Uma carta para Christine Lagarde, diretora-geral do FMI, outra para Jean-Claude Juncker, presidente da Comissão Europeia, e outra para Mario Draghi, rosto do Banco Central Europeu. E, ainda, um telefonema para Jack Lew, Secretário do Tesouro dos EUA. A todos estes líderes mundiais, o primeiro-ministro grego, Alexis Tsipras, avisou na sexta-feira dia 8 de maio que na terça-feira seguinte (12 de maio) não teria recursos suficientes para fazer o reembolso previsto de 750 milhões de euros ao FMI.

O incumprimento viria a ser evitado, com a Grécia a recorrer às reservas no próprio Fundo Monetário Internacional (FMI), onde estavam 650 milhões de euros, para fazer o reembolso de 750 milhões de euros que há várias semanas atemorizava os analistas que, à medida que se arrasta o impasse, tentam fazer contas a quantos fundos restarão nos cofres da Atenas.

Mas, nos dias que antecederam esse pagamento, Alexis Tsipras desdobrou-se em contactos para alertar vários líderes internacionais que a Grécia não teria como pagar ao FMI no dia 12 a menos que o BCE permitisse que os bancos gregos absorvessem mais dívida de curto prazo emitida por Atenas. O Financial Times e o grego Ekathimerini tiveram acesso às cartas enviadas por Tsipras a Lagarde, Juncker e Draghi, documentos que demonstram a exiguidade das reservas de tesouraria em Atenas.

As cartas ajudam a compreender porque é que fonte da Comissão Europeia disse, na passada segunda-feira (véspera do reembolso), que Bruxelas estava “preocupada” com o pagamento ao FMI no dia seguinte.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

A Grécia tem de pagar mais 300 milhões de euros ao FMI já no próximo dia 5 de junho. Os reembolsos ao FMI no próximo mês totalizam 1.500 milhões de euros, necessidades a que se juntam as despesas correntes como salários da função pública e pensões. A quebra das receitas fiscais nestes primeiros meses de 2015 levaram o governo a recorrer aos excedentes de tesouraria de universidades, hospitais e fundos de pensões públicos, bem como de autarquias e outros organismos do poder local.

Além do risco ligado às finanças públicas, teme-se que os bancos gregos deixem de ter ativos suficientes para entregar como garantia junto do banco central para obter financiamento. O que poderá provocar uma crise nesse âmbito é a possibilidade de o BCE apertar os critérios para esses mesmos ativos usados como garantia, o que os analistas dizem que colocaria a Grécia no caminho dos controlos de capitais.

Um acordo para concluir o segundo resgate e reduzir a incerteza no imediato continua a parecer longe, com Tsipras a garantir publicamente que não irá ceder nas “linhas vermelhas” e o FMI a queixar-se que, apesar da urgência do tempo, Atenas continua sem dar acesso a documentos pedidos pela equipa de negociação dos credores.

Para mais, leia o Explicador que o Observador preparou na última semana sobre os próximos capítulos desta crise grega.