Mhairi Black tem vinte anos, é estudante de Ciência Política na Universidade de Glasgow e a primeira vez que votou nas eleições do Reino Unido foi na quinta-feira. Até aqui, nada de novo.

A novidade é que, quando depositou o votou no círculo eleitoral escocês de Paisley & Renfrewshire South, Mhairi Black votou nela própria. E, mais importante, foi ela a escolhida pela maior parte das 63 268 pessoas que ali votam para as representar na Câmara dos Comuns. Feitas as contas, Mhairi Black, do Partido Nacional Escocês (SNP, na sigla inglesa) é a deputada mais jovem do Reino Unido desde 1667, ano em que um rapaz de 13 anos chamado Christopher Monck foi nomeado para o título de cavaleiro do condado de Devon.

A idade de Mhairi Black foi, sem surpresa, um dos assuntos mais discutidos durante a sua campanha para as eleições de 7 de maio. Talvez para se prevenir contra isso, Black disse o seguinte num vídeo oficial publicado no seu site ainda mal a campanha tinha começado: “Faz-me confusão que pensem que eu sou velha o suficiente para pagar impostos mas que não tenho idade para sugerir como esse dinheiro é gasto”.

Noutra ocasião, num debate na BBC que a catapultou para as televisões e ecrãs dos computadores de vários britânicos, a moderadora perguntou-lhe “se acha que, enquanto uma jovem de 20 anos, acha que tem experiência de vida suficiente”.

“Claro que não tenho a mesma experiência do que uma pessoa de 40 ou 50 anos. Mas o parlamento deve representar a sociedade inteira, não apenas os homens, as pessoas de meia-idade ou de classe média”, respondeu, para depois dizer uma evidência: “Eu não consigo mudar a minha idade, da mesma maneira que não consigo mudar o meu género”.

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O avô às voltas no caixão por causa dos trabalhistas

A história de Mhairi Black e da sua família é um bom exemplo daquilo que se está a passar no panorama político escocês, em que o SNP esvaziou por completo o Partido Trabalhista – em 2010, estes ficaram com 41 deputados escoceses num universo de 59; na quinta-feira elegeram apenas um, contra 56 do SNP. A contribuir para isto estão os Black, que sempre votaram nos trabalhistas e que agora votam nos nacionalistas escoceses. Até há bem pouco tempo, a predominância dos trabalhistas na Escócia era de tal ordem que, por brincadeira, costumava dizer-se que, para se poupar tempo, os votos no labour deviam ser pesados em vez de contados. Mas esses dias já lá vão, e a família de Mhair Black é cara dessa mudança. “O meu pai sempre votou nos trabalhistas”, disse ao The Guardian. “E o meu avô estaria às voltas no caixão se soubesse como os trabalhistas se comportam agora.”

A maior razão para Mhairi Black ter decido que queria candidatar-se a um lugar em Westminster foi “a austeridade”. Nas várias entrevistas que deu antes das eleições, a jovem militante do SNP contou várias vezes a mesma história, em que, durante uma ação de campanha pelo “sim” no referendo à independência da Escócia foi abordada por uma mulher. “Primeiro pensei que ela queria um panfleto, como os que estávamos a distribuir, mas depois ela disse-me que queria comida para dar ao filho dela.”

No dia 7 de maio, Mhairi Black venceu com 50,9% dos votos. Pelo caminho, deixou um peso-pesado do Partido Trabalhista: Douglas Alexander, que foi ministro-sombra dos negócios estrangeiros entre 2011 e 2015. Quando fez o discurso de vitória, com o trabalhista mesmo atrás dela, Black mandou uma farpa ao seu adversário: “Isto é um golpe para o Douglas Alexander. Espero sinceramente que ele se mantenha na política depois de recuperar deste resultado”. Talvez a dificuldade de gerir a ironia de Black explique o sorriso amarelo com que o trabalhista posou para uma fotografia tirada pouco depois.

Os tweets da Mhairi adolescente que a Mhairi candidata apagou

O discurso de vitória não foi o único momento em que Mhairi Black foi controversa. Aliás, pode dizer-se que este episódio passou relativamente despercebido se compararmos com outras declarações públicas feitas pela jovem deputada quando esta ainda não sonhava que ia ter lugar reservado em Westminster.

Mhairi Black tem 2054 tweets assinados pela sua conta de Twitter e nem todos são politicamente corretos. Num deles desabafa, dizendo algo pouco simpático em relação à disciplina de matemática. Noutro, pragueja contra o Celtic FC, um dos clubes de futebol mais conhecidos da Escócia, ao contrário da equipa que apoia, os Partick Thistle. O The Independent chegou a fazer uma compilação dos tweets mais polémicos de Black enquanto adolescente. Alguns foram entretanto apagados.

Para lá do Twitter, houve outra ocasião em que Mhairi Black deixou algumas bocas abertas. Desta vez, foi num discurso ao ar livre perante mais de uma centena pessoas. De microfone em punho (e com vários telemóveis a filmá-la), a jovem descreveu como se sentiu quando passou por militantes do Partido Trabalhista momentos depois de se saber que o “sim” tinha perdido no referendo para a independência da Escócia. “Estava com o meu pai quando se soube o resultado, e da maneira como a sala era tivemos de passar por aqueles gatos gordos do Partido Trabalhista a espicaçarem-nos, a bater palmas sarcasticamente, a dizer ‘boa sorte para a próxima’. Tive de usar todas as minhas fibras para não dar uma pêra num deles!”