Para Paulo Rangel, a coligação entre PSD e CDS é para continuar e a única forma de ultrapassar as últimas três semanas de “casos e casinhos” na política portuguesa é tanto PS como a coligação apresentarem as suas propostas eleitorais. Para o eurodeputado não se trata de antecipar calendário eleitoral, mas sim encontrar “pontos em comum” e, acima de tudo, é preciso que a coligação apresente o seu “programa para iniciar a fase de crescimento”.

Em entrevista ao Observador, Paulo Rangel – que concorreu nas europeias coligado com o CDS, ficando um eurodeputado aquém do número de eleitos socialistas – diz que a coligação PSD-CDS/PP (que quase dá por adquirida, pela “experiência de sucesso” do passado), tem possibilidade de vencer as eleições legislativas. “Se a missão que desempenhámos foi patriótica, se a solução foi esta e se formos capazes de transmitir esta mensagem, eu acho que podemos surpreender nas eleições”, afirmou.

“A coligação não é puramente instrumental, é uma solução que permitiu salvar Portugal da bancarrota e deve ter um programa para iniciar fase de crescimento”

Rangel considera até que a coligação pode mesmo atingir a maioria absoluta nas próximas eleições – mas para isso tem que ser rápida a explicar ao país ao que vem, porque o seu programa atual está “esgotado”: “Estamos em condições de lançar um programa de mobilização para o país, eu acho que a coligação pode ter maioria absoluta”.

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“O PSD fez sessões de reflexão sobre aquilo que quer, até com sinais de coligação […] Isto mostra que os militantes já estão a preparar alguma coisa. Eu acho é que devemos ir para o terreno já. Devíamos avançar para as equipas do programa já e começar a fechar isso tudo”, diz Rangel, afirmando que a apresentação do programa do PS anunciada esta semana para início de junho “vem tarde”. Rangel considera importante os partidos apresentarem “já as suas propostas eleitorais”, por outro motivo:

“Se nos próximos 4 ou 5 meses estivermos a debater o que queremos para os próximos quatro anos, algumas das reformas que podem ser feitas até as eleições poderiam ser feitas porque íamos ver pontos em comum entre PS, PSD e CDS. Haveria coisas em que podíamos avançar”

O eurodeputado reconhece ainda que governar em coligação “implica conflitos, pequenas crispações e momentos dramáticos”, como aconteceu em Portugal, mas que isso “acontece em todos os países da Europa”.

Da segurança social de Passos à política de António Costa

Passos Coelho é um trunfo ou um fardo para o Governo, para o PSD e para a coligação? Paulo Rangel diz que o primeiro-ministro é “o rosto da governação nos últimos quatro anos”, tem determinação e nunca abandonou o país, embora admita que houve aspetos que “correram pior”. Sobre o recente caso das dívidas à Segurança Social, o eurodeputado prefere dizer que nos últimos anos tem havido “muitos casos” a fragilizar o Governo (lembrando o caso da Tecnoforma e dos swaps, um “calvário” sem fim) e que é fundamental agora “ultrapassar a espuma dos dias”.

Posição diferente tem em relação a António Costa, que acusa de ser igual a António José Seguro. “Curiosamente há grande continuidade entre António Costa e António José Seguro. O que mostra que o problema do PS não é de rostos ou pessoas, é um problema estrutural. O PS tem muita dificuldade em compreender o mundo em que estamos hoje. Os partidos socialistas perderam essa corrida de compreensão e de leitura do mundo, isso e claro em toda a Europa e em Portugal”, defende Paulo Rangel.

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Mas há pelo menos uma diferença entre as duas lideranças: António Costa já liderou a Câmara Municipal de Lisboa. “Tem a política dos perdões fiscais que é a velha politica, eu que pensei o Porto tinha conseguido dar o exemplo de separar o futebol da política, mas em Lisboa ainda não se conseguiu chegar a esse patamar”, exemplificou o eurodeputado.

“Eu penso que se alguém tinha ilusões com António Costa, já toda a gente as perdeu”

Sobre o pragmatismo de Costa, Rangel defende que o autarca é um político pragmático, que quer governar ao centro, mas que envia uma ofensiva mais à esquerda que ele próprio para apelar ao eleitorado. “O que ele nos lançou é o que chamo galambismo, uma série de jovens que no fundo podiam estar filiados no Bloco de Esquerda – é o Pedro Nuno Santos, o Sérgio Sousa Pinto, o João Galamba -, que realmente pensam bem, que trazem alguma novidade ao discursos político, mas têm um discurso tão radical que não é sustentável no contexto da União Europeia e de um estado social moderno. Ele lança essas pessoas para a frente e tem pessoas mais pragmáticas, que também são jovens: Fernando Medina na Câmara Municipal de Lisboa, João Tiago Silveira que está à frente da elaboração do programa do PS”, defende.

Um presidente (mais) interventivo à direita?

Sobre nomes de candidatos para as presidenciais, Paulo Rangel tenta esquivar-se a nomes (“Não me arrancam uma palavra”). Mas não se escusou a elogiar tanto Rui Rio – “é uma personalidade que pode dar muito ao país” – como Manuela Ferreira Leite – “sou um grande admirador” – quando questionado sobre os dois ex-dirigentes, com quem tem afinidade política. Mesmo assim, assegura que o centro-direita “tem todas a condições para ganhar as presidenciais, assim saiba escolher o seu candidato”. 

O importante para o eurodeputado é que o próximo Presidente seja “mais interventivo”, de modo a que quando os presidentes ajam, não o façam já em casos extremos como aconteceu no passado com Sampaio/Santana Lopes e Cavaco/Sócrates.

“Como no início não vão chamando a atenção, depois quando têm de intervir já é tarde e têm de intervir de forma brutal”

Nisso, Rangel considera que Mário Soares foi um bom Presidente, “mesmo sendo bastante duro” com Cavaco “porque puxava o melhor dos dois”.

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Sobre o perfil traçado por Cavaco nos roteiros, o eurodeputado declara que não está errado quando diz que terá de ter atenção especial para a política externa, mas admite que pode ser alguém que “nunca tenha exercido um cargo nessas matérias”. “Tem de ter presença mais interventiva para fazer consensos e não ter nenhum problema em vetar diplomas e fazer uma declaração politica”, afirma o social-democrata.

Pode ver aqui a entrevista de Paulo Rangel na íntegra.

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