A arte urbana está de luto em Lima, no Peru. Primeiro foi um mural que retratava o indígena peruano (e revolucionário) Tupac Katari, depois um que mostrava um rapaz a empilhar tijolos: ambos os murais sofreram o mesmo destino e foram totalmente cobertos por tinta amarela. A comunidade artística de Lima, uma cidade com quase 500 anos fundada pelo conquistador espanhol Francisco Pizarro, está furiosa, diz a Reuters.

Mais do que zangada, está também desconfiada, não fosse o amarelo a cor do mais recente partido político do atual presidente da Câmara, Luis Castañeda. Na passada quinta-feira, escreve o El País, Castañeda quebrou o silêncio e anunciou que vai cobrir cerca de 60 murais, realizados por peruanos e estrangeiros, por considerar que não se adequam com o centro histórico de Lima.

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O ato está a ser encarado como uma forma de encobrir — literalmente — os esforços da antiga presidente da Câmara, Susana Villaran, que recebeu as pinturas com agrado. Os murais condenados a desaparecer foram pintados num bairro violento da cidade entre 2011 e 2014, anos correspondentes ao período em que Villaran esteve no poder — ela que é considerada a arqui-inimiga de Castañeda.

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A medida faz parte de um plano maior do governo para renovar o centro histórico e está a causar polémica entre a comunidade artística emergente na cidade. Segundo um designer de 36 anos citado pela Reuters, Elliot Urcuhuaranga, a estratégia pode funcionar ao contrário, no sentido em que “convida” artistas urbanos a cobrir o centro de Lima com novas pinturas. O espanhol El País cita o mesmo artista que, em declarações televisivas, pôs o dedo na ferida: “Isto deve-se a uma rivalidade política”.

O certo é que o debate já chegou à Internet, onde se encontram reações que contrariam a decisão do governo. Assiste-se, inclusive, à proliferação de memes relacionados com o assunto.