Em dezembro de 2010, o pânico: estaria o açúcar a esgotar-se? O rumor espalhou-se, os portugueses correram para as superfícies comerciais e as prateleiras ficaram vazias, mesmo com restrições no número de pacotes que podiam ser vendidos a cada cliente. Por momentos, temeu-se que fosse o início do fim do chamado ouro branco. E que, à mesa de Natal, os doces não fossem tão doces assim. Cinco anos depois, a notícia é a inversa. A produção de açúcar disparou e o preço em queda preocupa a Organização Internacional do Açúcar.

“O mundo nunca foi tão inundado de açúcar”, pode ler-se no jornal espanhol El País. Pelo quinto ano consecutivo, a produção vai exceder a procura, no caso em 620 mil toneladas, elevando o stock para um nível recorde de 79,89 milhões de toneladas. Um número que, de acordo com dados da Organização Internacional do Açúcar (ISO), seria suficiente para abastecer durante quase um ano os sete principais países consumidores.

O que podem ser boas notícias para os consumidores, são más notícias para os produtores, já que o excesso de oferta tem provocado uma queda nos preços. Este mês, o preço internacional do açúcar chegou ao valor mínimo dos últimos seis anos, com um mercado em superavit e um cenário que exige uma “revisão” na cadeia do produto, afirmou o presidente da ISO, José Orive, durante a abertura do Sugar & Ethanol Brazil 2015, evento que reuniu, esta semana, especialistas do setor açucareiro em São Paulo, no Brasil.

Orive lembrou que no Brasil, o maior produtor mundial de açúcar, o setor está próximo da linha que divide o lucro das perdas. De acordo com a Agência EFE, nos últimos meses, 60 fábricas interromperam a produção e outras 10 estão em alerta pela situação delicada que atravessa o setor. Isto porque os agricultores estão a aumentar as exportações para tirar proveito da queda do real, o que aumenta as suas margens de lucro. As colheitas que no ano passado foram afetadas pela seca estão recuperadas graças às chuvas. A produção de cana de açúcar também cresceu na Índia e na Tailândia.

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Para fazer face ao problema, José Orive fez um apelo: “Maior popularidade do açúcar é boa para a indústria em todo o mundo e não há quem possa negar isso“, disse. Para empresas que dependem do açúcar como matéria-prima, como a Krispy Kreme Donuts e a Mondelez International, fabricantes de chocolates Cadbury e das bolachas Oreo, por exemplo, a queda do açúcar ajuda a compensar o aumento do preço de outras matérias-primas, como o cacau.

Na Europa, a população consumiu uma média de 37,1 quilos de açúcar em 2013, em comparação com 35,1 quilos em 2011. Nos Estados Unidos, o consumo aumentou de 31 para 32,5 quilos por pessoa, de acordo com a organização com sede em Londres. A média mundial é de 23 quilos por pessoa. No entanto, no caso da América Latina, o presidente da ISO afirmou que as previsões mostram que, em 2020, cerca de 60% da cana-de-açúcar processada na América Latina será utilizada para produzir etanol e 40% destinar-se-á ao consumo alimentar.