Um estudo publicado pela Associação Americana para a Investigação sobre Cancro indica que a vacina contra o papiloma vírus humano (HPV) pode proteger simultaneamente todas as regiões que podem ser infetadas pelo vírus (colo do útero, boca e ânus). Mais ainda: é “significativamente menos provável” que as mulheres vacinadas depois de infetadas num determinado sítio, desenvolvam outras infeções nas regiões saudáveis.

Já estava provado que a vacina contra o HPV era eficaz em proteger uma determinada região passível de ser infetada, mas não existiam dados sobre a proteção que ela oferecia nas três regiões ao mesmo tempo.

O estudo, passo a passo

A investigação, conduzida pelo imunoepidemologista Daniel Beachler do Instituto Nacional do Cancro, estudou mulheres entre os 18 e os 25 anos: a metade delas foi administrada a vacina contra o HPV 16/18 e à outra metade foi injetada uma vacina contra a hepatite A. Todos os anos os cientistas recolheram amostras do tecido cervical destas mulheres. Ao fim de quatro anos, também guardaram amostras da boca e do ânus, os outros dois locais que o vírus pode infetar.

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As análises desvendaram que a eficácia da vacina nas três regiões combinadas contra este tipo de vírus era, em média, de 65%. Além disso, 25% das mulheres vacinadas depois de terem sido infetadas ficou protegida de desenvolverem outras infeções nas regiões não afetadas.

Beachler ressalva que a vacina “não tem efeito terapêutico”, não sendo capaz de curar as mulheres infetadas, mas pode permitir que as outras zonas  do organismo permaneçam saudáveis. Ainda assim, avisa que “são necessárias novas pesquisas e um melhor entendimento das infeções pelo vírus HPV”.

Segundo as informações prestadas pelo Centro de Controlo de Doenças dos Estados Unidos à Time, a esmagadora maioria das mulheres já esteve exposta aos vírus em algum momento da sua vida sexual. Embora a eficácia da vacina seja mais significativa para mulheres virgens (83%) – que, à partida, nunca contactaram com o vírus HPV – as que já estiveram expostas ao vírus parecem permanecer protegidas em 58% dos casos.

Quando questionado pela MedPage Today sobre a duração desta proteção, Beachler respondeu que “continuam a haver evidências de uma forte proteção, por isso não há indicação de que seja necessária uma dose de reforço” para manter a segurança contra o vírus.

 

Outros vírus de alto risco podem ganhar terreno

Apesar dos resultados animadores que este estudo veio trazer, um outro estudo apresentado esta semana no Encontro Anual da Associação Americana da Investigação para o Cancro trouxe dados menos esperançosos.

A investigação, produzida pelo Ramo Médico da Universidade do Texas, sugere que as mulheres que tomam a vacina contra quatro dos vírus HPV têm maior probabilidade de desenvolver infeções provocadas pelos restantes vírus de alto risco. E essa prevalência, na ordem dos 62%, é maior em 22 pontos percentuais do que nas mulheres que não receberam a vacina.

Estes resultados foram produzidos depois de se estudarem 592 mulheres com idades entre os 20 e os 26 anos, levando em conta o historial sexual das mesmas, mas não existem dados sobre um grupo de controlo – grupo que tem um tratamento diferente para comparação – exigível nestas situações.

De acordo com o LiveScience, os cientistas que conduziram o estudo ainda não foram capazes de explicar por que razão é que a resposta imunológica se torna menos eficaz para os vírus que não são combatidos pela vacina. Sabe-se apenas que o risco de prevalência de outros tipos de vírus HPV é menor se o número de parceiros sexuais for também mais pequeno.

Vacina dos nove: o que é?

A solução para aumentar a proteção das mulheres contra um maior número de vírus seria a “vacina dos nove”, um medicamento aprovado pela Administração da Alimentação e das Drogas (FDA) dos EUA em dezembro do ano passado e que protege contra nove dos 80 vírus HPV.

Esta vacina pode ser administrada em mulheres entre os 9 e os 26 anos, mas também em homens até aos 15. “A vacinação é uma medida de saúde pública para diminuir a maioria dos cancros cervicais, genitais e anais causados pelo vírus HPV. A aprovação da Gardasil 9 [uma das marcas de “vacina dos nove”] oferece maior proteção contra os cancros relacionados com o HPV”, afirmou Karen Midthun, diretor da FDA. Segundo o mesmo documento, estas vacinas são eficazes em 97% dos casos.

A Medscape Medical News noticiou que o Comité das Práticas de Imunização (ACIP) aconselha também a “vacina dos nove” porque, apesar de as complicações com os restantes seis tipos de vírus existirem em apenas 10% das mulheres infetadas, elas causam verrugas preocupantes nos órgãos genitais.

 

Vacina HPV em Portugal

Em Portugal, a vacina contra o HPV está incluído no Programa Nacional de Vacinação e é administrada, gratuitamente, desde 2006 a raparigas com 13 anos, de acordo com os documentos da Direção Geral de Saúde.
São comercializados dois tipos de vacina: a tetravalente (contra os tipos 16, 18, 6 e 11) e a bivalente (que atua apenas contra os tipos 16 e 18).

Ambas são recomendadas a mulheres que ainda não tenham iniciado a vida sexual, mas qualquer uma pode receber a vacina.

No Portal da Saúde esclarece-se que a vacina é composta por duas doses, intervaladas por um período de seis meses, e não se garante que seja eficaz por mais do que cinco anos.