A elétrica estatal francesa EDF (Electricité de France) quer renegociar um acordo que foi feito com os sindicatos em 1999 e que dá aos funcionários de colarinho branco da empresa 10 semanas de férias por ano. “Já não estamos no mesmo mercado em que estávamos em 1999”, escreveu um diretor da empresa em memorando interno, asseverando que “é uma questão de credibilidade. Não podemos estar alheios ao mundo“. A tarefa não se afigura fácil.

Em 1998, era o socialista Lionel Jospin primeiro-ministro de França, foi legislada a semana de trabalho de 35 horas. O objetivo era criar mais postos de trabalho. Mas como os executivos e administrativos trabalhavam 39,5 horas por semana, foi-lhes dado a escolher entre passar para as 35 horas, passar a receber mais 4 a 6% de ordenado mensal (a média dos ordenados é de 51.600 euros anuais) ou serem compensados com mais 23 dias, além dos 27 dias de férias pagas legais.

Hoje, segundo o Financial Times, cerca de 30 mil executivos e administrativos da EDF gozam destas 10 semanas de férias anuais, o que é um símbolo da rigidez do mercado de trabalho em França que há vários anos merece críticas ao país por parte de economistas e organismos internacionais. François Hollande está sob pressão para introduzir uma maior flexibilidade na legislação laboral.

O presidente da EDF, Jean-Bernard Lévy, está a propor aos funcionários um pagamento extraordinário de 10 mil euros para tentar convencê-los a trabalhar 212 dias por ano, face aos 196 dias atuais. Mas um economista citado pelo Financial Times, David Thesmar, diz que não será fácil: “As pessoas podem não receber grandes ordenados mas gostam de ter os dias de férias. Este sistema agrada-lhes“.

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A EDF é detida em 84,5% pelo Estado francês.

Em França, também os funcionários dos hospitais estão sob pressão para reverem as condições de trabalho, o que provocou manifestações e greves nas ruas de Paris, com os trabalhadores a defenderem o que chamam de “direitos adquiridos”.

Os franceses trabalham, em média, 1.661 horas por semana, um valor que só encontra paralelo nas 1.648 que se trabalham na Finlândia, em média. A produtividade dos franceses, contudo, está entre as mais altas da Europa.