O líder do PS criticou terça-feira o primeiro-ministro por querer reduzir custos do trabalho, em vez de olhar para o desemprego e para a precariedade num país onde, segundo a OCDE, os salários mais baixaram.

“Portugal é dos países de toda a OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico) em que os trabalhadores mais suportam com impostos e com contribuições para a Segurança Social os custos de funcionamento do Estado. Perante esta realidade qual é a prioridade do primeiro-ministro? É preocupar-se com os baixos salários ou com a tributação dos trabalhadores? Não, é preocupar-se com os custos de trabalho como se fosse o grande problema”, criticou António Costa, no Sobral de Monte Agraço, num sessão do programa Mobilizar Portugal.

Para o secretário-geral do PS, “o primeiro-ministro está enganado, porque o verdadeiro grande problema é o desemprego e a precariedade”, ao interpretar dados hoje divulgados pela Organização de Cooperação e Desenvolvimento Económico.

“Convém ter a noção que somos o quarto país onde os salários mais foram reduzidos durante os últimos anos e onde a pobreza não atinge só as pensões de miséria ou quem está no desemprego. 10% das pessoas que trabalham estão abaixo do limiar da pobreza”, sublinhou António Costa, para voltar a questionar a prioridade de Passos Coelho.

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O socialista defendeu que “o nível de emprego está ao nível de há duas décadas atrás, a queda no investimento privado está ao nível da que havia em 1984, antes da adesão à Comunidade Económica Europeia.

António Costa acrescentou que “a melhor marca do retrocesso é o da emigração, porque é preciso recuar a 1966 para se ter tantos portugueses a emigrar como os que emigraram em 2013”.

Para contrariar a tendência, o socialista defendeu que o futuro do país depende do sucesso na criação de emprego “para impedir” que a mão-de-obra qualificada emigre.

A carga da tributação e despesas sociais nos salários médios subiu 3,9 pontos percentuais em Portugal e desceu em média 0,7 pontos percentuais na OCDE entre 2000 e 2014, segundo um estudo da organização hoje divulgado.

O estudo precisa ainda que desde 2009 a carga da tributação e deduções nos salários de um trabalhador solteiro e sem filhos aumentou em média 4,7 pontos percentuais em Portugal, mas apenas 0,9 pontos percentuais no conjunto da OCDE.

Em Portugal os impostos sobre o rendimento e as contribuições dos trabalhadores para a Segurança Social são representativos de 78% do rendimento bruto total, contra 77% na OCDE.

No seio da OCDE, por ordem decrescente, Portugal ocupa a 11ª posição da carga da tributação e despesas sociais nos salários médios de trabalhadores solteiros sem filhos.