As taxas de juro associadas à dívida pública portuguesa a 10 anos tocaram esta terça-feira o valor mais elevado do ano, nos 2,87%. Trata-se, em parte, de uma reação ao facto de a inflação na zona euro ter voltado a terreno positivo – reduzindo as apostas de que o BCE irá avançar com (ainda) mais estímulos. Mas as taxas de juro têm vindo a subir, sobretudo, desde meados de abril, à medida que se agrava a incerteza em torno da Grécia. Seria naif dizer que não há contágio, diz um investidor.

Tem sido limitado o fenómeno de “contágio” da incerteza grega, em parte porque os analistas continuam a ver como mais provável que acabe por haver um acordo com Atenas. A maior “robustez” dos mercados financeiros em comparação com o pico das tensões, em 2012, tem sido, aliás, utilizada como argumento pelos líderes europeus para aumentar a pressão sobre Atenas. Mas “é um pouco naif achar que desenvolvimentos negativos na Grécia não teriam impacto na dívida dos outros países da periferia“, diz um gestor de fundos da BlueBay Asset Management, citado pela Bloomberg.

A BlueBay, um fundo de cobertura de risco (hedge fund) de Londres, reduziu a exposição à dívida dos países da periferia, como Portugal, Irlanda, Espanha e Itália a partir de meados de maio. Terá, portanto, sido um dos vários investidores que contribuíram para a recente tendência de agravamento dos juros.

Juros nos níveis mais elevados do ano

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O grande receio de investidores como a Bluebay é que a Grécia falhe com o pagamento da dívida pública. “Um não pagamento por parte da Grécia levaria a especulação de que o país poderia sair da zona euro”, diz Mark Dowding, um dos gestores de carteiras do hedge fund. Uma saída da Grécia da zona euro “significaria que o risco de que outros também saiam já não pode ser considerado negligenciável“.

Uma alternativa para analisar o agravamento recente do risco da dívida portuguesa é olhar para a diferença face aos juros da Alemanha. Aqui, os juros não estão nos valores mais elevados do ano mas a distância não é grande.

Diferença face à dívida alemã alarga-se

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Além da subida dos juros, a dívida portuguesa está, também, a ser prejudicada pela crise grega na perspetiva em que está a reduzir a liquidez do mercado. Isto é, estão a ser feitos menos negócios de compra e venda, o que é uma má notícia tendo em conta a importância que tem para os fundos de investimento a facilidade com que estes acreditam que conseguem entrar ou sair de um determinado investimento com rapidez.