À medida que o fecho das urnas se aproxima, a única certeza é a incerteza. As sondagens são claras quanto a uma coisa: nenhum partido vai ter maioria. A Câmara dos Comuns tem 650 lugares e o número mágico são 0s 326, o mínimo necessário para uma maioria. Apesar de a maior parte dos estudos de opinião ter dado uma ligeira vantagem ao Partido Conservador, do primeiro-ministro David Cameron, o total das sondagens deu um empate entre os tories e o Partido Trabalhista. 273 deputados para cada um.

Trabalhistas partem em vantagem para cenário de negociações

Um destes partidos vai ter de arranjar uma solução de governo até dia 27 de maio, altura em que a rainha discursa perante a Câmara dos Comuns. O texto lido por Isabel II, a monarca britânica, será um documento com as linhas orientadoras do governo que se propõe a liderar o Reino Unido. Cabe ao parlamento votar a favor ou contra, como se tratasse de uma moção de confiança.

Quem parece ter mais razões para otimismo é o trabalhista Ed Miliband. Embora já tenha negado categoricamente que não se vai aliar ao escoceses independentes do SNP (“se o preço para ter um governo trabalhista é um acordo ou uma coligação com o SNP, então não vai acontecer”), é pouco provável que estes votem contra um governo trabalhista, tornando assim mais possível um executivo conservador — algo que cairia muito mal na Escócia, onde há mais pandas do que deputados conservadores.

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Os escoceses deverão ter entre 53 e 59 assentos parlamentares, o que lhes dá uma força inédita em Westminster. Mas esse número de nada lhes vai valer se o governo não for dos trabalhistas, aos quais irão certamente fazer algumas exigências. A primeira de todas deverá ser o fim, ou uma renovação, do programa nuclear Trident, que tem base na Escócia e que custará 130 milhões de euros nos próximos 35 anos.

Outra opção que Ed Miliband é o Partido Liberal Democrata. Liderados por Nick Clegg, os lib-dems fizeram parte da coligação com os conservadores. Não lhes correu bem em termos eleitorais: em 2010, tiveram 23% dos votos e elegeram 57 deputados. Agora, deverão ficar com 8% e 27 assentos parlamentares. Por isso, nunca conseguirão ajudar os trabalhistas a formar uma maioria sozinhos. Ainda assim, é possível que os trabalhistas aceitem discutir a concessão de ministérios aos liberais-democratas, procurando assim formar um governo com uma base mais larga, embora minoritário.

Conservadores em segundo plano, mesmo que em primeiro lugar

Em termos percentuais, os Conservadores continuam à frente nas sondagens. Embora o número de deputados previstos seja igual ao dos trabalhistas (recorde-se, 273 para cada um), o Partido Conservador deverá ter 34% dos votos, apenas mais 0,3% do que o labour.

Já em termos de hipóteses para coligações, as hipóteses são menos vastas comparando as dos trabalhistas. A escolha óbvia parecem ser os liberais-democratas, apostando assim numa continuação da coligação que governou o Reino Unido entre 2010 e março deste ano. Mas, juntos, teriam apenas 300 deputados — menos 26 do que aqueles que são necessários para uma maioria no parlamento.

Por isso, no caso de se apresentarem à rainha Isabel II como solução de governo, é pouco provável que consigam um voto favorável do parlamento na hora de aprovar este hipotético executivo. Os votos contra dos trabalhistas e dos independentistas escoceses, aos quais se aliariam certamente o Partido Verde e outras forças políticas de esquerda seriam, segundo as sondagens, 332. Ou seja, mais do que o suficiente para chumbar um segundo mandato de Cameron.

Outra opção que era apontada até há não muito tempo era uma coligação entre os conservadores e os eurocéticos do UKIP. Hoje, olhando para as sondagens, é claro que essa hipótese nunca estará em cima da mesa. Apesar de terem ficado em primeiro nas eleições para o parlamento europeu com 26,6% dos votos, as sondagens agora apontam-lhes apenas 12,6% e apenas três deputados.

O que acontece até haver acordo?

Anarchy in the UK? Johnny Rotten e os seus fãs vão ter de esperar um pouco.

As regras ditam que se nenhum partido conseguir uma maioria, cabe ao primeiro-ministro cessante, neste caso David Cameron, tentar procurar apoio junto da Câmara dos Comuns para um novo governo. Caso não consiga, passa a responsabilidade à rainha Isabel II, que convidará o partido mais votado a tentar formar um governo. As linhas orientadoras do mesmo terão de ser apresentadas à rainha, que depois fará um discurso à Câmara dos Comuns onde lhe cabe apresentar o plano dessa força política. Os deputados têm nas mãos a decisão final de aprovar ou não esse governo.

Caso votem favoravelmente, o Reino Unido terá um novo governo. Caso votem contra, o segundo partido político mais votado é convidado a tentar a sua solução.

Caso tudo isto torne a falhar, tornando impossível a formação de um governo, são marcadas novas eleições. Até lá, dentro do possível, Johnny Rotten pode regozijar-se dentro do possível. Embora não tanto quanto talvez desejaria, haverá uma certa anarchy in the uk.