP não percebe.”

Todo o esforço acabou por compensar, já que, no dia seguinte, segunda-feira, no tal encontro decisivo da série, Federico Delbonis venceu Thomas Bellucci (6-3, 3-6, 6-2 e 7-5) — e, já agora, num jogo de 3h15 — para confirmar a passagem da Argentino aos quartos-de-final. Ou seja, bravo Leonardo, valeu a pena.