Vacinas que protegem contra a pneumonia, meningite e gastrenterite aguda, são as que mais comummente são recomendadas pelos pediatras em Portugal, ainda que não estejam no Plano Nacional de Vacinação. A toma destas vacinas facultativas é uma escolha das famílias, mas o custo das mesmas pode ser um fator dissuasor. Para aumentar o número de crianças protegidas pela vacina antipneumocócica, o Estado anunciou que vai ajudar as famílias mais carenciadas a comprá-la, mas os detalhes desta comparticipação só serão conhecidos no final do mês.

O Plano Nacional de Vacinação (PNV) é universal e gratuito. E é fortemente recomendado pela Direção-Geral de Saúde, pelos pediatras e pelos médicos de saúde pública. Mas existe um conjunto de outras vacinas sobre as quais a Comissão de Vacinas da Sociedade de Infeciologia Pediátrica (SIP) e Sociedade Portuguesa de Pediatria (SPP) já elaborou recomendações. Os pediatras têm o dever de informar as famílias sobre a existência destas vacinas e sobre as vantagens, refere o presidente da comissão, Luís Varandas. Mas a opção da toma de vacinas fora do PNV deve ser uma decisão partilhada entre o médico e a família.

Conforme Luís Varandas explicou ao Observador, as recomendações são dirigidas aos pediatras para que estejam melhor informados para falar com as famílias. O foco não é a relação custo-benefício, mas numa vertente mais científica sobre a eficácia e segurança das vacinas que os pediatras podem optar por recomendar aos pais. Entre elas, as vacinas antipneumocócica, antimeningocócica e antirotavírus (contra pneumonia, meningite e gastrenterite aguda, respetivamente), mas também contra a hepatite A ou contra a tosse convulsa. Neste momento a Comissão de Vacinas da SIP/SPP está a trabalhar nas recomendações em relação à toma da vacina contra o papilomavírus humano por rapazes (por enquanto só as raparigas são contempladas no PNV).

As vacinas antipneumocócica, antimeningocócica e antirotavírus, são as mais recomendadas pelos pediatras. A título pessoal, e enquanto pediatra, Luís Varandas recomenda as três, por esta ordem de prioridade. Mas sabe que há fatores a ter em consideração, tanto em termos individuais – como os encargos para as famílias – como em termos nacionais – se o custo da vacina é menor que todos os custos que estariam associados à doença.

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  • Vacina antimeningocócica

A meningite tipo B, causada pela bactéria Neisseria meningitidis, é uma doença muito rara, mas muito grave, refere Luís Varandas. “Em Portugal há 40 ou 50 casos por ano, mas a taxa de mortalidade pode chegar aos 10%.” A vacina contra a meningite tipo C já faz parte do PNV desde 2006, o que levou à quase ausência de casos de doença por este grupo de bactérias, segundo um relatório de 2012 do Instituto Nacional de Saúde Dr. Ricardo Jorge. Mas a vacina contra a meningite tipo B só foi aprovada no mercado europeu há um ano.

Luís Varandas reforça que a inclusão das vacinas nos planos nacionais depende da situação de cada país. A Austrália, Nova Zelândia e Reino Unido incluíram recentemente a vacina antimeningocócica nos planos nacionais de vacinação, porque nestes casos os benefícios compensavam os custos, refere o pediatra. Em Portugal, a vacina Bexsero, dos laboratórios Novartis, é comercializada por 95,06 euros cada dose, segundo os dados do Infarmed, e são recomendadas três doses por criança.

  • Vacina antirotavírus

Ao contrário da meningite tipo B, a doença causada pelo rotavírus – gastrenterite aguda – é muito frequente, mas “a probabilidade de causar a morte num país europeu é extremamente baixa”, nota Luís Varandas. A maioria das crianças tem pelo menos um episódio da doença, mas nos países desenvolvidos grande parte dos casos não necessita sequer de hospitalização. Já nos países na América do Sul, África e Ásia, o pediatra diz que se justifica que a vacina antirotavírus faça parte dos planos nacionais de vacinação porque a doença pode ter consequências na criança mais graves do que nos países da Europa.

As vacinas contra o rotavírus são comercializadas em Portugal desde 2006. Embora de dois laboratórios diferentes, as vacinas têm, segundo o pediatra, um efeito equivalente. Rotatix, dos laboratórios GlaxoSmithKline, exige duas doses de 71,08 euros cada, e RotaTeq, dos laboratórios Sanofi, tomada em três doses de 51,18 euros cada (valores no site do Infarmed).

  • Vacina antipneumocócica

A coligação PSD/CDS incluiu no pacote de medidas de incentivo à natalidade recentemente apresentado recomendações para que sejam estudadas, em contexto nacional, as vacinas antimeningocócica e antirotavírus. Em relação à vacina antipneumocócica, o Ministério da Saúde anunciou que iria disponibilizar seis milhões de euros até ao final do ano para apoiar as famílias mais carenciadas na compra da vacina que protege contra as infeções causadas pela bactéria Streptococcus pneumoniae, como pneumonia, meningite, sépsis, otite média aguda ou sinusite.

Luís Varandas, enquanto presidente da Comissão de Vacinas da SIP/SPP, prefere esperar pelo fim do mês para conhecer melhor os detalhes da comparticipação, mas alerta que este apoio diferenciado pode criar situações de desigualdade no acesso aos cuidados de saúde. O pediatra lembra que “o Governo já está a dar [gratuitamente] esta vacina a grupos de risco” e que isso parece ser “consensual”, mas escolher apenas algumas pessoas para receberem comparticipação pode criar alguns problemas.

“O ideal era que fosse para todos”, diz Luís Varandas, acrescentando que Portugal e Espanha são os únicos países da Europa que não têm esta vacina no Plano Nacional de Vacinação. Os estudos realizados noutros países demonstram que os benefícios da vacinação compensam os custos, mas o presidente da Comissão de Vacinas da SIP/SPP lembra que este tipo de estudos não existe em Portugal. E sem se aferir qual a relação custo-eficácia em Portugal, a SPP não tem base para defender a inclusão no PNV.

A vacina Prevenar13, dos laboratórios Pfizer, é comercializada em Portugal desde 2001. A vacina, que é dada em duas ou três doses de 59,49 euros cada (dados do Infarmed), pretende proteger contra 13 serótipos da bactéria. Luís Varandas refere que em alguns países é recomendada a vacina Synflorix, dos laboratórios GlaxoSmithKline. São mais baratas, mas só protegem contra 10 serótipos – o que em Portugal é insuficiente.

Até ao momento da publicação deste texto não nos foi possível falar com a Associação Nacional de Médicos de Saúde Pública.