A discussão sobre alianças com o PS está a ser dura à esquerda. As declarações do ex-comunista Carlos Brito desencadearam críticas de Vítor Dias, um ex-dirigente que se manteve no PCP e que acusa o ex-camarada de partido de ter “um final de carreira política que mete dó” e de “deturpar indecentemente” afirmações de Jerónimo de Sousa . E o que é que disse Carlos Brito, ex-dirigente do PCP, ex-diretor do Avante!, ex-líder parlamentar e antigo responsável pelo PCP-Lisboa quando se deu o golpe do 25 de abril?

Em declarações à Lusa, a propósito dos dez anos sobre a morte de Álvaro Cunhal (que se assinalam este sábado), Brito afirmou que o PCP tem “medo de ser levado” pelo PS e lamentou que o partido tenha herdado o lado mais “fechado” e “autoritário” do antigo líder histórico e não a sua “ginástica política” e a “capacidade dialética” de analisar as situações com coragem.

“Quando o Jerónimo de Sousa diz – mas estar num Governo PS para quê? Eu digo – é tão simples como isto: para acabar com a austeridade”, afirmou Carlos Brito, citando uma frase do atual líder do PCP em entrevista ao Observador e elogiando o LIVRE/Tempo de Avançar por aquele partido entender que “é decisivo” dialogar com o PS e fazer com os socialistas “os entendimentos que forem possíveis”.

No Facebook, Vítor Dias acusa Carlos Brito de “deturpar indecentemente” a afirmação que atribui a Jerónimo de Sousa. “Com efeito, na boca do secretário-geral do PCP perguntar ‘mas estar num governo com o PS para quê?’ não quer dizer que não serve para nada, antes é uma forma de sublinhar que a questão prévia e central é a política a realizar”, diz, lembrando os textos que o ex-comunista escreveu no Avante! “onde frequentemente se atirava ao PS como gato a bofe”.

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A 22 de maio de 1997, escreveu no “Avante!” que o então primeiro-ministro, António Guterres, era “o principal inspirador e responsável por um tal plano de privatizações que ultrapassa o do anterior governo do PSD” e que “a política governamental em curso não merece nem perdão nem desculpas, mas oposição firme e decidido combate. Só desta forma se podem limitar e reduzir os seus estragos e criar condições para uma verdadeira alternativa”.

“Tenho a sincera esperança que Carlos Brito não vá ao ponto de dizer que tudo o que ao longo de muitos e muitos anos escreveu sobre o PS lhe era imposto e ditado ao ouvido pelos ortodoxos”, remata Vítor Dias.

Contactado pelo Observador, Carlos Brito diz que, ao longo da sua vida, foi “sempre coerente” a defender entendimentos, recordando o acordo que o PCP fez com o PS para a Câmara de Lisboa nos anos 80 e o apoio que o PCP deu ao candidato presidencial Mário Soares.

No PCP, Carlos Brito passou de homem de confiança de Cunhal a renovador e foi, por isso, suspenso do partido, por dez meses, em 2002. Terminado o prazo da suspensão, o dirigente histórico optou, em 2003, pela auto-suspensão, sendo agora presidente do conselho nacional da Associação Renovação Comunista.