As estatísticas enganam porque, com jeitinho, servem para provar qualquer ideia que passe pela cabeça do freguês. Por isso é que nem sempre é bom confiar nelas como um cego confia na bengala que o guia. Mas esta é das que diz muito: em média, a cada 34 jogos que faz, José Mourinho acrescenta um caneco novo ao armário que terá em casa, cheio de taças, medalhas e galhardetes. E, este domingo, quando chegar a casa com um sorriso na cara, vai acrescentar a esse armário o 22.º troféu conquistado em 15 anos de carreira a treinar e dar ordens a jogadores. Porque o Chelsea é o novo campeão inglês.

Milhares de blues, apelido dos adeptos do clube azulado de Londres, encheram o estádio de Stamford Bridge e, durante hora e meia, estiveram em pulgas e à espera que a bola parasse de rolar para que o golo de Eden Hazard confirmasse, de vez, a conquista da quinta Premier League na história do clube. História que, a brincar a brincar, já se confunde com a do próprio treinador português. Porque além de ter sido com Mourinho no banco que o Chelsea venceu três desses campeonatos — os primeiros em 2004/2005 e 2005/2006 –, oito dos 23 títulos internos que o clube tem, conquistou-os com o português a mandar.

O português, por isso, manda bem quando lhe pedem para o fazer em Londres. Mourinho, mesmo que habituado a ganhar títulos, já não conquistava um campeonato desde 2011, quando ainda estava no Real Madrid e, com Cristiano Ronaldo, Pepe, Fábio Coentrão e Ricardo Carvalho, acabou em primeiro lugar na liga espanhola. Agora foi a vez de, cinco anos depois, voltar a dar uma Premier League ao Chelsea, clube que abandonara em 2008. “Quando voltei sabia que estava a voltar para a liga mais difícil do mundo de vencer. Mas conseguimos. Tinha a minha família atrás do banco e foi possível abraçá-los e beijá-los. Deixei os jogadores aproveitar os festejos no relvado”, disse, logo após o encontro deste domingo.

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E Mourinho não se esqueceu dos primeiros tempos que passou no clube, lembrando os jogadores com os quais venceu na primeira passagem pelo Chelsea. “Depois de uma fantástica geração, com Lampard, Cole, Essien [Ricardo] Carvalho, [Paulo] Ferreira, uma nova equipa venceu”, indicou o treinador. Só lhe faltou referir um: Tiago, o cabeludo médio que hoje anda pelo Atlético de Madrid, também estava na equipa que, em 2004/2005, conquista a Premier League para o Chelsea.

Agora que a matemática já deixou que José Mourinho e o Chelsea festejassem o título, restam ainda três partidas por jogar. E a próxima está carregadinha de simbolismo, porque os londrinos vão a Liverpool jogar no estádio onde, a época passada, foram quase roubar o título à equipa do norte de Inglaterra, vencendo por 1-0 e marcando um golo após Steven Gerrard, capitão do Liverpool, escorregar na relva, perder a bola e deixá-la para Demba Ba marcar. Ainda hoje há quem lembre e goze com a escorregadela do internacional inglês que, na próxima semana, será um dos jogadores a baterem palmas aos blues, quando estes entrarem em campo — é tradição que o adversário forme um corredor e aplauda a equipa que se sagra campeã antes da Premier League terminar.

E pronto, resta a José Mourinho desfrutar o 23.º título que conquista na carreira de treinador, o oitavo com o Chelsea. Por alguma razão lhe chamam Special One desde que aterrou os pés em Inglaterra.