O Papa Francisco denunciou, no final da Via-Sacra, a pena de morte, a pedofilia, e as perseguições religiosas.

No final das 14 estações que compõem a Via-Sacra e representam a condenação, execução na cruz, morte e sepultamento de Jesus Cristo, Francisco denunciou “a crueldade” de algumas situações atuais que correspondem ao calvário de Cristo, como a corrupção ou a indiferença das pessoas perante quem sofre.

Também lembrou “os irmãos cristãos” que “são perseguidos, decapitados e crucificados aos olhos de todos e, frequentemente, sob um silêncio cúmplice”.

Num telegrama, enviado também na sexta-feira, o Papa também condenou o ataque à universidade de Garissa no Quénia, que aconteceu na passada quinta-feira, e que foi reivindicado pelo grupo jihadista somali Al Shaabab. Num momento inicial do ataque, os homens armados dispararam ao acaso, mas depois mantiveram refém um grupo indeterminado de estudantes e professores com o objetivo de matar todos os que não fossem muçulmanos.

“Sua Santidade condena este ato de brutalidade sem sentido e reza por uma mudança de atitude dos seus autores”, pode ler-se num telegrama de pêsames que o secretário de Estado vaticano, Pietro Parolín, enviou em nome do pontífice ao arcebispo de Nairobi, John Njue.

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No telegrama, refere-se que o papa está “profundamente entristecido pela imensa e trágica perda de vidas causada pelo ataque à Universidade de Garissa”.

Na mensagem, apelou ainda para que todas as autoridades “redobrem os seus esforços para trabalhar com todos os homens e mulheres do Quénia para pôr fim a essa violência e acelerar o amanhecer de uma nova era de fraternidade, justiça e paz”. Francisco exprimiu ainda a sua “proximidade espiritual às famílias das vítimas e a todos os quenianos neste momento doloroso”.

Durante a Via-Sacra, de mais de uma hora de duração, o papa, de 78 anos, manteve-se sentado, em recolhimento profundo. Apesar de presidir à cerimónia, Francisco não transportou a cruz, que passou por várias pessoas até completar o trajeto entre o Coliseu de Roma e a colina do Palatino. Em cada uma das 14 etapas foi lida uma das 14 meditações escritas por Renato Corti, bispo emérito da cidade de Novara (norte de Itália), que referiam problemas atuais como a corrupção de menores.  

A cruz foi transportada por diferentes pessoas – doentes, famílias e católicos do Iraque, Síria, Nigéria, Egito e China. O cardeal vigário-geral de Roma, Agostino Vallini, foi o responsável pelo início e fim da Via-Sacra, e no ano em que o Vaticano vai realizar o Sínodo da Família, de 4 a 25 de outubro, durante três estações sucessivas transportaram a cruz duas famílias numerosas italianas e outra com filhos adotivos naturais do Brasil.  

Também foi abordado “o lugar importante das mulheres nos Evangelhos e o génio feminino”. Nesta ocasião, duas irmãs dominicanas de Santa Catarina de Siena, oriundas do Iraque, transportaram a cruz. Na estação em que a meditação foi dominada por fenómenos como a solidão, o abandono, a indiferença ou a perda de entes queridos, dois homens de nacionalidade síria levaram a cruz.  

Dois cidadãos chineses transportaram a cruz durante uma estação, na qual se meditou sobre “os acontecimentos que violam a dignidade do Homem”, como o tráfico de seres humanos, crianças-soldado ou “o trabalho que se converte em escravatura”. Nesta altura, Corti denunciou a situação “dos rapazes e adolescentes que são ultrajados, agredidos na sua intimidade, barbaramente profanados”, numa alusão às vítimas de abusos sexuais.  

Reunidos em torno do imenso Coliseu, dezenas de milhares de fiéis, muitas vezes com velas na mão, seguiram a cerimónia em silêncio.