O ex-secretário de Estado do Tesouro norte-americano de Bill Clinton e chefe dos conselheiros económicos de Barack Obama, Larry Summers, defendeu esta sexta-feira em Sintra que a Europa precisa de reformas estruturais para combater a perspetiva de um longo período de baixo crescimento da economia, mas passa uma receita diferente para a sua terra natal: mais investimento público.

Numa apresentação que até teve direito a esclarecimentos animados sobre uma ‘guerra de blogues’ com o ex-presidente da Reserva Federal dos EUA Ben Bernanke, o agora reitor de uma das mais respeitas universidades do mundo, Harvard, defendeu que a Europa tem de avançar com reformas estruturais e que estas até têm um objetivo e efeito esperado diferente do habitual, que é atrair mais investimento.

Para Larry Summers, a Europa enfrenta um cenário de “estagnação secular”, um longo período de baixo crescimento potencial e baixo crescimento real da economia. Para combater este cenário negro, defende, a solução preponderante deve ser avançar com reformas estruturais, tal como presidente do Banco Central Europeu defendia esta manhã.

Mas o reputado economista norte-americano sugere uma receita diferente para o seu país, mais em linha com as suas posições nos últimos anos. Para Larry Summers, os EUA também têm margem para avançar com grandes reformas estruturais que podem produzir resultados importantes, mas as maiores deficiências, diz, acontecem devido ao baixo nível de investimento público, numa crítica à administração de que fez parte.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

“Nos Estados Unidos também há uma grande margem para fazer reformas estruturais, mas na minha opinião as maiores deficiências estão relacionadas com a falta de investimento público. É indefensável em termos microeconómicos, macroeconómicos ou apenas de senso comum que, num momento em que os custos de financiamento são historicamente baixos, que os níveis de desemprego são historicamente altos, a percentagem de investimento público esteja num nível historicamente baixo. Qualquer pessoa que voe para o Kennedy Airport (em Nova Iorque) vê isso”, disse.

Com alguns dos mais importantes banqueiros centrais do mundo na audiência de uma conferência organizada por um banco central, o economista aproveitou ainda para deixar alguns recados à condução da política monetária.

Em primeiro lugar, defendeu que um nível de inflação mais baixo que o esperado é mais prejudicial que o contrário, ao contrário do que defendem os responsáveis mais conservadores (em especial a Alemanha). Por outro lado, defendeu perante os responsáveis que a condução da política monetária deve ser feita tendo em conta os efeitos no longo prazo, e não apenas numa lógica de reação.

“Apesar de as políticas monetárias determinarem os resultados no longo prazo, podem, e em alguns casos tiveram mesmo, ter efeitos consideráveis no nível do produto”, disse, defendendo ainda que esta condução deve ser coordenada com as restantes políticas (como é o caso da política orçamental), tendo em vista a promoção do crescimento no longo prazo.

Para terminar, num momento que arrancou alguns risos da audiência, Larry Summers aproveitou para tentar desfazer a ideia que ele e Ben Bernanke estariam numa guerra de blogues, dizendo, de uma forma mais expressiva, que os dois economistas estão na verdade a dizer a mesma coisa.