A fábrica de Palmela da Autoeuropa, que hoje comemora os 20 anos de início de produção, atingiu os 2.171.831 carros, com a renovada esperança de aumentar este número com o novo modelo, prometido para março de 2017.

O grupo Volkswagen, que no ano passado já anunciou um investimento de 677 milhões de euros na fábrica de Palmela para a nova plataforma de montagem ‘inventada’ pelo grupo alemão (o MQB), já deu sinais de que pretende continuar por Portugal por mais anos, embora ainda não tenha revelado qual o modelo.

O presidente da Autoeuropa, António Melo Pires, adianta em declarações à agência Lusa que a fábrica de Palmela “não tem prazo de validade”, até porque a previsão é de que “a produção vai ser bastante aumentada” quando vier o novo modelo, apontado pela imprensa como sendo um ‘crossover’ com base no Volkswagen Polo.

O presidente da Autoeuropa, que iniciou a sua carreira na Volkswagen como responsável da manutenção de prensas em Palmela com o número de funcionário 88, revela que o novo modelo estará, em termos de mercado, como um carro “entre o grande consumo e o nicho de mercado”.

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Após 20 anos de produção, iniciada precisamente no dia 26 de abril de 1995, a fábrica “não tem qualquer risco [de fechar]”, pois mesmo que o novo modelo “não viesse haveria outras possibilidades”, afirma.

Aliás, Melo Pires frisa que a Autoeuropa sabe “qual é o modelo, mas por razões de secretismos” ainda não o pode divulgar e promete “começar a trabalhar” no novo projeto “muito rapidamente”.

Já o presidente da Comissão de Trabalhadores, António Chora, está convencido de que a Volkswagen vai continuar a investir em Portugal, embora a indefinição da data de lançamento do novo modelo crie “alguns problemas de estabilidade emocional nos trabalhadores”.

Em declarações à Lusa, António Chora refere que a vinda do novo modelo “tem sido adiada de ano para ano”, uma vez que “já esteve prevista para finais de 2015, meados de 2016 e agora já está em 2017”.

Para o representante dos trabalhadores, o novo modelo “está atribuído” ou de outra forma não se justificaria um anúncio de investimento de 677 milhões de euros.

“De certeza absoluta que este investimento não é para fazer bicicletas ou sapatos, esta fábrica só faz automóveis. A questão é saber exatamente qual o modelo e antecipar a sua vinda para que se comece a produzir rapidamente”, frisa.

É que tanto os trabalhadores como a administração têm noção da importância desta decisão: o novo modelo poderá relançar a Autoeuropa para uma produção anual de 150 mil unidades, quando no ano passado a maior fábrica de automóveis em Portugal atingiu os cerca de 102 mil automóveis.

António Melo Pires promete que, este ano, a produção deverá manter-se enquanto não chega o novo modelo, mas a Autoeuropa informou os seus fornecedores de que a sua previsão será de 95 mil carros anuais.

“Nestes 20 anos muita coisa mudou no mundo, no próprio país e nas próprias pessoas. Vi muita gente entrar com uma média dos 30 anos e agora têm 50. Foi uma geração”, adianta o presidente da fábrica portuguesa.

Desde a construção da fábrica em Palmela até à atualidade, foi “o fim da cortina de ferro, a abertura da economia a Leste, a deslocalização que se seguiu e a globalização”, diz Melo Pires, adiantando que a Autoeuropa sempre respondeu aos desafios.

“Nunca esperávamos exportar carros para a China, aliás não foi esse o motivo pelo qual a fábrica foi construída em Portugal, mas o mundo mudou e houve necessidade de readaptação às novas condições”, acrescenta o presidente da Autoeuropa, sabendo que, dos carros produzidos no ano passado, 11% foram para o país do Oriente, cerca de 24 mil unidades, representando um crescimento de 62% nas exportações.

A Autoeuropa foi construída no âmbito de uma parceria entre a Ford e a Volkswagen para a produção de monovolumes, sendo o maior investimento estrangeiro realizado à época em Portugal, no montante de 1.970 milhões de euros.

Este investimento permitiu desenvolver os três modelos iniciais da fábrica de Palmela, os monovolumes Volkswagen Sharan, Seat Alhambra e Ford Galaxy.

Em 1999, o grupo Volkswagen assumiu os 100% do capital social da Autoeuropa, mas a Ford e a Volkswagen continuaram a cooperar na fábrica de Palmela, mantendo-se a produção dos monovolumes das duas marcas.

A fábrica de Palmela atingiu a produção de um milhão de unidades em 2003, ano em que foi feito um novo investimento de 600 milhões de euros, que permitiu preparar a produção de um novo modelo.

A Autoeuropa passou então a ter duas linhas de montagem em simultâneo – uma dedicada à produção dos monovolumes Volkswagen Sharan e Seat Alhambra e outra ao novo modelo Volkswagen Eos, um ‘cabriolet’ com capota rígida.

Em 2006 foi anunciada a construção de um outro modelo, o Scirocco, nome que já tinha sido utilizado num anterior modelo da marca alemã.

Em 2007, ano em que atingiu a produção de um milhão e meio de veículos, a Volkswagen anunciou mais um investimento de 541 milhões de euros na fábrica de Palmela para uma reestruturação e melhoria tecnológica, de forma a permitir diferentes produtos numa única linha de produção.

Com 3.600 funcionários – a que se juntam muitos mais que trabalham para dezenas de empresas fornecedoras instaladas no parque industrial anexo -, a Autoeuropa representa quase 1% do Produto Interno Bruto (PIB), exporta 99% da produção e representa 3,1% das exportações portuguesas.