Há coisas que são o costume. A norma, por exemplo, diz que jogar à segunda-feira é tranquilo. Porque se a bola tiver de rolar a uma segunda-feira será apenas num jogo, num relvado e com duas equipas que, juntas, pegam na chave para trancar mais uma jornada de futebol. Essas duas dão uns pontapés à bola depois de todas as outras já terem dado os seus. Quem joga à segunda-feira, portanto, sabe o que se passou e, sabendo isso, saberá também o que terá de acontecer para tirar proveito. Isto é costume. E para o FC Porto, o presente que faltava para ligar o passado ao futuro era simples — ganhar para fugir a um rival, o Sporting, e não deixar fugir outro, o Benfica.

Para isso tinha de, neste caso, fazer o costume e ser melhor que o Estoril no Dragão, onde 20 dos anteriores 28 duelos para o campeonato sorriram para o lado azul e branco. E para acrescentar outra vitória a este a equipa de Julen Lopetegui também fazia o habitual. A bola rodava muito, com passes, passes e mais passes que serviam de íman para os adversários se concentrarem de um lado do relvado e, depois, um passe longo tirar a bola dali e colocá-lo no outro lado do campo. Assim chegou a bola, aos 14’, a Brahimi, cujo cruzamento apetitoso não tocou no garfo de Herrera, que se atrasou para tocar na bola que Vagner agarrou.

FC Porto: Fabiano; Danilo, Marcano, Bruno Martins Indi e Alex Sandro; Casemiro, Hector Herrera e Óliver Torres, Ricardo Quaresma, Brahimi e Aboubakar.

Estoril: Vagner; Anderson Luís, Yohan Tavares, Bruno Miguel e Ruben Fernandes; Diogo Amado, Afonso Taira e Felipe Gonçalves; Javier Balboa, Sebá e Fernandinho.

E foi assim, também, que um passe dos rápidos disparado por Casemiro, aos 24’, foi morrer no pé do argelino que, à esquerda, bailou à frente de dois adversários, ultrapassou-os e, já bem perto do poste esquerdo, deixou que o remate fosse bloqueado por uma perna contrária. Os dragões mandavam na bola e o Estoril reinava na cautela, aproximando os jogadores em duas linhas daquelas formadas em fortaleza à volta da área. Tão recuados estavam que difícil ficava lançar contra ataques quando recuperavam bolas e não tinham Fernandinho ou Balboa, os extremos, abertos nas alas para as receberem.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

https://twitter.com/bola24pt/status/585163222728183809

Era o costume: uma equipa chegava ao Dragão cautelosa e obrigava os dragões a darem corda ao carrossel para a desmontar. A meio da primeira parte começaram a dá-la pela direita, pela rotação e cruzamentos de Ricardo Quaresma. Aos 32’ o extremo bailou como sempre o faz, enganou Diogo Amado e, com a canhota, rematou rasteiro e às mãos de Vagner. No minuto seguinte decidiu cruzar. E fê-lo colocando a mira bem perto do segundo poste, onde viu o pequenote Óliver Torres apanhar Anderson Luís distraído, desmarcando-se entre o lateral e a baliza para, já em queda, rematar de cabeça e desviar a bola de Vagner. 1-0 e o sétimo do espanhol na liga, os mesmos de Cristian Tello.

Tão próximos uns dos outros estavam os jogadores do Estoril que, ao recuperarem a bola, facilitavam a vida da pressão rápida ao FC Porto e poucos passes conseguiam ligar (só tinham 77 feitos ao intervalo, contra 266 dos dragões). Isso viu-se logo depois, aos 37’, quando um carrinho raçudo de Danilo desarmou Fernandinho, deixou a bola em Herrera que, depois, lançou a corrida do lateral brasileiro, que cruzou de primeira para Aboubakar, na área, só não marcar porque Ruben Fernandes cortou a bola quase na linha de baliza. Depois foi Quaresma a fazer o costume.

