Há cerca de dois meses, Michael Enright, ator conhecido pela sua participação no filme Piratas das Caraíbas: O Cofre do Homem Morto, tomou uma decisão — juntar-se à luta contra o Estado Islâmico. Para trás ficou o trabalho como ator, a casa em Manchester, a mãe e a irmã com quem vivia. Atualmente na Síria, diz não estar arrependido de nada. “Estou muito feliz por estar aqui”.

A ideia de se juntar ao combate contra os jihadistas começou a ganhar forma em agosto passado, depois da execução do jornalista norte-americano James Foley. Mas a decisão só foi tomada depois, ao ver o vídeo da morte do piloto jordânio Muath Al-Kassabeh, queimado vivo por membros do Estado Islâmico.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Para Enright, foi o motivo que faltava. “Sempre me arrependi de não ter ido para o Afeganistão quando aconteceu o 11 de setembro. Os vídeos das decapitações fizeram-me sentir uma sensação semelhante”, confessou em entrevista ao Daily Mail.

“Os vídeos das decapitações fizeram-me sentir uma sensação semelhante e que tinha um dever para com a América. Sinto uma dívida para com aquele país. Receberam-me de braços abertos”.

A viagem para a Síria aconteceu pouco tempo depois, após ter entrado em contacto com um amigo, Rob, que tinha servido no Iraque. Rob pô-lo em contacto com as YPG, o braço armado do Partido da União Democrática curdo, com quem comunicava através do Facebook.

A viagem até à Síria foi longa e difícil. A partir de Istambul, Enright consigou passagem para Sulaimaniya, no leste do Iraque. Uma vez em solo iraquiano, entrou em contacto com as YPG, que o transferiram para um acampamento militar onde recebeu formação juntamente com outros 30 ocidentais.

Não contou a ninguém. Nem à mãe ou à irmã, que viviam consigo em Manchester, Inglaterra. Só lhes contou depois. “Escrevi uma carta à minha mãe. A minha irmã foi diagnostica com cancro e, por isso, está a fazer radioterapia”, contou ao jornal inglês. “Espero que possamos ultrapassar isto”.

Aos amigos, disse-lhes apenas recentemente através do Facebook. Admite que teve medo que o tentassem impedir se lhes tivesse dito com antecedência. “Não quero ouvir essas coisas negativas. Por isso, limitei-me a ir”.

“Disse-lhes pelo Facebook. Peço desculpa a todos os meus amigos por não me ter despedido. Posso não voltar”.

Há pouco mais de dois meses na Síria, diz que não tem planos de regressar a Inglaterra e que não tem saudades de casa. “Estou muito contente por estar aqui”, admitiu ao Daily Mail. Dorme no chão como todos os outros combatentes, fardados e com uma arma carregada ao lado. “Dormimos ao lado da nossa Kalashnikov. Chamei à minha Olga, porque é romena. É a minha companheira constante, por isso dei-lhe um nome“, contou.

Apesar disso, sabe que pode a qualquer momento cair nas mãos do Estado Islâmico e sofrer um destino semelhante ao dos outros ocidentais. Se isso acontecer, tem um plano. “Temos sempre uma bala guardada para nós”.

“Chegou ao ponto de que a única coisa que quero é aniquilá-los e matá-los assim que os vir. O Estado Islâmico é uma abominação. Isto é uma chamada de atenção para a humanidade. É uma chamada de atenção para todos”.