José Sócrates poderá ser, afinal, proprietário de mais dois imóveis em Lisboa e de um terreno em Sintra. Pelo menos, esta é a convicção da equipa do Ministério Pública liderada por Rosário Teixeira e do juiz Carlos Alexandre, que não estão convencidos com a versão apresentada pelo antigo primeiro-ministro – José Sócrates sempre disse que apenas era dono de um apartamento na Rua Braamcamp, em Lisboa.

A notícia foi avançada pelo Diário de Notícias, que cita o despacho do juiz de instrução. Ora, segundo o mesmo despacho de Carlos Alexandre, Carlos Santos Silva terá comprado um apartamento na Rua Manuel Fonseca, em Lisboa, tendo este sido pago com um leasing bancário, primeiro a partir de uma conta no Banco Espírito Santo e, depois, através de uma conta no Barclays. No entanto, a investigação detetou movimentos de dinheiro entre esta última conta e uma outra também no Barclays que levantaram suspeitas: o dinheiro circularia de uma conta para outra para cobrir as despesas do leasing bancário. Este, alegado, esquema de circulação de dinheiro poderá ser uma das peças do puzzle “Operação Marquês”.

Mas há mais: um ano depois, em 2007, o mesmo esquema de circulação de dinheiro terá sido utilizado para a aquisição de um terreno na Quinta da Beloura, em Sintra. Já o terceiro negócio suspeito envolve um apartamento na Rua Soeiro Pereira Gomes, também em Lisboa. O imóvel foi comprado em 2010 – já com José Sócrates como primeiro-ministro – ao fundo de investimento Imolux, através de uma conta no BES. Escreveu Carlos Alexandre que essa conta do BES, “que se indicia ser um património apenas sob gestão de Carlos Santos Silva, na realidade pertence a José [Sócrates] Pinto de Sousa”.

Dois anos depois, novo negócio nebuloso entre o empresário da Covilhã e, desta vez, a mãe do ex-primeiro-ministro: segundo o despacho do juiz Carlos Alexandre, Carlos Santos Silva comprou um apartamento no edifício da Rua Braamcamp, movimentando para tal fundos de uma conta no BES. Seguindo o rasto do dinheiro, a investigação acredita que os 520 mil euros que Santos Silva pagou a Maria Adelaide foram, depois, transferidos para uma conta de José Sócrates na Caixa Geral de Depósitos.

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Mas não são só os registos bancários a incriminarem José Sócrates – o antigo primeiro-ministro foi apanhado em escutas telefónicas a pedir, alegadamente, mais dinheiro aos seus contactos, escreveu o DN. E aqui, um pormenor: além das expressões já conhecidas, como “as fotocópias” e “os livros de dossiê”, Sócrates utilizava, ainda, um outro código. Ao telefone, o ex-primeiro-ministro pedia “um bocadinho daquilo que gosto [gosta] muito”.

Além dos telefonemas a Santos Silva, foram ainda captadas conversas com André Figueiredo, antigo chefe de gabinete de José Sócrates, a quem o ex-primeiro-ministro terá confiado uma quantia entre 10 mil e 50 mil euros em numerário para ajudar na operação montada, alegadamente, para aumentar as vendas do livro escrito por José Sócrates, “A Confiança no Mundo”.

Contactado pelo mesmo jornal, André Figueiredo foi claro: “Desconheço o tipo de procedimentos que vem relatado e, por consequência, nego por completo qualquer envolvimento ou ação da minha parte”.