Para Paulo Rangel, a questão russa é o maior problema com que lida hoje a União Europeia – muito para lá do que se está a passar na Grécia. O problema tem duas dimensões, a primeira das quais é a crise na Ucrânia, defende o eurodeputado e vice-presidente do grupo parlamentar do PPE, em entrevista ao Observador. O que aí vem é uma profunda divisão na UE, alerta:

“Sem dúvida que Putin tem um plano: fazer um anel à volta da Ucrânia, que faria com que este país praticamente deixasse de ter acesso ao mar. A ‘inteligência’ europeia já sabe que estes planos são verdadeiros. Não sei bem como é que vamos lidar com esta ameaça. Com o eixo ortodoxo, que vem de Chipre, Grécia e Bulgária, com o alinhamento surpreendente da Hungria, vai haver uma divisão na União Europeia.”

Uma divisão que já existe, de resto, face à posição por exemplo do Reino Unido, que preferia – garante – um avanço rápido e militar, “pelo menos armando o exército ucraniano”.

“Este é o grande jogo de Putin”, garante Rangel, que vê uma segunda dimensão problemática no que considera ser uma “interferência” da Rússia “nos processos eleitorais da maioria dos países europeus”. “Porque ele não tem dinheiro para financiar a Grécia, mas tem dinheiro para financiar partidos extremistas anti-europeus”, diz o social-democrata.

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“Ele está dentro de cada Estado a incentivar as forças anti-europeias a terem uma voz de destaque. O caso de Marine Le Pen é o mais conhecido, o do Syriza entretanto tornou-se conhecido, mas isso está espalhado por muitos movimentos de extrema-direita e de extrema-esquerda, que são financiados pela Rússia e por Putin”.

Rangel não vê, por isso, outra solução senão uma intervenção mais forte da UE para travar as movimentações do Kremlin. Desde logo reforçando as sanções económicas já aplicadas.

Rangel elogia o presidente francês, François Hollande, por ter travado o “ímpeto” inicial de Angela Merkel de procurar a integração da Ucrânia na UE e na NATO, acha positivo o acordo de Minsk, mas entende que este só serviu para “ganhar tempo.

A outra ameaça: o Estado Islâmico

Por tudo isto, Paulo Rangel entende que a União Europeia já devia ter dado um passo em frente. Por exemplo, criando um embrião de um exército europeu (que “não é para amanhã”, admite), desde logo com a criação de uma força costeira, paramilitar preparada para defender as fronteiras europeias do Estado Islâmico. Porque essa é outra ameaça às portas da Europa. E com alvo definido, diz:

“O grande objetivo que o Estado Islâmico tem é Roma e o Vaticano – toda a inteligência europeia já sabe disto -, para desencadear um ataque ao Papa Francisco. Porque nesse dia a guerra santa estará criada, os cristãos vão sentir-se ressentidos e vão criar um sentimento anti-islâmico muito maior.”

Mas o eurodeputado mostra-se consciente das limitações do projeto. Desde logo porque “só a França e Reino Unido têm uma capacidade militar efectiva” na Europa. “Têm desempenhado missões transpatrióticas, como o caso do que fez a França no Mali e no Chade”. Rangel acredita que “devia ser a UE a custear estas operações”. E mais:

“Podíamos ter uma espécie de quartel-general que pelo menos fazia as contas e encarregava o exército britânico e o francês de liderarem algumas operações em que pudéssemos estar presentes.”

Mesmo assim, Paulo Rangel admite não ter achado prudentes as declarações recentes do presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker, que defendeu a criação de um exército europeu no contexto da crise ucraniana. “Às vezes tem umas posições um pouco deslocadas. Fazia muito mais sentido falar do exército europeu a propósito do terrorismo ou do jihadismo islâmico do que propriamente a propósito da Ucrânia, porque essa, a resolver-se militarmente, será com a NATO e não com a União Europeia”, defende o eurodeputado.

Ainda assim, avisa, é preciso agir: “As ameaças estão aí por todo o lado”. E na fronteira da UE. Nós temos de estar preparados para isto”.

Pode ver aqui a entrevista de Paulo Rangel na íntegra. [jwplatform jixpVbvl]

A parte relativa à Rússia e à ameaça jihadista encontra-se a partir do minuto 46.