O Likud, partido do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu, venceu as eleições legislativas em Israel. Às 6h45 (hora de Lisboa), mais de 96% dos votos já foram apurados e os resultados apontam para que este partido consiga entre 29 e 30 lugares parlamentares, face aos 24 que a União Sionista deverá alcançar.

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Trata-se de uma vitória surpreendente para o partido de Netanyahu, uma vez que as sondagens apontavam, até esta terça-feira, que seria a União Sionista a impedir o atual primeiro-ministro de atingir um quarto mandato. Aliás, às primeiras horas da madrugada de quarta-feira chegou a pensar-se que haveria um empate técnico entre as duas forças políticas (27 lugares para cada uma), o que forçaria a um bloco central.

Apesar da vitória, o Likud tem ainda que negociar com partidos mais pequenos para formar governo. Cerca das 8h30 locais (6h30 em Lisboa), Netanyahu emitiu um comunicado onde afirmava a sua intenção de que pretende iniciar negociações para uma coligação o mais rápido possível. “A realidade não fica à nossa espera. Os cidadãos de Israel esperam que rapidamente cheguemos a uma liderança que trabalhe pelo bem da segurança do país, da economia e da sociedade, tal como prometemos – e é isso que faremos”, disse o primeiro-ministro israelita, assim que soube que o Likud iria ganhar, citado pelo The Jerusalem Post.

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Segundo este jornal, Netanyahu enviou convites aos líderes do Bayit Yehudi, do Kulanu, do Yisrael Beytenu e do Shas para iniciarem conversas com vista à formação de governo. Trata-se de partidos de direita, de inspiração nacionalista e/ou judaica. No entanto, não é improvável que a União Sionista venha também a ser consultada. Isaac Herzog, ao comentar a vitória de Netanyahu e ao parabenizá-lo, não quis rejeitar liminarmente a hipótese de a coligação de centro-esquerda que lidera entrar nas negociações. “Nada mudou, continuaremos a lutar por uma sociedade justa”, disse apenas.

Cautela na Casa Branca

Ainda as sondagens à boca das urnas davam um empate técnico entre os dois maiores partidos israelitas e já Benjamin Netanyahu se congratulava com aquilo que designou como “uma grande vitória”.

O entusiasmo do primeiro-ministro – que passou toda a noitetweetar – justifica-se de certa forma por a campanha eleitoral ter sido particularmente dura para o Likud e para si, que foi posto diretamente em causa durante todo o processo. Mas Netanyahu também disparou as armas que tinha e causou polémica junto da população muçulmana da Palestina e da comunidade internacional. Ainda na segunda-feira, na véspera das eleições, o líder israelita comentava que, enquanto fosse primeiro-ministro, um estado palestiniano seria uma miragem. Esta posição, que contraria a que manifestara em 2009, foi justificada por Netanyahu com o Islão radical que constitui uma ameaça para Israel.

Também com os Estados Unidos, parceiro histórico daquele país do Médio Oriente, as relações já foram melhores. A ida de Netanyahu ao Congresso americano, no início do mês, sem a concordância de Barack Obama, marcou um novo ponto alto da tensão entre os dois líderes. Ainda esta terça-feira o diretor do Instituto Português de Relações Internacionais e Segurança, Paulo Gorjão, comentava ao Observador que “nada de positivo” poderia acontecer nas relações entre os dois países.

“Não facilitará a vida a Obama. A questão do Irão continua a ser uma questão muito complicada de gerir. Não auguro nada de positivo para a relação entre Israel e EUA se Netanyahu se mantiver no poder. Se ‘Bibi’ [Netanyahu] voltar a ganhar, vamos ter mais do mesmo, em relação a EUA, Palestina e no contexto do Médio Oriente”, disse.

Da Casa Branca, aliás, a primeira reação aos resultados eleitorais israelitas foi de cautela. Foi emitido um comunicado, logo ao início da noite, quando o desfecho ainda era incerto, onde se lia apenas que Obama está “empenhado em trabalhar proximamente com o vencedor das eleições”, acrescentando depois que o seu objetivo era “aprofundar a forte relação entre os Estados Unidos e Israel – e o presidente está confiante de que conseguirá fazer isso com quem quer que o povo israelita escolha”.

Apesar da esperança de Obama, o que parece certo é que o presidente americano teria preferido que não fosse Netanyahu a vencer as eleições, uma vez que, nos últimos tempos, a tensão entre os dois tem aumentado cada vez mais. “Ele [Netanyahu] sobreviveu ao canibalizar parte da direita e também ao tomar posições políticas que é provável que criem ainda mais fricção com Washington”, comenta David Makovsky, ex-membro da equipa de Obama para a resolução do conflito israelo-palestiniano, à Reuters.