O partido Livre, de Rui Tavares, que vai concorrer às eleições legislativas através da candidatura Tempo de Avançar, quer fazer um acordo pré-eleitoral com as forças políticas anti-austeridade. A ideia, saída de uma reunião realizada este domingo, é pôr todos os partidos que estejam contra as políticas de austeridade do atual Governo a assinar um documento conjunto, a que chamam de “Agenda Inadiável”, com vista “à construção de uma nova maioria parlamentar”.

“A proposta que submetemos às forças políticas que se têm oposto à austeridade é simples e clara: não esperar pelo dia seguinte às eleições para criar entendimentos”, lê-se no comunicado divulgado após uma reunião do Conselho da candidatura, que teve lugar este domingo, num hotel de Lisboa. Ou seja, o mote é de construção de uma espécie de aliança pré-eleitoral à esquerda, que destrone a atual maioria PSD/CDS no Parlamento.

Para o Livre/Tempo de Avançar, a construção de uma “alternativa” de governação, que resulte numa “profunda recomposição da Assembleia da República” é uma possibilidade concreta que “pode acontecer já em outubro”. Mas para isso, dizem, é preciso que os vários movimentos e partidos à esquerda, “que se têm oposto à austeridade”, se unam em torno desse objetivo. “É preciso encontrar denominadores comuns comuns para governar contra a austeridade”, lê-se.

Esse entendimento “não pode esperar pelo dia seguinte às eleições”, já que “os portugueses têm o direito de saber ao que vêm no dia em que são chamados a votar”.

O mesmo se aplica no sentido inverso, com a candidatura Tempo de Avançar a afirmar, num recado que pode ser entendido como dirigido ao Partido Socialista, que “é preciso saber também se os eleitos que se afirmam determinados a enfrentar a austeridade também estão dispostos aos entendimentos necessários para o conseguir”. Caso o PS vença as legislativas sem maioria absoluta, pode ser obrigado a escolher virar-se para a direita, para a esquerda ou para o centro-direita com vista a poder governar.

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No comunicado, o partido de Rui Tavares, que agora se juntou a outros movimentos onde estão figuras como os ex-bloquistas Ana Drago e Daniel Oliveira, é claro no seu objetivo: “Construir já esses acordos sob a forma de uma Agenda Inadiável escrita em conjunto”, que seja depois incluída nos programas de candidatura de “todas as forças políticas dispostas a formar na Assembleia da República uma nova maioria contra a austeridade”.

Renegociar a dívida pública, valorizar o trabalho e proteger os desempregados, foram alguns dos eixos de atuação definidos pela candidatura na reunião deste domingo, onde também foi tratada a questão da realização de eleições primárias abertas para escolher os candidatos a integrar as listas.

Na altura em que foram anunciados os primeiros contactos entre o Livre e os movimentos de esquerda como a Fórum Manifesto e a Renovação Comunista, que depois deu origem à candidatura Tempo de Avançar, os promotores do movimento nunca recusaram uma aproximação ao PS como eventual parceiro de coligação governativa. No congresso socialista de novembro, que oficializou a liderança de António Costa, o próprio Rui Tavares marcou presença no evento.

Além do Livre/Tempo de Avançar, deverão apresentar-se às legislativas do outono outros movimentos políticos à esquerda, com vista à conquista dos votos dos descontentes e abstencionistas. É o caso do Juntos Podemos, que se centra no partido MAS (Movimento Alternativa Socialista), e do Agir, da ex-bloquista Joana Amaral Dias, que recentemente anunciou um acordo de coligação com o Partido Trabalhista Português. Para se apresentarem a eleições, é obrigatório que as forças políticas sejam reconhecidas formalmente como partidos junto do Tribunal Constitucional.