Assistimos ao sismo no Nepal e pudemos testemunhar mais um sinal da fúria da Natureza. Mas em todo o globo existem zona de perigos iminentes a que os cientistas estão atentos. O El País elencou quais.
Sismos
A litosfera terrestre – a camada de Terra mais exterior – assemelha-se a um puzzle dinâmico: as peças, chamadas placas tectónicas, movimentam-se umas em relações a outras e podem chocar (placas convergentes ou destrutivas), separar-se (placas divergentes ou construtivas) ou roçar-se (placas transformantes ou conservativas).
Ora, o Nepal está numa zona especialmente propícia a terramotos por estar numa região de convergência entre a placa Euroasiática e a placa Indiana, que é responsável, há milhões de anos, pela existência da cordilheira dos Himalaias. Nos limites destas placas destrutivas, acumula-se muita energia durante os movimentos tectónicos, que podem deslocar-se até cinco centímetros por ano. Quando essa energia é libertada, dão-se os sismos.
Isto foi o que aconteceu no Nepal. Mas a destruição no país deveu-se também à fraca qualidade das construções, que não estão preparadas para suportar fenómenos naturais deste género.
Para medir o nível de destruição provocado por um sismo existe a escala de Mercalli, de natureza qualitativa (subjetiva, porque aprecia os danos provocados) que vai até XII. O último sismo no Nepal foi avaliado em IX que corresponde a “muito destrutivo”.
As consequências dos movimentos tectónicos dependem da natureza das placas. Nos limites destrutivos existem três cenários possíveis: se a convergência acontecer entre uma placa oceânica e outra continental estamos perante uma margem continental ativa onde nascem fossas abissais – as zonas mais profundas do oceano. É o que acontece, por exemplo, entre a placa de Nazca e a sul-americana: a primeira é uma placa oceânica e como é mais densa que a placa continental, mergulha debaixo desta.
E quando não se coloca a questão da densidade das placas? Quando ambas são de natureza oceânica formam-se cadeias montanhosas e ilhas vulcânicas, como acontece entre a placa do Pacífico e a placa das Filipinas.
Os limites transformantes (que roçam um no outro) também representam perigo, como é o caso dos movimentos entre a placa do Pacífico e a placa norte-americana. Enquanto deslizam uma ao lado da outra, as placas são responsáveis pelo armazenamento de muita energia. Quando elas deixam de suportar essa energia dão-se os sismos.
No Pacífico são muitos os exemplos da iminência de um desastre natural: a falha de Santo André, em São Francisco (EUA), parece ser o próximo foco de um terramoto de grandes dimensões. O último sentido neste local aconteceu em 1989 e teve magnitude de 7,1 na escala de Richter, mas muitos cientistas falam do “The Big One”, um terramoto com magnitude igual ou superior a oito que podia varrer os territórios num raio de até 160 quilómetros. A BCC chega a escrever que a probabilidade de um sismo na falha de Santo André nos próximos 30 anos é de 90%.
Existem dois países particularmente em risco: o México, por ser afetado pelas dinâmicas de cinco placas tectónicas (o país já sofreu um sismo de intensidade 8,3 na escola de Richter que vitimou 10 mil pessoas), e o Japão. Neste país, um sismo de magnitude 8,9 agitou Sendai e provocou um tsunami em 2011. Foi o maior sismo alguma vez sentido no local, teve consequências na central nuclear de Fukushima e fez que o país se movesse mais de dois metros.
Erupções vulcânicas
Porque é que o vulcão Vesúvio, perto de Nápoles, em Itália, está também sob vigilância dos cientistas? Este vulcão nasceu da convergência entre a placa Africana e a placa Euroasiática, de onde o magma escapa. Normalmente, as zonas em redor do vulcão são muito férteis: à volta do único vulcão europeu que sofreu erupções nos últimos cem anos vivem 600 mil pessoas. Quando explodiu, no ano de 79, o Vesúvio foi responsável pela destruição de Pompeia e de Herculano. Desde 1944 que o vulcão está adormecido (ainda que ativo), mas pode acordar em breve: as autoridades italianas têm um plano de evacuação de 72 horas pronto a ser ativado caso Vesúvio dê sinais de vida.
O mesmo panorama está previsto para a ilha de Java, que tem trinta vulcões à volta dos quais vive meio milhão de pessoas. Porque escolheram elas viver neste local? Apesar de poderem acordar a qualquer momento, a verdade é que estes vulcões não apresentam perigo imediato e conferem energia térmica e fertilidade aos solos. Como aconteceu recentemente na Ilha do Fogo em Cabo Verde.
Mas vejamos a cronologia dos vulcões de Java: há vinte anos, o vulcão Merapi lançou uma quantidade exorbitante de gases que vitimaram sessenta pessoas. Em 2010, foram mais de 350 nas mesmas condições.
Sumatra também não está fora de perigo: a ilha da Indonésia com grande atividade vulcânica também matou 15 pessoas no ano passado. E às erupções acrescem os riscos de tsunamis ou desabamentos de terra. Este mês já tivemos testemunhos da força da Terra. O vulcão Calbuco, no Chile, obrigou à evacuação de dezenas de milhares de pessoas ao fim de 43 anos de sossego.
Está a pensar em Yellowstone? Tem razão para pensar. Mas apesar das novas notícias sobre a reserva magmática gigante encontrada debaixo do solo neste supervulcão dos EUA (estados de Wyoming, Montana e Idaho), os supervulcões apenas entram em erupção num espaço de centenas de milhares de anos. Uma erupção deste tipo teria consequências imensuráveis e poderia dar origem a uma nova era na Terra.
O mar
Mas nem só de vulcões vivem os receios dos geólogos: as pacíficas Maldivas também estão na agenda dos cientistas. Estas ilhas elevam-se a apenas um metro do nível da água do mar, o qual também tem vindo a subir. Pensa-se que daqui a cem anos as Maldivas vão mergulhar no oceano e desaparecer, obrigando a evacuar os habitantes.
A este facto juntam-se as constantes inundações a que as ilhas das Maldivas estão sujeitas, resultado das alterações climáticas.
Fúria dos céus
Depois vêm os furacões: o estado norte-americano de Oklahoma é varrido inúmeras vezes por furacões gigantes. A zona de maior perigo situa-se entre o Texas e o Dakota, e é chamada pelos americanos de “Tornado Alley” (Alameda dos Tornados): uma região fustigada constantemente por estas massas de vento e chuva. Isto acontece porque se situa num corredor onde as correntes frias de ar vindas do Canadá chocam com os ventos tropicais que sobem do México.
O Estado do Oklahoma tem mais de um milhão de habitantes e já viu mais de 120 furacões desde 1890, quase sempre com um intervalo de cinco anos.
A pobreza. Sim, a pobreza
Por último: Haiti, um território sem qualquer defesa contra um desastre natural. A pobreza provocada pelas técnicas intensivas no setor agrícola lançou metade da ilha para a miséria e para a desflorestação.
Nada foi planeado para que a exploração agrícola se tornasse sustentável. Em consequência, a ilha tornou-se muito mais vulnerável aos furacões e às tempestades, que provocam deslizamentos de terra capazes de matar milhares de pessoas.