O cancro é uma principais causas de morte em todo o mundo, segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS). Fazer um ponto de situação da investigação, dos tratamentos e da prevenção, assim como discutir o uso de novas terapias estão entre os objetivos do encontro anual da Sociedade Americana de Oncologia Clínica, que este ano tem lugar de 29 de maio a 2 de junho, em Chicago (Estados Unidos). Um dos temas em discussão é a imunoterapia, que pretende estimular o organismo no combate às células do cancro.

Dados OMS sobre cancro:

  • 8,2 milhões de mortes por cancro em 2012
  • 14 milhões de novo casos em 2012
  • Prevê-se que o número de casos aumente para 22 milhões nas próximas duas décadas
  • Principais fatores de risco: fumar, infeções virais (como papiloma vírus humano), excesso de peso, falta de exercício físico, baixa ingestão de frutas e legumes

O cancro resulta da divisão e crescimento anormal das células do organismo, que podem acabar por atacar e invadir as áreas vizinhas ou até viajar para outras partes do corpo. Mesmo que estas células se tornem diferentes das que lhes deram origem, o sistema imunitário pode não conseguir combatê-las, porque as células tumorais encontram forma de se “esconder” das defesas naturais do organismo. A imunoterapia, que pretende “reeducar” o sistema imunitário é um dos avanços mais importantes no tratamento do cancro, referiu Peter Johnson, professor de Oncologia Médica no Cancer Research UK, citado pelo Telegraph.

“Os resultados dos ensaios clínicos sugerem que estamos no início de uma nova era dos tratamentos contra o cancro”, disse o professor. “Alguns dos tipos de cancros mais comuns parecem ser tratáveis com imunoterapia. No total, os cancros do pulmão, rim, bexiga, cabeça e pescoço e melanoma causam cerca de 50 mil mortes por ano, cerca de um terço das mortes por cancro.”

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Existem pelo menos dois tipo de imunoterapia: as vacinas contra o cancro e a introdução de células criadas em laboratório. No caso das vacinas, o doente recebe uma injeção com algumas moléculas que aparecem na superfície das células tumorais para que o sistema imunitário aprenda a reconhecê-las e combatê-las e assim passe a identifcar e a eliminar o cancro mais facilmente.

No segundo caso, as células encarregues do combater o tumor (um tipo de células T) são recolhidas no doente e multiplicadas em laboratório. Antes de serem introduzidas novamente no doente podem ser manipuladas geneticamente para se tornarem mais eficazes no combate ao cancro. Um ensaio clínico recente, com 44 indivíduos, mostrou que esta técnica associada à quimioterapia aumentou a sobrevivência dos indivíduos quando comparados com aqueles que só fizeram quimioterapia, lê-se no site do encontro anual.

Cancros mais comuns em 2012, segundo OMS:

  • nos homens: pulmão, próstata, cólo e/ou reto, estômago e fígado
  • nas mulheres: mama, cólo e/ou reto, pulmão, cólo do útero e estômago

Um medicamento (pembrolizumab) que mimetiza um anticorpo humano IgG4 mostrou resultados promissores numa primeira fase de ensaios clínicos em 135 doentes com melanoma. Um ensaio semelhante com 165 doentes com cancro do aparelho digestivo em estado avançado também revelaram que este pode ser um tratamento a explorar, mas que mais estudos precisam de ser feitos. Outros aspetos a explorar são: escolher as melhores moléculas que devem ser reconhecidas como estranhas pelo sistema imunitário e garantir de que os anticorpos vão atacar apenas células do tumor e não células saudáveis do organismo.

Outro ensaio clínico pretendia verificar a vantagem da combinação de dois medicamentos – ipilimumab e nivolumab – lê-se também no site do evento. O estudo que inclui 945 indivíduos e experiências controlo, verificou que os dois medicamentos combinados aumentavam a probabilidade de sobrevivência em pessoas com melanoma em estado avançado, quando comparado com o uso de ipilimumab isolado. Mesmo a utilização nivolumab isoladamente mostra-se mais eficaz do que apenas ipilimumab.

O maior problema deste tratamento é o custo. O preço do ipilimumab é “quase quatro mil vezes o custo do ouro”, disse Leonard Saltz, chefe do Serviço de Oncologia Gastrointestinal no Memorial Sloan Kettering Cancer Center, citado pelo site do evento. Acrescentando que o preço dos medicamentos é “insustentável”. Segundo o médico, o custo dos fármacos não reflete o custo de desenvolvimento, nem ajuda a potenciar a inovação, mas está mais relacionado com o preço que o vendedor acha que o mercado pode aguentar. Leonard Saltz acusa os serviços médicos norte-americanos de serem incapazes de negociar o preço dos medicamentos e a autoridade para o medicamento norte-americana (Food and Drug Administration) de ser incapaz de considerar os custos.