Os Estados Unidos da América, a Rússia, a China e o Brasil são países que estão sempre no topo do ranking do cibercrime. Mas entre tais potências encontra-se Râmnicu Vâlcea, uma pequena cidade no centro da Roménia. O aparente silêncio e serenidade da cidade escondem a realidade de um negócio que movimenta mais de 543 849 milhões de euros, que equivale ao PIB de um país médio e ultrapassa o negócio do tráfico de drogas. Por isso, não é por acaso que é apelidada de “Hackerville” e considerada uma das capitais do cibercrime.

Apesar de ainda se sentir o ambiente soviético do antigo regime de Nicolae Ceausescu, a pequena cidade, com 92.573 pessoas de acordo com o último census, está repleta de carros de luxos estacionados por toda a parte, de acordo com uma reportagem da Wired. Este contraste deve-se aos jovens entre os 20 e 30 anos que enriquecem ao infetarem várias empresas com malware, um tipo de software capaz de se infiltrar nos sistemas informáticos causando danos, alterações e roubos de informação.

“O mundo em que vivemos é enorme e está cheio de idiotas prontos para comprar qualquer coisa pela internet” disse um hacker ao portal Worldcruch.

“Vendemos produtos fictícios, clonamos sites e hackeamos cartões de crédito. Na Europa, para ganhar dinheiro, nós usamos os flechas (mulas financeiras). O único trabalho deles é retirar o dinheiro enviado para uma conta. Ficam com30% da quantia e enviam-nos o resto pela Western Union,” acrescentou o hacker, que explica assim a razão para o aparecimento de inúmeros Western Unions no centro da cidade romena.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

O fenómeno do cibercrime começou a crescer em 1996 e teve um efeito bola de neve na cidade. Só em 2002 autoridades internacionais como a Interpol e o FBI começaram a prestar mais atenção ao fenómeno, mas é cada vez mais difícil apanhar um hacker romeno.

Os cibercriminosos têm vindo a desenvolver formas de se tornarem ainda mais invisíveis e aperceberam-se que são mais eficazes se trabalharem em rede.

“Costumávamos ficar a noite inteira em frente ao computador. Até usávamos miúdos de 14 anos. Íamos buscá-los aos orfanatos, ensinávamos os miúdos a serem hackers e eles começariam a trabalhar para nós,” relembrou o hacker que falou à Worldcrunch.

Os mais expostos são os já citados flechas, que usam sempre documentos de identificação falsos. A Wired entrevistou a irmã de Romeo Chita, um flecha que criou a sua própria rede no Reino Unido, que foi detido em 2008 e passou apenas 14 meses na prisão. “Não sabe falar inglês, o que torna impossível que tenha publicado anúncios ou trocado correio electrónico com compradores. Ele nem sequer tem e-mail. Como pode, então, ter comportamentos fraudulentos na internet?” disse ela.  Sem provas, esta rede de cibercrime está preparada para não ser posta em causa caso um ou dois flechas seja detido, pois a origem do crime nunca é exposta. E assim se mantém quase intocável e indetetável.

“Ninguém realmente sabe como estes miúdos começaram a burlar pessoas e empresas na Internet. Se descobrirem avisem-nos,” desabafou à Worldcruch o líder da Diretoria de Investigação de Crime Organizado e Terrorismo romeno, Codrut Olaru, que se mostra preocupado pelo potencial crescimento desta rede criminosa.