https://twitter.com/bola24pt/status/585166720186372097

Fê-lo quando uma bola que Filipe Gonçalves transformou em rosca em vez de um chuto para a frente lhe foi parar ao pé direito. Aí, aos 46’, voltou a inventar um cruzamento para o segundo poste, a lançar a bola por cima da defesa do Estoril e a encontrar a perna direita de Aboubakar, que dava o 2-0 para os dragões levarem para o intervalo. Dois golos vindos de um par de coisas que Ricardo Quaresma mais costuma fazer: assistências. Depois veio um hábito que o extremo ganhou nos últimos tempos.

O de parar a bola a 11 metros da baliza e marcar penáltis. Começou a assumi-los na época passada, a partir do Natal, quando retornou ao FC Porto — já lá tinha andado entre 2004 e 2008. Foi o que fez aos 52’, depois de Filipe Gonçalves derrubar Brahimi no resvés da área e de o árbitro ver um penálti e marcá-lo. O internacional português, depois, rematou a bola ao ângulo superior esquerdo da baliza e fez o 3-0. Agora sim a segunda-feira ficava tranquila para os dragões. Porque o Estoril continuava encolhido e sem tino no passe para levar a bola controlada até ao ataque. Como o que, aos 55’, Bruno Martins Indi intercetou para impedir que Sebá ficasse com a bola na área portista.

https://twitter.com/bola24pt/status/585172256076275712

E mais forte ficou quando, aos 77’, os 20 anos de Mattheus Oliveira, emprestado pelo Flamengo, resolveram fintar à entrada da área quando a cautela aconselhava a um passe. Resultado: perdeu a bola para a pressão de Quaresma, deixou o extremo a correr solitário com ela para, à saída de Vagner, fintar o guarda-redes com uma bicicleta (passar uma perna por cima da bola) e encostar para o 5-0. Era o sexto golo do extremo na época e o 40.º que marcava no campeonato — hoje não há outro português a jogar por cá que tenha mais golos marcados na primeira liga.

https://twitter.com/bola24pt/status/585177353460023296

Ao Estoril não saía nada: uma jogada na frente, uma saída da defesa com a bola na relva ou um cruzamento dos bons para a área portista. A equipa estava em dia não e, do outro lado, havia vários homens em dia sim. Como Danilo, inflacionado pelos 30,5 milhões de euros que o Real Madrid já pagou por si e que, aos 70’, arrancou pela direita, passou a bola a Aboubakar e lhe pediu uma tabela. O camaronês inventou um toque de calcalhar que lhe devolveu a bola para a frente, para a área, onde brasileiro rematou de pé esquerdo para fazer o 4-0. O cheiro a goleada intensificava-se.

https://twitter.com/bola24pt/status/585178675991175169

Só aqui, com cinco golos sofridos e uma manita igual à que Cristiano Ronaldo, sozinho, marcara no domingo ao Granada, na liga espanhola, é que o Estoril pareceu acordar. E o FC Porto relaxar. Aos 80’, por exemplo, Rúben Neves perdeu a bola perto da área para Léo Bonatini que, porém, apressou a correria, deu um toque a mais na bola, adiantou-a demais e já não foi a tempo de a rematar à baliza de Fabiano. Nada feito. Nem aqui, nem até ao final: o Estoril fechou a partida sem rematar uma vez à baliza dos dragões. Uma coisa que Hernâni ainda fez por duas vezes: aos 85´ acertou-lhe para Vagner defender e, aos 90’, falhou na pontaria.

O Estoril fez muito pouco para o tanto que o FC Porto conseguiu fazer. Foi a sexta goleada dos dragões esta época, no campeonato e a quinta vez que marca cinco golo a alguém (fê-lo também ao Arouca, Gil Vicente, Paços de Ferreira e Rio Ave). Esta vitória vale-lhe para continuar a três pontos da liderança do Benfica e ganhar dois ao Sporting, que assim fica à distância de oito pontos.