“Prriiii”: rola a bola em Alvalade… golo! Perdão? Foi assim mesmo que arrancou o Sporting-Boavista: Adrien, aos 15 segundos, fez o primeiro da tarde, empurrando assim a equipa da casa para uma tarde tranquila. Mas o guião não seria assim tão pacífico. É que o Boavista empatou logo a seguir, Marco Silva mudou a tática, Tobias Figueiredo voltou a ver o cartão vermelho direto e, na sequência da falta, o Boavista chutou à barra. O herói deste filme seria Slimani, que assinaria o 2-1, o resultado do clássico, um duelo que tanta vez transporta os adeptos para a quentinha década de 90. Uma coisa é certa: Timofte não marcou, como em 1998/99. A máquina do tempo é uma perdição…

SPORTING: Rui Patrício, Cédric, Paulo Oliveira, Tobias Figueiredo, Jefferson, Rosell, Adrien, João Mário, Nani, Carrillo, Tanaka

BOAVISTA: Mika, Philipe Sampaio, Beckeles, Appindagoye, Afonso Figueiredo, Tengarinha, Idris, Zé Manuel, Marek Cech, Diego Lima, Leozinho

O golo mais rápido da Primeira Liga surgiu, à semelhança do que desbloqueou o Belenenses-Benfica, depois de um erro. O bom foi João Mário, que pressionou, o mau foi Philipe Sampaio e o vilão (para Mika e companhia) foi Adrien, que colocou tranquilamente, 1-0. Mas a vantagem não duraria muito. A seguir, aos sete minutos, o Boavista investiu num ataque rápido pela esquerda, que até foi perdendo velocidade mas que gozou da apatia alheia. Zé Manuel, não o de antigamente (este nasceu em 1990), começou a jogada e finalizou-a, de cabeça. Pelo meio intervieram Tengarrinha e Marek Cech, ex-jogador do FC Porto.

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A loucura inicial abrandaria. O ritmo cairia a pique, o duelo, um clássico de antigamente, perderia intensidade. Para o Boavista, que chegava exatamente como Marco Silva previra (bloco curto e estacionado atrás), estava tudo bem. O Sporting estava lento, com poucas ideias e sem a ajuda das asas Nani e Carrillo, que voltaram a entrar tímidos (e assim continuariam).

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Durante algum tempo, a partida sem qualquer interesse teve um protagonista: Apindangoye. Este senhor de 23 anos, nascido em Franceville, no Gabão, quase marcou, em dose dupla até, mas na baliza do Boavista. A traição nunca chegaria, e este defesa acabou por registar apenas competência na arte de defender.

À passagem da meia hora, com a posse de bola a crescer para os homens da casa (chegaria aos 70%), Marco Silva não estava satisfeito e mudou: Rosell deu lugar a Slimani. E porquê? Porque o Boavista não queria a bola e sentia-se confortável a defender perto do seu guarda-redes, Mika. Ou seja, em vez de ter um homem solto no meio-campo, para começar as jogadas entre os centrais subidos, o treinador do Sporting preferiu emprestar peso ao ataque dos leões. Por esta altura aquecia também Carlos Mané, o que atestava a insatisfação de Marco Silva.

Perto do intervalo, o duelo que ardia em lume brando voltou a ganhar chama intensa. Primeiro, aos 39′, Philipe Sampaio e Mika não se entenderam e deixaram a bola rolar na grande área, mas acabaram por ter sorte porque Slimani não chegou à bola. A seguir, aos 45′, Tobias Figueiredo voltou a ver um cartão vermelho direto. É o terceiro vermelho da época para o central, sendo que o primeiro deles foi ao serviço do Sporting B. O segundo deles, frente ao Penafiel, foi em março, e logo aos 10′, quando os leões venciam por 2-0. A precipitação do jovem central deu pujança à equipa de Rui Quinta, que chegaria ao empate. No seguimento do livre, o Boavista rematou à trave. O autor foi Zé Manel.

Este é um Boavista surpreendente. Está prestes a garantir a manutenção, algo que muitos achavam impensável para uma equipa que saltava dois escalões. Depois, conseguiu responder ao golo de Adrien aos 15 segundos, que poderia ter anulado a coragem dos visitantes. A bola não é para eles, já se sabe, mas sim a paixão e a pedalada na hora de defender. Leozinho, um brasileiro de 26 anos, natural de Fortaleza, era o que se dava melhor com a bola. Aquela canhota mostrava aqui e ali que tinha queda para a coisa. Intervalo.

O descanso trouxe mais uma mudança: William Carvalho por Tanaka, para equilibrar a equipa — não havia centrais no banco. Os quase 36 mil adeptos em Alvalade teriam ainda de sofrer um bocadinho, até chegar aquele momento mágico. Adrien, aos 54′, tentou antecipá-lo, após combinação com Nani: resolveu e muito bem Mika. Apesar de ter um homem a menos, estava tudo igual: o Sporting mandava.

Brito foi lançado às feras, um extremo rápido que deu nas vistas no Gil Vicente. Mais tarde chegaria Uchebo, um nigeriano que até esteve no último Campeonato do Mundo, completando assim o trio de ataque habitualmente titular montado por Petit. O golo do Sporting chegou precisamente entre essas duas substituições. O desbloqueador deste problema complicada foi um homem danado para a coisa: Slimani. O avançado atacou o segundo poste com aquele jeito felino do costume após cruzamento de alto gabarito de Carrillo, que ainda pingou à frente de Mika, 2-1. O argelino assinava o 12.º da época (11 no campeonato) e o peruano chegava também ele às 12 assistências.

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O Boavista, agora sem nada a perder, queria finalmente discutir o jogo, olhando com outros olhos para a baliza de Rui Patrício. E, já se sabe, quando se tapa de um lado, destapa do outro. Por isso, houve mais espaço para o Sporting navegar nas águas inimigas. A velocidade de Carlos Mané seria importante na última fase da partida.

E a ousadia dos visitantes quase deu frutos, aos 86′. Depois de alguns ressaltos, assuntos mal resolvidos e pouca clareza, William Carvalho lá despachou uma bola, na área dos leões, que estava prontinha para sofrer um pontapé de Uchebo, o tal avançado nigeriano.

Philipe Sampaio, que já tinha ficado ligado ao primeiro golo do Sporting, deu continuidade ao pesadelo já muito perto do minuto 90: segundo cartão amarelo por falta sobre Slimani. E pouco mais aconteceria neste clássico de outrora, que permitia assim ao Sporting aumentar para dez pontos a vantagem sobre o Sp. Braga. O Boavista mantém-se no 13.º lugar, graças à vitória do Estoril em casa do Setúbal.

Os leões imitam o resultado de maio de 2008, altura em que a equipa de Paulo Bento venceu por 2-1 o Boavista de Jaime Pacheco. Ivan Santos marcou primeiro para os visitantes, mas Romagnoli, de penálti, e Rodrigo Tiuí assinaram a remontada. O único jogador que resiste desses tempos, de ambas as convocatórias, é Rui Patrício.