Se é um leitor interessado em tecnologia e futebol, já terá visto imagens de robôs a jogar à bola num pequeno campo sintético. Pode parecer, mas não é uma brincadeira de miúdos, embora seja uma atração que populariza os estudos em ciência computacional. A história do RoboCup está intimamente relacionada com o percurso profissional da portuguesa Manuela Veloso, investigadora e professora na Universidade de Carnegie Mellon (EUA).

A área de trabalho da investigadora é extensa e tem já duas décadas, mas pode resumir-se na construção e desenvolvimento de robôs autónomos com capacidade de percepção e capazes de planear, executar e aprender tarefas. Manuela Veloso considera que diferentes máquinas, com capacidades distintas, são capazes de encontrar e funcionar em sinergia, ou seja, que a soma das partes pode resultar numa soma “inteligente”.

A ilustração destes conceitos é então posta em ação no exercício conhecido por “robot soccer” (um jogo de futebol com equipas de pequenos robôs) e no campeonato anual RoboCup, co-fundado por Manuela Veloso e que teve a primeira edição em 1997, no Japão. Neste evento reúnem-se centenas de equipas de todo o mundo, constituídas por milhares de estudantes e investigadores de todas as idades. Mais que um jogo de futebol entre máquinas, é uma montra anual onde são apresentados (e testados) os avanços tecnológicos nas áreas da robótica e inteligência artificial, um caminho que evolui de ano para ano. O objetivo tecnológico e de longo prazo é arrojado: construir uma equipa de robôs capaz de vencer uma equipa humana em 2050.

Mas o trabalho de Manuela Veloso tem hoje um alcance muito para além de construir máquinas para jogar à bola (com tudo o que de fascinante isso implica). Foi no RoboCup que começou, mas hoje a equipa que lidera desenvolve o conceito CoBot (abreviatura de Collaborative Robot), máquinas capazes de desempenhar tarefas do quotidiano, como por exemplo, transportar um objeto de um lado para o outro. Isto pode parecer “pouco”, mas estes robôs têm uma particularidade interessante: são capazes de pedir ajuda quando necessitam de ultrapassar um obstáculo (abrir uma porta ou andar de elevador) ou completar uma tarefa. Neste vídeo pode ver um protótipo em funcionamento:

É aqui que é introduzido um novo princípio: a “autonomia simbiótica”. Como refere numa entrevista à revista Wired, Manuela Veloso entende que “para integrar os robôs no nosso quotidiano, eles precisam de uma relação simbiótica com os humanos e de ser capazes de pedir ajuda de forma pro-activa.” Esta revolução de princípio valeu à equipa da investigadora vários prémios e sobretudo, o reconhecimento internacional. Manuela Veloso é a oradora convidada para a abertura da conferência Admirável Mundo Novo, que se realiza esta sexta-feira na Casa da Música, no Porto.

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