A história conta-se em breves linhas: uma estudante de Direito, na universidade Said Hamdine, em Argel, foi impedida de se apresentar à prova final do curso. Tudo porque um segurança da Said Hamdine considerou que a saia que trazia era demasiado curta. Isto passou-se no dia 9 de maio. Um dia depois, o reitor da Universidade, Mohamed Tahar Hadjar, citado pelo portal argelino TSA, veio apoiar a decisão do segurança, argumentando que o regulamente interno “não obriga ninguém a usar o hijab ou o chador” (que são variantes do véu islâmico), mas “exige dos estudantes, rapazes ou raparigas, decência no que vestem”.

A indignação veio depois, e veio por meio das redes sociais – que também já tinham sido importantes na organização de protestos sociais por melhores condições de vida entre 2010 e 2012. A realizadora argelina, conhecida feminista e ativista dos direitos humanos no país, Sofia Djama, resolveu criar, em solidariedade para com a estudante, a página “Ma dignité n’est pas dans la longueur de ma jupe”. Ou seja, a minha dignidade não está no comprimento da minha saia. “Queria que este se tornasse num lugar de apoio à jovem. Ele disse que pretendia denunciar o que se passou, e eu quis que ela soubesse que homens e mulheres, crentes e agnósticos, todos estão do lado dela, que não se encontra só, pois sei que tal a irá encorajar.”, revelou Sofia ao Figaro.

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O problema é que a página, que até alcançou os 15 mil seguidores em poucos dias e tornou-se num mural de muitas pernas de argelinos e argelinas, foi tomado de assalto por piratas informáticos, que adulteraram os conteúdos, eliminaram outros, e hastearam (ainda que digitalmente) a bandeira do Estados Islâmico. “Eu não sou uma ciberactivista. E tanto não sou, que nem fui capaz de proteger a minha própria página. Já denunciei ao Facebook o que se passou, enviei-lhes mesmo capturas para que saibam que foram partilhadas bandeiras do ISIS, mas dizem-me que não há problema nenhum. Ao que parece, isto não lhes interessa”, lamenta a realizadora argelina.

Este episódio da saia demasiado curta na Argélia surge semanas depois de um outro, sucedido em França, e no qual uma estudante muçulmana foi impedida de assistir a uma aula por utilizar uma saia demasiado longa. Na altura tornou-se viral no Twitter, sobretudo em França, a hashtag #JePorteMaJupeCommeJeVeux, ou seja, eu levo a minha saia como quero. “Eu não creio que seja uma questão religiosa. É uma questão de liberdade. Uma violação dos direito das mulheres. É uma tentativa de posse do corpo e do espírito alheio”, afirmou Sofia Djama.