A história conta-se em breves linhas: uma estudante de Direito, na universidade Said Hamdine, em Argel, foi impedida de se apresentar à prova final do curso. Tudo porque um segurança da Said Hamdine considerou que a saia que trazia era demasiado curta. Isto passou-se no dia 9 de maio. Um dia depois, o reitor da Universidade, Mohamed Tahar Hadjar, citado pelo portal argelino TSA, veio apoiar a decisão do segurança, argumentando que o regulamente interno “não obriga ninguém a usar o hijab ou o chador” (que são variantes do véu islâmico), mas “exige dos estudantes, rapazes ou raparigas, decência no que vestem”.
Voici mes jambes elles qui vous font si peur, les autres arrivent. Ma dignité n'est pas dans la longueur de ma jupe, pic.twitter.com/3c2s0poAIl
— Djama Sofia (@SofiaDjama) May 23, 2015
A indignação veio depois, e veio por meio das redes sociais – que também já tinham sido importantes na organização de protestos sociais por melhores condições de vida entre 2010 e 2012. A realizadora argelina, conhecida feminista e ativista dos direitos humanos no país, Sofia Djama, resolveu criar, em solidariedade para com a estudante, a página “Ma dignité n’est pas dans la longueur de ma jupe”. Ou seja, a minha dignidade não está no comprimento da minha saia. “Queria que este se tornasse num lugar de apoio à jovem. Ele disse que pretendia denunciar o que se passou, e eu quis que ela soubesse que homens e mulheres, crentes e agnósticos, todos estão do lado dela, que não se encontra só, pois sei que tal a irá encorajar.”, revelou Sofia ao Figaro.
O problema é que a página, que até alcançou os 15 mil seguidores em poucos dias e tornou-se num mural de muitas pernas de argelinos e argelinas, foi tomado de assalto por piratas informáticos, que adulteraram os conteúdos, eliminaram outros, e hastearam (ainda que digitalmente) a bandeira do Estados Islâmico. “Eu não sou uma ciberactivista. E tanto não sou, que nem fui capaz de proteger a minha própria página. Já denunciei ao Facebook o que se passou, enviei-lhes mesmo capturas para que saibam que foram partilhadas bandeiras do ISIS, mas dizem-me que não há problema nenhum. Ao que parece, isto não lhes interessa”, lamenta a realizadora argelina.
En France jupe trop longue, en Algérie jupe trop courte. Les mecs, foutez-nous la paix #JePorteMaJupeCommeJeVeux https://t.co/4jbeb0LTYk
— Huê Trinh Nguyên (@htnsalam) May 25, 2015
Este episódio da saia demasiado curta na Argélia surge semanas depois de um outro, sucedido em França, e no qual uma estudante muçulmana foi impedida de assistir a uma aula por utilizar uma saia demasiado longa. Na altura tornou-se viral no Twitter, sobretudo em França, a hashtag #JePorteMaJupeCommeJeVeux, ou seja, eu levo a minha saia como quero. “Eu não creio que seja uma questão religiosa. É uma questão de liberdade. Uma violação dos direito das mulheres. É uma tentativa de posse do corpo e do espírito alheio”, afirmou Sofia Djama.