Uma nova cidade está a nascer em Ocumare, um município a 60 quilómetros de Caracas, pelas mãos do grupo Lena, de Leiria, que conseguiu um contrato para a construção de 50 mil casas.

Aproveitando a oportunidade criada pela política de apoio social aos mais pobres do Presidente venezuelano, Nicolás Maduro, o grupo Lena conseguiu um contrato milionário e vai continuar nos próximos anos na Venezuela a construir casas e mais casas.

O défice habitacional do país é enorme, assim como os índices de pobreza, que têm vindo a reduzir mas continuam muito elevados.

O Governo “chavista” de Maduro propôs-se atribuir aos mais pobres dois milhões de casas até 2017, um plano ambicioso, para o qual o Grupo Lena está a contribuir com a construção de milhares de apartamentos.

Dois milhões de casas significam cerca de 10 milhões de pessoas, o que representa um terço da população.

O projeto, lançado ainda durante a presidência de Hugo Chávez, em 2011, “Gran Missión Vivienda Venezuela”, constitui assim um dos principais trunfos eleitorais do Governo socialista de Nicolás Maduro.

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A empresa de Leiria organizou um sistema que lhe permite prosseguir a construção dos apartamentos quase totalmente independente das inacreditáveis flutuações dos preços de mercado que caracterizam o país nos últimos tempos.

Construiu duas fábricas que produzem os painéis das paredes. Tudo o resto resulta de matérias-primas que chegam a Caracas através de transporte marítimo, todas elas oriundas de Portugal.

Estruturas metálicas, cozinhas, os vidros das janelas, os alumínios, as tubagens, o ferro para as malhas das cofragens, todas as toneladas de material que estão a ser usadas na construção destes prédios representam exportações portuguesas.

Numa das zonas do núcleo habitacional já estão instaladas 600 famílias (mais de duas mil pessoas), a entrega das chaves foi feita em novembro.

A grande maioria das famílias que ali vive é proveniente de bairros pobres, algumas até estavam no centro de Caracas, no mal-afamado arranha-céus Torre David, onde ainda permanecem 300 famílias.

Rebecca mora no piso 4 de um dos blocos. Está sozinha porque o marido foi trabalhar. Vive ali desde novembro, tendo deixado o apartamento improvisado no piso 12 da Torre David. Agora vai lá visitar a irmã e a mãe quando pode, aos fins de semana.

Não quis desperdiçar a oportunidade de ganhar uma casa oferecida pelo Estado, embora a distância da família a entristeça um pouco.

Gosta da casa, mas queixa-se da distância de Ocumare para Caracas e da temperatura: “Isto é muito quente”, diz. A mãe e a irmã, que continuam a viver na Torre David, aguardam a entrega de casa, mas estas dizem que só aceitam a oferta do Governo se for em Caracas, não querem ir viver para longe.

A equipa de reportagem da Lusa encontrou a irmã de Rebeca no piso 12 da Torre David. Trabalha numa fábrica de moldes para a indústria panificadora. Ainda não se sabe o que vai acontecer a esta pequena unidade industrial, com cerca de 20 funcionários quando, no final do ano, a torre for toda evacuada.

A “peluquera” (cabeleireira) Keilla tem 50 anos, já tem tudo arrumado na sua sala. O espelho, o lavatório a cadeira e o secador e todos os acessórios. À porta de casa já lá está o anúncio, reconhecendo que o negócio não vai bem.

Keilla viveu seis anos na Torre David, em Caracas, no piso 12, onde tinha muitos clientes. Em Ocumare ainda vive pouca gente e o negócio “está fraco”.

Ainda este ano, provavelmente antes das eleições gerais preanunciadas para dezembro, representantes do Governo de Nicolás Maduro viajarão a Ocumare para inaugurar mais uns milhares de apartamentos.