Picar o dedo, deixar cair uma gota de sangue e aguardar 15 minutos para saber se está infetado com o Vírus da Imunodeficiência Humana (VIH). É assim que funciona o teste rápido para a deteção deste vírus. No Reino Unido já é possível adquirir o teste através da internet e fazê-lo em casa. Em Portugal, estes testes existem, mas são feitos nos hospitais e centros de saúde, em centros de aconselhamento e deteção precoce da infeção VIH/SIDA (CAD) e em algumas organizações de base comunitária. Para já, não faz parte dos planos do Governo disponibilizar testes destes para fazer em casa. Há riscos, dizem especialistas.

“Não sou favorável à aquisição destes testes pela internet, nem nós temos suporte para tal”, começou por dizer ao Observador António Diniz, diretor do Programa Nacional para a Infeção VIH/SIDA, acrescentando que “não temos isso em equação, o que não quer dizer que não possamos alargar a outras estruturas onde possam ser realizados e também não quer dizer que não possa vir a ser feito em casa”.

“Vamos provavelmente chegar aos testes feitos em casa, mas temos de criar as condições para quando chegarmos lá estarmos a fazer bem. Além disso tem de haver uma estrutura preparada para dar resposta a estes casos. A Europa está a trabalhar nesse sentido”, rematou o responsável da DGS.

Em 2011 e 2012 chegaram a ser disponibilizados testes rápidos de deteção do VIH/SIDA em farmácias, num projeto-piloto levado a cabo no Algarve, mas eram feitos nas próprias instalações. Foram feitos 582 testes e quatro foram reativos. António Diniz explica que o Governo não estendeu o programa ao resto do País, pois “não houve nenhum avanço relativamente ao que havia em projetos financiados por nós, em termos de adesão. Foi feito muito pouco”, justificou.

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Já depois disso, em janeiro de 2014, avançaram com os testes rápidos em vários centros de saúde espalhados por todo o país. Até agora foram feitos 4.000 testes só nos cuidados de saúde primários. Um em cada 150 deu positivo. Estes juntaram-se aos CAD e algumas organizações de base comunitária, que já faziam estes testes. “A tendência é aumentar”, confirmou o responsável.

António Diniz frisou porém que estes testes “nem sequer são de diagnóstico, pois o resultado tem de ser confirmado”, embora a sua fiabilidade seja muito elevada.

Os riscos do teste feito em casa

Contactada pelo Observador, Odette Ferreira, pioneira do estudo do VIH em Portugal, focou-se nos problemas de fazer este tipo de teste em casa.

“Fui sempre contra que fosse feito em casa. Primeiro, o volume tem de estar calculado, a gota de sangue não pode ser nem demasiado grande, nem demasiado pequena. Depois para onde é que as pessoas atiram a tira com o sangue se der positivo? O vírus seco mantém a sua infecciosidade durante uma semana. E além disso, a pessoa poderá receber um resultado positivo, ou seja, uma má notícia, e não ter ninguém com quem falar”, defendeu Odette Ferreira, que ajudou a colocar o país num lugar cimeiro na ciência a nível mundial com a identificação do vírus da imunodeficiência humana tipo 2.

Odette Ferreira reiterou que estes resultados têm sempre de ser confirmados em laboratório por um teste de adsorção imunoenzimático, feito através de uma análise ao sangue, que também deve ser confirmado por outras técnicas se der positivo. E lembrou que os testes rápidos começaram por ser utilizados nos países africanos, sem eletricidade e meios físicos, para perceber qual a dimensão da presença do vírus na população.

Os dois especialistas deixaram ainda uma chamada de atenção para o “período de janela”, o espaço de tempo que vai entre momento da infeção até à deteção analítica dos anticorpos. É por isso que, por exemplo, quando uma pessoa tem relações sexuais sem proteção com uma pessoa infetada com o vírus, deve esperar uns dias até fazer a primeira análise e depois deve repetir os testes ao fim de três, seis e 12 meses.