“A Fundação para a Ciência e Tecnologia vai continuar a assegurar a participação de Portugal nas organizações internacionais”, garantiu Maria Arménia Carrondo, atual presidente da fundação. As palavras foram proferidas no primeiro evento público em que participa nesta função – a homenagem a Mariano Gago (1948-2015), que teve lugar este domingo no Pavilhão do Conhecimento.

A homenagem ao homem que “fez da política científica uma ciência”, nas palavras de Gaspar Barreira, presidente do Laboratório de Instrumentação e Física Experimental de Partículas (Lip), aconteceu no mesmo dia em que se celebra os 30 anos de adesão de Portugal ao CERN (Conselho Europeu para a Investigação Nuclear). Um evento que começou a ser organizado por Mariano Gago, o ministro da Ciência que mais tempo se manteve no Governo (1995-2002 e 2005-2011).

A adesão ao CERN foi o primeiro acordo de cooperação científica internacional estabelecido por Portugal. Atualmente também podemos contar com a Agência Espacial Europeia ou o Observatório Europeu do Sul. Esta adesão implicava (e implica) o pagamento de uma cota anual.

Convencer o Governo a pagar uma cota, que foi aumentando sempre ao longo da primeira dezena de anos (mais ou menos), era a maior preocupação de Eduardo Arantes e Oliveira, que entrou para o cargo de Secretário de Estado da Investigação Científica em novembro de 1985. “Achei que era suficientemente importante para Portugal”, disse. “O mais importante para Portugal era entrar nestas lides internacionais. E não era só pela ciência, era pelo desenvolvimento do sistema português em consultoria de projetos.”

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Eduardo Arantes e Oliveira, ex-secretário de Estado da Investigação Científica, durante o discurso de homenagem a Mariano Gago. Ao fundo a fotografia da assinatura do acordo de adesão ao CERN com Jaime Gama, na altura ministro dos Negócios Estrangeiros - D.R.

Eduardo Arantes e Oliveira, ex-secretário de Estado da Investigação Científica, durante o discurso de homenagem a Mariano Gago. Ao fundo a fotografia da assinatura do acordo de adesão ao CERN com Jaime Gama, na altura ministro dos Negócios Estrangeiros – D.R.

E o acordo que foi estabelecido há 30 anos para o CERN e mais tarde para outras instituições tem sido mantido pelos sucessivos Governos, lembra Gaspar Barreira. No acordo inicial com o CERN, Portugal conseguiu negociar o pagamento de parte da parcela à instituição internacional, comprometendo-se a aplicar o resto do valor da cota em investigação científica e desenvolvimento da indústria. Ano a ano, a percentagem paga efetivamente ao CERN ia aumentando, mas o investimento na ciência e indústria ao longo desses 12 anos teve os seus frutos, lembra Gaspar Barreira. Agora é a Fundação para a Ciência e Tecnologia que assegura a participação de Portugal nas instituições internacionais mediante o pagamento da respetiva contribuição nacional.

O físico Mariano Gago, que já tinha trabalhado no CERN, foi o grande impulsionar da adesão de Portugal a esta organização internacional. Um ano depois, em 1986, fundava o Lip – o laboratório português para a colaboração com o Conselho Europeu para a Investigação Nuclear.

Mas Mariano Gago não se dedicava só à investigação, ou às políticas de ciência, valorizava também a divulgação de ciência, porque para ele era importante que a sociedade percebe-se que há uma área da tecnologia que resulta da aplicação da investigação em física de partículas. Por isso criou o programa Ciência Viva, para levar a ciência ao público, durante um dos mandatos enquanto ministro da Ciência.

O auditório que este domingo recebeu o nome de Mariano Gago está localizado no Pavilhão do Conhecimento, em Lisboa – um dos centros Ciência Viva do país. O auditório enquanto “espaço que serve para o debate e apresentação de novas ideias” cumpre uma das ideias do homem que agora lhe dá o nome – “a ciência não tem fronteiras” -, refere Rosalia Vargas, diretora do centro. “Mariano Gago deixou-nos um legado: a ciência, como cultura, é de todos e para todos.”